Deu nos jornais: um asteroide atinge a terra amanhã. Há controvérsias – assim como explicações matemáticas e científicas de que nenhum abalo ocorrerá. Mas deu nos jornais. E nos canais de notícias. A minha vizinha até gritou para o marido: “Não era amanhã que a conta vencia?” e ele respondeu do outro lado: “Vixe!”. Na igreja que a minha mãe frequenta começaram as orações, mas foi preciso chegar cedo porque em poucos minutos já havia lotação. No último domingo meus avós me repreenderam pela ausência: pior que a dívida na terra é a dívida no céu. Fui embora em silêncio. Na faculdade alguns amigos fizeram piada com a novidade, e os professores não marcaram nada em seguida, enquanto outros se preocupavam com a formação que não ocorreria: oh asteroidezinho desgraçado. Minha tia resolveu ir ao médico hoje – uma notícia grave doerá menos no último dia. Disse que no ônibus algumas pessoas riam: “é o fim do mundo todo dia da semana” alguém grita. Cada um escolhe de que jeito irá passar pela grande dor: o durante a colisão ou o que fica depois. Nas revistas aproveitaram o ensejo para ditar moda, “vejam os looks para deslumbrar no último dia do ano”, enquanto uma mulher corria para o fim do livro: melhor descobrir o que acontece logo. Vai que. Algumas pessoas aproveitaram o último momento para fazer revelações. Alguns namoros começaram e outros se diluíram. As fotos da festinha ficaram ótimas, mas olha quem está ali te traindo. Resolveram pedir perdão. O ser humano pode ser incrível quando nunca mais. E daqui desse lado eu acompanho todos os fluxos enquanto imagino se você com o seu ceticismo inconsolável pensou em algum momento ligar para mim. Só para dizer que não acredita em nada disso, mas que vai ficar tudo bem. Só para dizer que está tudo bem. Só para dizer que foi bom me conhecer. E fim.
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Com amor, Catarina.
Poetryesse livro é uma dedicatória a todos que já lutaram por algo ou alguém em que acreditam.