Ever Since London

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O ensino médio normalmente nos traz algumas coisas. Você pode descobrir o que quer fazer pelo resto da vida. Pode ficar depressivo. Pode ter os melhores anos da sua vida, ou os piores. Pode descobrir sua sexualidade.

Esses três anos da minha vida me trouxeram um pouco de todas essas coisas. A melhor delas foi Harry.

Harry foi a primeira pessoa que falou comigo, que me entendeu, que era como eu. Foi a primeira pessoa a olhar pra mim e dizer: "Você sabe que eu nunca vou te julgar por ser quem é, não sabe? Não precisa fingir ser outra pessoa quando estiver comigo" e isso foi tão importante pra mim.

Harry também foi uma das primeiras pessoas a saber como funcionava minha relação com meus pais. Eles eram frequentadores assíduos da igreja católica, ainda viviam num modo muito antigo. Eu, mal acreditava em Deus, mas precisa fazer toda aquela cena para não ter dor de cabeça ou quem sabe não ser expulsa de casa.

Um dia, logo no começo da nossa amizade, Harry veio jantar na minha casa. Durante o jantar, meu pai perguntou a ele quais eram suas intenções comigo. Depois de dar uma alta risada, Harry disse que era gay e aquele silêncio constrangedor caiu por alguns segundos. Harry então olhou para o meu pai e disse: "Todos nós somos um pouco gays, não é mesmo?" e depois enfiou um grande pedaço de carne na boca.

Estranhamente, meus pais não passaram a odiar o Harry depois daquilo, acho que talvez por não terem que se preocupar comigo se relacionando com um homem, pois eles acreditavam não ser a idade certa. Eles não levavam o fato de Harry ser gay como algo ruim, até porque Harry tinha tantas outras qualidades que não davam espaço para algo como sua sexualidade ser relevante, e nem tratavam ele mal mesmo não concordando, o problema é que com os filhos é diferente, sempre é diferente.

Eu sabia que eles não reagiriam bem se eu me assumisse. A vontade de sair de Minnesota sempre foi muito grande em mim, desde pequena eu queria ter minha independência e fugir das amarras e regras sem sentido que meus pais empunham.

Então eu passei a estudar como uma condenada durante ensino médio, tudo passar na Birmingham City University, a renomada faculdade de Londres. Harry, por ser um ano mais velho, já estudava lá. Termos o mesmo sonho contribuiu muito para o nosso apoio durante o ensino médio.

— Sim, dona Clara. — A voz de Harry se fez audível passando pelo auto-falante do meu celular.

— E você tem certeza que é seguro, Harry? — Minha mãe perguntou pela milésima vez.

— Tenho sim, olha, Lauren vai morar comigo e com mais uma amiga, ela é um pouco mais velha e é super responsável.

— Tem certeza? Porque eu não quero saber de festas, drogas e promiscuidade no local onde minha filha irá morar. — Revirei aos olhos ao ouvir a frase da minha mãe, eu quero essas coisas no lugar onde eu vou morar, mãe! — Como se chama essa garota? O que ela cursa?

— O nome dela é Camila, senhora. Ela já terminou a faculdade. Ela precisava de ajuda com o aluguel então alugou alguns quartos da sua casa, eu deixei avisado que Lauren viria quando me mudei, ela está de acordo.

— Você pode me passar o contato dessa moça depois?

— Mãe! — Chamei sua atenção, era só o que me faltava.

— O quê? Eu quero dar instruções a ela!

— Certo, dona Clara. Eu te mando mais tarde, pode ser? Poderia passar o telefone para a Lauren? Quero explica sobre a faculdade.

— Claro, Harry! Obrigada, viu? Fica com deus.

Peguei o celular da mão da minha mãe e subi as escadas, quando entrei no meu quarto e fechei a porta comecei a falar.

— E aí, sua poc!

— Aí, Laur, eu amo sua família mas haja paciência...

— Eu não vejo a hora de ir embora, Hazz. Como está a faculdade?

— Está ótima, você vai amar esse lugar, eu vou te apresentar para todos os meus amigos.

— Olha... — Andei até a cama deitando de bruços. — Você tem certeza que a sua amiga está de acordo? Você sabe, com mais uma pessoa morando junto.

—Relaxa, Laur! A Camila é super de boa, ela é um pouco temperamental às vezes, mas você vai amar ela! Ela é artista, sabia? Ela pinta quadros. Ela disse que vai me pintar pelado ainda.

— Urgh, Harry, que nojo!

— Nojo de quê, garota? Eu vou pendurar na cabeceira da minha cama. Quem sabe ela não pinta você nua também?

— Eu não vou ficar pelada na frente dela, Harry!

— Hm, é, ta bom.

— Tem alguma coisa que eu perdi? — Perguntei arqueando a sobrancelha.

— Não...

— Harry?

— É que eu acho que você vai pirar quando ver ela, ela é linda, tem um cabelão castanho e uma bunda que nossa!

— Você ta de olho na sua colega de quarto, Harry?!

— Não, garota! Ta amarrado, o posto de sapatão é seu, amor. — Ri alto com a sua reação.

— Certo, Harry. Eu tenho arrumar minhas malas e comprar as passagens ainda, te vejo em uma semana.

— Okay, Laur. Ah, já ia me esquecendo!

— O que foi?

— Deus não se agrada de comportamentos pecaminosos, isso inclui olhar para as universitárias, okay?

— Vai se foder, Harry!

Ri e desliguei o telefone.

Era isso, eu iria para Londres.

~•~

@kccenn