Samara, Rússia
Ana Júlia Romeiro
Eu acho que abracei Casemiro umas 210 vezes. Eu perdi as contas.
Ela havia vencido. Jade conseguiu virar o mundo contra mim. No maldito vídeo, mostrava apenas uma parte de tudo que ocorreu hoje de manhã. As notícias começaram a sair por volta das três da tarde aqui. Tive que desativar minhas redes sociais. Desliguei o celular e só deixei Casemiro entrar no quarto depois que eu vi que tudo iria piorar.
- Ana, você precisa comer - Casemiro disse ainda comigo perto dele. Estávamos abraçados sem falar nada por um bom tempo.
- Eu não quero.
- Você e Gabriel precisam falar sobre isso - Casemiro disse. Pela sétima vez. E pela sétima vez, não respondi.
Eles haviam chegado na hora do almoço aqui em Samara. Chegamos um pouco depois, perto da hora onde tudo desandou. Isabelle estava com Coutinho, tentando descobrir quem havia soltado o vídeo. O resto eu não sei. Apenas sabia que amanhã era o jogo dos meninos contra o México. E eu não estava nem um pouco afim de ir.
Eu precisava fazer algo. Precisava me defender. A assessoria da empresa onde trabalho, THM, me ligou e contei tudo o que aconteceu para Angela, a diretora e fundadora da marca. Eles recomendaram que eu não contasse tudo, mas me defendesse e dizer que eu não estava com Gabriel, pois eles dariam um jeito.
Um jeito.
Que jeito?
Não tem um jeito de demontrar todo o meu ódio por Jade Magalhães.
Mas uma coisa eles tinham razão. Essa não era a melhor hora de chegar no Instagram e dizer, "olha, eu to dando uns pegas sério no Gabriel Jesus mesmo, só confirmando". Eu não iria fazer isso, por mais que meu coração grita por ele. Eu estava completamente apaixonada pelo Gabriel, mas eu preciso fazer isso. Pelo menos, as pessoas vão parar de atacar ele, parar de falar dele. Se ele estiver bem, eu também vou estar bem.
- Eu preciso fazer isso - Falei, me sentando na cama e limpando as lágrimas com a manga do moletom. - Eu sei que não vai adiantar muita coisa, mas eu preciso fazer Casemiro.
- Você sabe que eu tô com você até o fim - Casemiro disse me dando um dos seus melhores sorrisos.
Pegamos uma cadeira, colocamos meus travesseiros e uma almofada como apoio para o celular. Apertei o botão. Estava gravando.
- Oi - Sorrio sem mostrar os dentes. - Vocês devem saber quem eu sou. Ainda mais com tudo isso. E eu não vim pedir desculpas. - Dou uma pausa. - E nem vou. Eu não sei como eu vou provar isso, mas não fui pra cima dela a toa. Ela desrespeitou meus pais, e isso ninguém faz. Eu perdi a cabeça na hora, mas por sorte, ela não teve ferimentos. - Suspiro e olho para Casemiro, que afirma com a cabeça, mandando eu continuar. - Sobre eu e o Gabriel. É, o que todo mundo anda me perguntando. Não. Essa é a resposta - Nesse momento, algo em mim apertou, apenas pensando em como seria minha vida daqui pra frente se fosse sem ele comigo. - Não estamos juntos. Ele é o meu amigo e não se passou disso. Parem de atacar ele. Ele não tem nada a ver com isso. Se quiser xingar alguém por puro prazer, faz isso comigo, não com ele. Não temos nada. - Dei uma pausa. - Obrigada por me ouvirem e para aqueles que estão comigo. Eu desativei minhas redes sociais mas sei quem está me dando apoio. É isso.
Casemiro apertou o botão. Parou. Vi e revi o vídeo todo, claramente, todos vão ver o quão meu rosto está inchado e o quão vermelhos estão meus olhos e nariz. No final do vídeo, quase chorei, mas falariam que eu estava me vitimizando. Depois de repensar muito, mandei o vídeo para Angela, que me agradeceu. Logo, Casemiro me mostrou que ela havia postado.
O celular de Casemiro tocou depois de minutos.
Eu li na tela antes dele pegar. Gabriel Jesus.
Ele olhou pra mim, e eu soube. Não sei como, mas soube que Gabriel estava aqui. Não falei nada e sai do meu quarto de hotel, indo para o terraço, lugar que Casemiro disse antes que eu pudesse me afastar o suficiente dele.
Subi no elevador, apertei o botão e começou a subir.
Eu estava nervosa. Meu coração não parava de bater rápido, parecia que iria sair pela boca.
A porta se abriu. Ele estava sentado em uma cadeira perto do cercado de vidro, que deixava a cidade de Samara a vista.
Estava chovendo. Ele estava ensopado e eu estava começando a ficar.
Me aproximei e recebi um olhar de Gabriel. Ele não estava feliz.
- Ele é meu amigo. Não se passou disso - Gabriel diz, como eu digo no vídeo. - Eu só fui uma diversão pra você? Todo esse tempo?
- Gabriel, por favor, não faz isso - Peço e ele cruza os braços. - Você queria que eu anunciasse que eu estou ficando sério com um jogador no meio dessa confusão?
- Não precisava dizer aquilo. Não precisava do vídeo, Ana Júlia - Ele dizia nervoso.
- Precisava, sabe porque precisava? - Levo minhas duas mãos e coloco em seu rosto, fazendo ele me olhar. - Porque as pessoas estavam te atacando também! Gabriel, você tem muito mais a perder do que eu! Contanto que você esteja fora dessa confusão, eu vou estar bem.
- Mas você parou pra pensar em você? Em como eu estou completamente puto com cada pessoa que disse coisas horríveis de você! - Gabriel disse pegando minhas mãos e segurando. - Eu gostaria de matar cada um, pelos xingamentos, pelo preconceito. Se você não está bem, eu também não estou! - Disse soltando minhas mãos. - Você pensou apenas em você, Ana Júlia.
- Apenas em mim? Você me ouviu? Ouviu pelo menos alguma palavra do que eu disse?
- Você pode ter feito isso pensando em mim. Mas me destruiu por dentro.
- Gabriel, por favor, vamos conversar amanhã, nós estamo-
- Eu quero acabar com tudo que começamos - Ele disse e foi como um tiro em meu coração. Parei de falar na hora. Senti minhas pernas vacilarem. - Bom, o que eu pelo menos pensei que tínhamos.
- Gabriel, não faz isso - Peço e tento me aproximar, mas ele se afasta.
- Você disse com tanta convicção, Ana Júlia. Você nem tem idéia de como isso me matou.
- Eu não falei! Pelo amor de Deus Gabriel, você não tá pensando! - Eu começava a me desesperar.
- Até amanhã, estilista - Não consegui me mover. Ele veio até mim e beijou minha cabeça, indo embora.
Fiquei em pé na chuva por quatro minutos. Duzentos e quarenta segundos. Ele havia terminado comigo. Caminhei até o elevador e o chamei. Peguei meu celular, ele ainda estava inteiro. Pelo menos a apple cumpriu o que disse. Liguei para o meu terceiro número de emergência. Ele atenteu depois de dois toques.
- Ana? Aconteceu algo? O que o Gabriel disse? - Casemiro disparava perguntas. - Tô aqui esperando o elevador mas ele não chega.
- Aconteceu, Casemiro - Digo e minha voz de choro era evidente. Minhas lágrimas misturavam com a água da chuva que escorria pelo meu rosto.
- Você está chorando. O que ele disse?
- A gente terminou. Tudo, Casemiro. Eu perdi o amor da minha vida - O elevador se abriu, e eu me dei de cara com ele. - Eu deixei ele ir.
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Connection | G. Jesus
FanfictionAna Júlia era o tipo de garota que adorava experiências novas, lugares novos e amizades novas. O tipo de garota que fascinou Gabriel Jesus no primeiro dia das olimpíadas, assim que a viu. E agora com a Copa do Mundo, ele fará o possível e o impossív...