- Desculpa por hoje, de verdade.
Por aquela primeira impressão, eu não achei que essa fosse ser a primeira palavra que eu ouviria de Diego. Na verdade eu não achei que fosse ouvir a voz dele em algum momento.Entro no carro pelo banco de trás e não o respondo. Apenas digo um oi que é direcionado à Ari e não a ele, mas que não especifica bem isso.
- Oi, seu fofo.
Ela diz sorrindo e forçando uma voz fininha de efeito cômico.
- Oi.
Ele responde sem saber que eu não estava falando com ele, e continua seu pedido de desculpas.- Eu não queria ser mal-educado. Sério mesmo. É só que eu não tive o melhor dos meus dias hoje.
- Eu tenho muita raiva de quando tu esconde as coisas que tá sentindo de literalmente todo mundo. E quando não é de todo mundo só conta pro Alex, e faz ele prometer não contar pra mais ninguém.
Diz Ari abandonando seu tom cômico de antes e falando mais sério do que eu achava que a veria falando hoje. Ou em qualquer dia. Nem quando ela mostrou o dedo do meio ao irmão ela tinha uma expressão tão brava.
Eu acho que eu tenho que parar de analisar as pessoas unidimensionalmente a partir apenas do momento em que eu as conheço. Não faz muito sentido.
Ela continua.
- Que tipo de idiota não confia na própria irmã?
- Não é essa a questão, Ariel. Tu é muito mais próxima do pai e da mãe do que de mim. Pra ser sincero mesmo, eu tenho quase certeza que se eu te contasse as minhas coisas tu contaria pra eles. O menino tá ficando desconfortável, será que dá pra a gente parar de ficar brigando na frente dele?
Ariel olha para o banco de trás e percebe minha cara de quem não sabe o que fazer naquela situação, e sua expressão de brava desaparece. Ela me dá um sorriso leve e sincero.
- Desculpa por te fazer ver essa briga idiota.
- Tudo bem.
Digo com um sorriso não completamente falso, e nem completamente sincero.
Não está tudo bem(na verdade eu acho que em nenhuma vez que alguém fala que está tudo bem, realmente está), mas eu não quero demonstrar isso, porque eu não quero que Ari se sinta mal. Ela é a melhor possibilidade de amizade sincera que eu conheci aqui, e além do mais, eu também ficaria muito bravo se alguém com quem me importo escondesse coisas de mim.
Eu e Ariel decidimos passar o resto do caminho conversando, enquanto Diego dirige em silêncio, até que ele decide ligar o som do carro.
E então "Octopus's Garden" dos Beatles começa a tocar.
- Você gosta dos Beatles?
Pergunto em completa surpresa.- Claro.
Diz como se eu tivesse feito a pergunta mais idiota e óbvia do mundo.- Inclusive eles vão tocar pelo menos umas três músicas dos Beatles hoje de tão aficcionadinhos.
Ariel diz risonha demonstrando que já está menos zangada com o irmão.- O seu irmão tá na banda?
- Sim.
Diego responde sozinho antes que Ari tente dizer algo.- Você toca o quê?
- Eu sou o vocalista.
Eu faço uma expressão de pura perplexidade.- Eu não te imaginei cantando.
- Por que não? Existe cara pra cantor agora?
Diz o garoto, logo antes do primeiro sorriso que vejo dele.
E é um sorriso bem bonito inclusive, não vou negar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Azul de quase noite
Teen FictionLucas se vê do dia para a noite em um grande recomeço em todas as áreas de sua vida. Nova cidade, nova escola, novos amigos, e dois penetrantes olhos azuis, que fazem com que seu coração bata mais rápido e mais forte.