Capítulo 12 - Obrigado por estar

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Eu abro os olhos. Já é sexta-feira. Já fazem quatro dias da festa, do piquenique, do beijo, e da citação da Sandy que a minha mãe fez.

Eu levanto da cama, vou até o banheiro, tomo um banho, e então escovo os dentes enquanto olho pra o espelho. Vejo o meu cabelo liso pra cima, e percebo que ele aparenta não ter sido cortado por meses. E realmente não foi. Os meu olhos são a minha parte preferida do meu rosto. Quando eu quero ver alguma coisa bonita em mim, só preciso olhar pra eles no espelho. Eles são castanhos, e bem claros. Me lembro que não conheço suas origens. Conhecer meus pais biológicos nunca foi uma necessidade pra mim, e eu nem acho que vá vir a ser. Eu não tenho vontade nenhuma de conhecer pessoas que me abandonaram, quando eu tenho a pessoa que me criou, e sempre se importou comigo, bem aqui em casa.

* * *

Entro na escola,e procuro meus amigos na multidão dos corredores, felizmente(ou infelizmente, pela multidāo diária), o meu único atraso foi no primeiro dia. Não os encontro, então vou direto à sala de aula.

No final do dia, ao sair da escola, encontro Alex perto da porta da frente, em um dos banquinhos que ficam lá. Ele está aparentemente triste.

- Oi, anjinho, tá tudo bem? Eu não te vi o dia inteiro.
- Sim... Quer dizer... mais ou menos. E desculpa o sumiço, é que eu almocei na sala mesmo hoje. Mas eu ia te mandar mensagem quando as coisas melhorassem, e...
- Ei, é sério, pode falar comigo sobre qualquer coisa. - Olho nos olhos dele e ele olha de volta. - Espera. Onde tão o Di e a Ari?
- É sobre isso. A avó deles tá no hospital. Ela tá bem velhinha e fraca, e tem um câncer de pulmão.
- Nossa, que horrível. Será que eles tão bem?
- Não sei. Eu queria estar lá, sabe. Porque a dona Anastácia sempre foi como uma avó pra mim também. Mas eles só deram permissão pra o Di e pra a Ari entrarem, porque eles são familiares.
Ele chora.
- Ei, calma, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.
Eu o abraço o mais apertado que consigo. E ele abraça de volta.

- Calma aí.
Diz uma voz que eu nunca havia ouvido antes. A voz continua a falar.
- Quer dizer que a senhorita quis virar homem pra ser viado? Isso num tem nem lógica.

Alex abre os olhos, e começa a chorar instantaneamente ao perceber quem está falando. Ele se levanta, segura minha mão, e nos leva pra longe.

- O que tá acontecendo, Alex?
Ele só deita a cabeça nos meus ombros, mesmo estando em pé, e começa a chorar.
- Tudo bem. Tudo bem. Me fala quando melhorar.
Ficamos uns 50 segundos assim, até que...

- Aquele é o meu irmão.
Eu me espanto.
- Que tipo de irmão faria...
- Sim. Ele acabou de sair do reformatório. Ele sempre foi desse jeito, e quando o meu pai descobriu que ele tava se envolvendo com uma galera meio barra pesada, ele não viu outra opção, e... Desde que ele voltou, eu tô fazendo de tudo pra ficar o menor tempo possível em casa. E aí ele aparece na porta da escola...
Ele fala tudo isso enquanto ainda está chorando.
- Alex, eu não sei nem o que dizer.
- Só o fato de você estar aqui me ouvindo, diz muito.
Ele me abraça, e continua.
- Obrigado por estar.

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⏰ Última atualização: Jan 15, 2020 ⏰

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