A viagem

୭.°

A vida não é fácil para ninguém, mas parece que alguns nasceram agora sofrer ou enfrentar só tragédia, uma atrás da outra. E não é aquela estória superadora que depois de muitas tristezas encontrei a a felicidade e blá blá blá, não, está não é minha estória e muito menos de outras pessoas. Quando a gente perde alguém que é muito importante só existe raiva, solidão e dor, muita dor.

Eu percebi que não tem como eu ser aquelas pessoas que superam a tempestade e se tornam felizes no final. Porque isso não funciona para mim, tentar seguir em frente e recomeçar é algo impossível. Não vai condizer com a minha realidade, já tentei, já insisti em fazer isso dá certo, porém minha sina é sofrer pela perda de alguém importante.

Meus pais só os tive até os seis anos, mas mesmo assim foi doloroso saber que não os veria mais no café da manhã. Contudo, havia o meu irmão, ele que me fez seguir em frente e recomeçar uma nova vida. Era eu e ele contra o mundo, e isso durou por uns nove anos até aquela viagem do trabalho que causou o seu falecimento. Aquele maldito caminhão que entrou na pista contrária e amassou o carro do meu irmão, deixando-o preso no banco do motorista com a capota toda amassada pressionando suas pernas.

Até aquele momento, os bombeiros achavam que era só isso, então eles iriam abrir o carro para tirá-lo lá de dentro. Os profissionais foram precisos e cuidadosos, mas a única coisa que eles não imaginavam era uma das engrenagens haviam perfurado sua cintura fazendo com que sangrasse até a morte. Ele não teve salvação, não pode completar seus 30 anos, me ver formado no ensino médio e entrar em uma faculdade.

Já o cara que lhe causou a morte, está bem e nem preso foi. O mundo é injusto com aqueles que fazem o bem e Deus é o que mais vê tudo que acontece ao seu redor e não faz porra nenhuma, ele nem sequer ajuda os necessitados.  

Saber que meu irmão nunca mais voltaria para casa foi a pior coisa no mundo, ele sempre esteve ali dando-me apoio e incentivando a ser melhor. Eu não teria mais isso quando voltasse para casa, e isso dói de maneira tão intensa que acabar com a minha vida era tão fácil. Talvez assim pudesse estar ao lado dele e do meus pais, mas Blanca não deixou, pelo contrário, ele permaneceu ao meu lado com o seu jeito atrapalhado e nem um pouco sentimental tentando melhorar as coisas.

Por mais que não demostre muito isso, sinto-me grato pela paciência e dedicação dele. Como também foi de extrema importância a existência do meu melhor amigo Shorter. Um rapaz extrovertido, engraçado, gentil e ótimo conselheiro, ele foi alguém que esteve ali em todo os minutos, mas recaídas que tinha ao me isolar no meu quarto de tudo e todos.

Shorter me trouxe a vida novamente, ele conseguiu fazer com que eu voltasse a tentar a seguir em frente e recomeçar uma vida ao lado dele e Blanca. Aos poucos voltava para o Colégio para terminar o ensino médio e orgulhar meu falecido irmão. Foi ali que percebi o quanto a minha amizade com Shorter era verdadeira e única, tanto que posso ter a confundido por algo a mais e deixado que um romance surgisse.

Não me arrependo disso. Pelo contrário, me sinto honrado de ter amado uma pessoa tão fantástica como o Shorter, ainda o amo e sempre irei ama-lo, por mais que agora eu saiba que é um amor fraternal. Sempre foi. Shorter conseguiu uma parte da minha dor com sua doce e animada presença, mas fez um estrago pior quando partiu.

Quando ele decidiu me deixar, sei que pode parecer egoísta quando falo isso, mas só algumas essas conseguiriam entender que ele não deveria em momento nenhum ter ajudado os donos da lojinha de conveniência a evitar o assalto. Aquele chinês estúpido deveria saber que não devia por sua vida acima da dos outros, todavia, estamos falando de Shorter Wong, a pessoa mais honesta e altruísta que existe.

O chinês não deixaria que aquele casal de idosos fossem assaltados e ajudou a distrair os assaltantes com um taco de beisebol, deu certo por um tempo. Contudo, pessoas são ruins e traiçoeiras; poucas possuem um bom coração e deseja o bem ao próximo. Estas não eram os indivíduos que causou o assalto, pelo contrário eram tão ruins que não sentiram remorso em acertar três tiros no peito daquele jovem rapaz de dezenove anos.