2 - Então, Sozinho

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Eu me sentia estranho. Estava em outro corpo… eu estava… no corpo do LordFerris. Sentia a força dele, resistência, agilidade, mais adrenalina que o normal. Fora isso, surgi em um lugar diferente. Era em uma floresta fechada, ou seja, estava praticamente perdido. Para a minha sorte, sabia quais criaturas eu encontraria pela frente. Pois bem, sobre essas "criaturas", existem várias espalhadas por esse vasto mundo do Devil Rises Online. Portanto tive que tomar cuidado para não ser pego de surpresa, já que esses monstros são bastante sorrateiros e podem atacar pelas costas. Tomava cautela, observando todos os lados: direita, esquerda, frente e trás e assim sucessivamente. Poderia até ser um mundo virtual, mas naquele exato momento, eu me fundi a esse ciberespaço, portanto eu tive o dever de lutar pela minha vida, ou caso tivesse mais pessoas, foi o que pensei no momento, lutaria pelas vidas delas que estão presas no D.R.O.. Para mim, não importava a minha vida e, sim, as vidas dessas pessoas. Portanto, o meu objetivo a partir de então, era encontrar uma maneira de sair do Devil Rises. Poderia existir alguma coisa que nos trouxesse de volta ao mundo real? Eu não sabia ao certo, mas naquela hora, estava desconfiado com alguma coisa, porém não sabia o que era.

Enquanto isso, eu caminhava pelo solo úmido do jogo, dentro da floresta e, por um segundo, escutei sons de passos lentos a minha frente. Então, segui com cautela para que, o que estivesse alí, não escutasse ou sentisse minha presença. Cheguei em um lugar estratégico da floresta, onde consegui enxergar o que estava no meu caminho. Era um grupo de ogros, criaturas míticas egocêntricas, mas que protegem uns aos outros. Só entre eles mesmos. Caso vissem um ser como eu, partiriam para uma batalha até a morte contra o adversário. Mesmo sendo egocêntricos, os ogros possuem uma estratégia única para cada grupo formado, ou seja, eram bem organizados. Portanto, tomei mais cuidado e fui avançando quando, sem querer, meu pé encostou em um galho que estava caído no chão, se resumindo em um barulho. Perceberam minha presença, então, tive que correr pela minha vida e me esconder! Enquanto corria, eu me perguntava: "O que estou fazendo?", pois eu sabia que era um jogo que eu estava acostumado a jogar, ou seja, sabia todas as manhãs possíveis do game. Então, parei de correr, olhei para trás, observava a organização dos ogros. Estavam me cercando, até formarem um círculo ao meu redor. Porém eu fiquei mais tranquilo, observei novamente eles e, de repente, meu corpo começou a se mover sem o meu controle, como se meu avatar controlasse o corpo e não eu e o mesmo partiu para cima deles! Eu não tinha controle sob meu corpo, e me questionava o que estava acontecendo comigo! Eu só observava… o corpo agindo sozinho… fincando a espada no estômago de um e decepando a cabeça de outro ogro, resumindo na morte deles. O meu avatar matou treze ogros de uma vez só. E, após um segundo, eu recobrei o controle de meu corpo e me perguntava intrigado com o que tinha ocorrido. Seria um subconsciente diferente que estaria preso junto com o meu? Ou apenas uma falha na mecânica do jogo? Escolhi a segunda alternativa, porque era a mais óbvia e que eu queria pensar assim.

Começou a anoitecer na floresta e eu decidi ir a procura de uma caverna próxima para que eu pudesse me proteger da chuva e acabar sendo um abrigo temporário para mim. Eu olhava para o céu e via-o se fechando, como se um temporal estivesse se aproximando! Relampejava e trovejava, era incrível. Eu sentia os respingos da chuva em meu rosto, o frio junto com o chão que congelava meus pés. Era tão fantástico estar dentro do jogo, mas ao mesmo tempo era tão assustador ficar preso nele! Era como se um lado meu quisesse continuar naquele mundo, porém um outro lado queria sair de lá! Não sabia se era por medo, ou porque era necessário, já que esse mundo não me pertencia.

Fiquei na floresta por alguns dias sentindo fome, sede, mas o que me mantinha vivo era a minha força de vontade, força de poder sair daquela selva densa e não me importava quais monstros eu poderia encontrar em meu caminho, porque eu sabia que eu era forte e nada poderia me abalar! Bom, foi o que pensei na hora. Foram quinze dias, no jogo, que se passaram, mas a quantidade de dias que se passaram no mundo real, não fazia a mínima ideia. Não sei se também era em dias, poderia ser semanas, ou meses, se brincasse, até anos! Eu não sabia como meus pais estavam, mas sentia que eles estavam preocupados e não seria um bom sinal. Infelizmente, no mundo real, eu sou muito sozinho. Eu mal converso com meu pai e com minha mãe direito. Eu não tenho assunto para falar com eles e, quando os dois têm assuntos, eu não consigo ficar por dentro. Talvez deveria ser esse, um dos motivos para que uma parte de mim queria continuar no mundo do Devil Rises Online. Ou será que não? Isso tornou uma incógnita para mim, desde o primeiro momento em que eu entrei no D.R.O..  Bem, nesses quinze dias,  eu aprendi a caçar e não foi fácil! Eram criaturas selvagens diferentes daqueles que existem no mundo real. Eram velozes, tinham um olfato apurado e eram carnívoros. Essa parte da minha sobrevivência ajudou muito na minha velocidade e no meu senso de percepção, que ficou muito mais sensível a distância! Depois eu aprendi a pescar e foi algo que me ensinou a ter uma visão de uma águia, sendo frio e ágil! E, nesse tempo, meu corpo começou a ficar mais resistente. E foi desse jeito que eu evoluí bastante, mesmo sendo por quinze dias, esse tempinho me ensinou tanto, que eu fiquei muito mais duro na queda.

Eu ainda continuei sozinho na floresta, sem encontrar nenhuma pessoa. Não sabia se seria bom ter alguém nesse exato momento, porque eu não saberia se a pessoa poderia ser confiável ou não. Sempre quando alguém fica sozinho no início e encontra um "outro alguém", muitas vezes essa pessoa pode trapacear com você. Digo isso, porque já ocorreu comigo no mundo real. Em formação de times de futebol ou qualquer coisa que fosse em grupo, eu ficava sozinho. Uma vez, estava na sala de aula e nesse dia, formavam equipes para um trabalho que seria apresentado em um seminário e, como sempre, não fui escolhido. A Professora tinha me colocado em um grupo qualquer apenas para fazer o trabalho que valia muita nota. Eles fizeram o trabalho todo sem mim e não me avisaram, então eu não sabia praticamente de nada do assunto. Portanto, fiz tudo sozinho. Levando pro mundo do Devil Rises, eu não sou muito de entrar em "Guildas", trabalhar em conjunto ou em dupla, porque eu aprendi a sobreviver sozinho. Foi a partir daí que, meu conceito de ter alguém do lado surgiu.

D.R.O.: Devil Rises OnlineOnde histórias criam vida. Descubra agora