Doença de pobre é sempre excesso de trabalho. Você vai ao posto de saúde, passa horas na fila, para o doutor te dizer que o seu problema é trabalhar demais. "Você está muito estressada, senhora"... como se disso você não soubesse.
Acordar antes do sol, pular o horário do almoço, sentir o cheiro da fumaça do trânsito dia a dia. Brasil, um país rico onde a pobreza não está só nas nossas limitações materiais, mas também em cada dia que não desenvolvemos nenhum pensamento, um questionamento. Acorda, levanta, trabalha, volta a dormir, constantemente sem sofrer mudanças, sem esperança de ser melhor.
Então vamos aos domingos à igreja clamando por perdão. Perdão, meu Deus, por ser tão limitado, triste, marginalizado, estereotipado. Perdão porque a minha única alegria é sentar na frente da TV e me distrair com o novo barraco exibido às nove. Perdão.
Por favor, Redentor, não deixe a fumaça da cidade me matar. Não me deixe morrer antes de criar meus filhos. Por favor Senhor, me dê tempo, coragem, saúde. Saúde para trabalhar mais, para ser esse ser que as estatísticas chamam de miserável, classe D. Esse ser que mesmo sem possuir nada na vida, além de um emprego, ainda sonha. Clama pela chance de morar em um lugar onde olhando da janela a vista vai ser apenas uma paisagem do cotidiano. Não isso que vejo agora: um retrato de tudo que o meu país finge não ver e tenta esconder.
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A vida é poema
RandomOs melhores textos de seis anos do blog A vida é poema. Aviso de conteúdo: Ideação suicida, relacionamento abusivo, sugestão de violência.