Capítulo revisado.
Capítulo 1
Desempregada, e a proposta indecente.
A mulher andava de um lado para o outro, volta e meia parava e olhava o celular.
Suspirou e sentiu as lágrimas saírem dos olhos, ela ainda não tinha recebido a ligação da última entrevista de emprego que tinha ido, estava tão desesperada que qualquer coisa servia, até trabalhar como catadora reciclável, mas o inacreditável era que nem isso ela conseguia.
As coisas estavam tão feias que nem farinha de mandioca tinha no armário, sorte era que sua vizinha, dona Carmen, ajudava-a com algumas coisas como comida para dar para Vinícius, seu pequeno bebê, comer.
Era mãe solteira, tinha acabado de sair de um relacionamento abusivo com o marido, que fora seu primeiro e único namorado; descobriu-se grávida, com uma mão na frente a outra atrás. Seu marido Rodrigo não era o exemplo de homem, teve que fugir de Goiânia para não ser morta por ele. Ele não aceitou muito o fim do relacionamento que durou cinco anos.
Não tinha mais família. Era só ela no mundo. Em uma tentativa falha de sumir no mapa, acabou vindo morar no Rio. No começo, tinha o dinheiro do seguro-desemprego. Pagava um aluguel em Ramos, mas, com o tempo, o emprego não veio, e ela foi obrigada a se mudar para um lugar mais em conta. Então se mudou para o Morro do Alemão, que ficava bem perto dali.
Seu filho nasceu e as dívidas só foram aumentando. Não arranjou emprego em lugar nenhum. De vez em quando, encontrava uma faxina para fazer em algum lugar no Rio.
O aluguel já estava quatro meses atrasado. Dodô, o dono do Morro, já havia dado o recado que buscaria o dinheiro do aluguel. O problema era que ela nem ao menos tinha para comer.
Estava perdida, sua vida estava tão na merda que quase cometeu suicídio. A única coisa que a impedia de fazê-lo era Vinícius, seu filho de apenas quatro anos.
Alexandra se sentou no pequeno sofá, passou as mãos no rosto secando as lágrimas. Ela não sabia mais o que fazer.
Estava naquele difícil dilema: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
Seu coração acelerou quando ouviu a porta ser aberta bruscamente e por ela passar quatro homens entre ele Dodô — ou Douglas para os mais próximos, já que isso ela não era. — O homem tinha basicamente um metro e noventa, era magrinho, e a pele escura era cheia de tatuagens.
O rosto estava inexpressivo como sempre. A única coisa que brilhava em sua face era o brinco na orelha direita.
— Vim buscar minha grana, Alexandra! — Ele falou, segurando a arma nas mãos.
A mulher loira suspirou, segurando as lágrimas. Ela morreria, disso ela tinha certeza. Atrás do homem, seus soldados a olhavam com pena.
— Eu não tenho o dinheiro Dodô, me dá mais um tempo... As coisas... — Não terminou de falar por que o homem a jogou no sofá, apontando a arma na cabeça dela.
— Dar mais tempo? Você está maluca, porra?! Eu vou é te meter a porrada, filha da puta. Eu to a quatro meses esperando, quatro meses!! — Ele gritou, assustando a mulher que só sabia chorar. Só esperava que seu filho a perdoasse por se uma péssima mãe.
— Tudo bem, só me prometa que vai cuidar do meu filho — Alexandra segurou as lágrimas e fechou os olhos esperando a morte.
Tanta coisa que ela deixou de fazer na vida por causa do casamento precoce. Sua faculdade trancada, sem família e sozinha no mundo. Um filho pra criar sozinha e ainda um marido adúltero de caráter duvidoso que ainda a agrediu. Talvez fosse esse mesmo o seu destino. Suspirou quando ouviu uma risada de longe. Estavam rindo dela? Como ousavam?
— Que porra garota, o que você fez comigo, hein? — Ela abriu os olhos e encarou o homem, que mantinha o olhar sério. Seus soldados tinham um sorriso nos lábios — Vou te matar, mas não agora, se você aceitar a minha proposta.
Alexandra, ainda com medo, se endireitou no sofá e esperou o homem falar.
— É seguinte: meu pai está precisando de uma mulher para ir visitar ele na cadeia — Alexandra ergueu uma sobrancelha.
— O que? Que tipo de visita? — Ela perguntou, curiosa.
Dodô sorriu, mostrando suas covinhas que eram seu charme, e se sentou na frente dela, no sofá.
— Que tipo de visita? — Ele riu, sarcástico — Tu entra lá, dá a buceta pra ele, e vai embora. Em troca eu te dou uma grana e tu pode ficar morando aqui até quando eu quiser. — falou, espreguiçando-se no sofá e sorrindo de modo cínico.
Alexandra estava chocada. Que proposta era aquela?! Praticamente era se tornaria uma garota de programa. Ela só teve um homem na sua vida, sequer pensou em outro depois do que aconteceu com seu casamento. Nunca cogitou se envolver com outro homem. Até porque tinha mais de três anos que não transava com nenhum.
Ela era um desastre entre quatro paredes, seu marido sempre a lembrava disso.
— Eu não sou uma vadia — Sussurrou, aflita.
— Porra, qual o teu problema, filha da puta?! — Ele se irritou — Estou tentado não te matar.
Alexandra se levantou do sofá, passando as mãos pelo longo cabelo loiro.
— Você acha que eu sou o que? — Ela perguntou a Dodô.
O homem revirou os olho em irritação.
— Ih, se liga, mina, estou te ajudando a resolver esses B.O. ai. Tô querendo te matar não, porra, tu é uma mina firmeza... Maior sacanagem se eu fizesse isso contigo, ainda mais com um filho pra criar — ele sorriu, triste — Sou um monstro, não.
Alexandra começou a chorar na frente dos homens, seus soluços os deixaram sem graça.
— Quanto tempo? — perguntou, aceitando seu destino. Seu filho estava no quarto dormindo, tinha chorado de fome a tarde toda. Ela estava sem saída. E se essa era a maneira de ela conseguir dar algo para seu filho comer, agarraria com todas as forças.
Douglas viu sua mãe ali, naquela pequena mulher. Nunca sentiu pena de ninguém, mas a tinha visto lutando sempre para dar comida para o filho. Observava-a quase todos os dias saindo de manhã com vários currículos em mãos.
Ela não merecia, era guerreira. E essas eram difíceis de se encontrar.
Sabia que era errado, mas juntaria o útil ao agradável. Seu pai queria uma mulher para meter o pau, e ela queria pagar as dívidas com ele e dar comida para o filho. Não era Madre Teresa, porém estava ajudando todo mundo.
— 6 Meses... — O olhar dele se tornou sombrio. Sabia que seu pai era um filho da puta, mas apesar de tudo tinha um bom coração. Alexandra não era o tipo dele, ele sabia, contudo não era fácil achar uma otária para ir à cadeia dar a buceta pra vagabundo. — Ou até ele se cansar de você.
A mulher assentiu, derrotada. Que fosse do jeito que Deus queria. Dodô saiu de sua casa, mas antes jogou umas notas de cem na mesa, dizendo que era uma parcela do pagamento.
Ela chorou naquela noite como nunca chorou a vida toda.
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Visita Íntima (Volume 1) - Degustação
RomanceAlexandra Motta aos vinte quatro anos já é uma mulher muito machucada na vida, fugiu de um casamento fracassado sofrendo nas mãos do marido agreçoes de todos os tipos, gravida e sem rumo na vida pensou que teria um novo recomeço no Rio de janeiro. E...