QUINTO

928 31 6
                                    

Após as comemorações de aniversário de ambos, pareceu que finalmente o ano tinha começado para eles, e com isso ensaiaram um distanciamento dos amigos e até dos familiares. Preferiram conviver menos com os amigos, dispensando saídas e viagens, estavam aos poucos voltaram à rotina. E as tarefas de casa também os exigiam atenção, uma vez que morando juntos a quantidade de macarrão desaparecendo era maior, as coisas realmente fugiam do controle, não era possível. Rodrigo começou as gravações de Órfãos da Terra, e por causa disso precisaria ir até a cidade de São Paulo, porque Bruno, seu personagem, era paulista e fotógrafo, ou seja teriam muito o que explorar na cidade. E ela iniciou as primeiras leituras de Dias Felizes, estava absolutamente ansiosa, seu núcleo seria o principal da trama, ser filha de Juliana Paes e neta de Nívea Maria, era uma grande honra para ela.

Enquanto os dois organizavam a coisas para a viagem dele, conversavam sobre as expectativas do ano que estava se iniciando, foram muitas mudanças, literalmente, que aconteceram no curto espaço de tempo de sete meses. Parecia que já estavam juntos a toda uma vida, mas eram poucos meses apenas, e a decisão assertiva de morarem juntos foi decidida em consenso para o bem-estar e comodidade de ambos, uma vez que praticamente já viviam juntos. Até os jogos de tabuleiro dela, moravam lá antes da própria ir de vez. Estavam vivendo bons momentos nessa vida de casal, tão já conhecida por ela, agora tão mais diferente, e tão nova para ele que foi o último de seus irmãos, a deixar a casa da mãe.

— Precisamos arrumar um prego para colocar esse quadro na parede, né Rodrigo! - Ela falou e apontou para o chão da sala, onde jazia encostado na parede o quadro de Erma.
— Eu sei, sempre me esqueço de ver isso... - Devolveu. - Vê isso pra mim, essa semana?
— Sabia que ia sobrar pra mim. - Riu. - Viu só? Como o seu pai joga pra cima de mim, as tarefas que são dele? - Perguntou a Chico, o cachorro estava deitado com a cabeça em uma de suas pernas. Levantou as orelhas e bufou logo em seguida. - Cara! Até o Chico sabe que você é desorganizado, tá sem moral.
— Eu não fazia ideia de que tinha um cachorro tão vendido assim, eu to ferrado nessa casa. - Levantou as mãos em forma de rendição.
— Ele me ama! Você precisa aprender a lidar com isso. - Riu e continuou o carinho que fazia no cachorro.
— Ele sabe escolher muito bem, amor. - Esticou o corpo para beija-lá nos lábios. - Vou sentir sua falta!
— São apenas alguns dias... Mas eu vou sentir também, eu e o Chico vamos.
— Cuida dela em meu parceirinho? Vou deixar você no comando! - Também começou carinho na mcabeça do bichinho.
— Rodrigo, eu tenho alguns avisos. - Ela assumiu uma entonação de voz mais empostada chamando a atenção dele.
— Mm... - Murmurou para que ela prosseguisse.
— Você não vai a festinhas. Não vai sair e voltar tarde para o hotel. Não vai beber muito. Entendeu? - Ele explodiu em uma gargalhada.
— Agatha, eu não sei se você sabe, mas eu vou a São Paulo a trabalho...
— Não interessa... - interrompeu - não sei se você sabe, mas eu trabalho na mesma coisa que você e sei que em viagens a gente também vai a festinhas. - Mordeu o braço dele. - Não vai tá amor? Não vai!
— Au! Isso dói sabia? - Reclamou e passou a mão no braço mordido. - Eu não vou amor. Tá? - Recebeu um olhar sério dela. - Não vou mesmo.
— Te amo. - desfez a cara brava.
— Também, muito.

Os dois terminaram de arrumar o que Rodrigo levaria para a pequena viagem e tudo coube em uma mochila e uma mala pequena. E foram juntos aprontar o almoço, o que era de veras um milagre, Rodrigo na cozinha e sem reclamar por isso. Após o preparo e de terem feito a refeição, Agatha precisou sair para resolver seus compromissos e Rodrigo permaneceu em casa, vendo as últimas coisas da viagem que iria fazer no final de semana, soube que só faltava ele, pois o restante do elenco já tinha ido até a capital paulista. Era muito bom estar de férias, mas voltar para um trabalho que os realizava tanto, era melhor ainda. Novos ares, novos desafios. Significava muito para os dois.

Quando a noite já se fazia presente, ela chegou em casa e trouxe consigo uns pregos. Finalmente aquele quadro iria ocupar um lugar na parede da sala, seu toc já não aguentava mais vê-lo aí solitário no chão, encontrado da parede triste, triste. E enquanto ela não tirou Rodrigo do sofá para que ele pregasse o bendito objeto, ela não sossegou. Fez uma sujeira tremenda, mas ela limparia com gosto, pelo menos ele estava enfim na parede.    

Amanheceu e a correria costumeira de quem vai pegar a ponte área invadiu a casa,  "Rod, já pegou a chave?" , "E a identidade?", "Não esquece o carregador do celular, amor!", "Já estou com saudades!", enquanto ele andava pela casa a fim de reunir tudo o que estava faltando, ela estava em seus calcanhares como um general ou uma mãe, fazendo um checklist de tudo o que ele não poderia esquecer em casa, afinal São Paulo não é estúdios Globo. Seriam os primeiros dias dela, na casa nova, sem ele. E ele estava tão bonito, naquela manhã de calor carioca, vestido como o de costume, mas com um brilho incomum, sem dúvidas os novos trabalhos faziam muito bem para ele, dava um gás. Ele já estava com o cabelo do personagem, com os trejeitos também, e fotógrafo. Ah! Seria lindo. Mal sabiam os diretores que a melhor modelo ele já tinha: Ela. E a melhor locação também: A casa deles.
   
— Saudades! - Vociferou aninhada ao peito dele - Volta logo.
— Vou sentir também! - beijou os cabelos dela. - Fica bem tá? Cuida de você e do Chico.
— Pode deixar. - beijou a curva do pescoço dele. - Tem certeza que não quer que eu te leve no aeroporto?
— Não precisa. Vou com a galera da produção.
— Dê muitos abraços na Lica e no Binho por mim, e beijinhos na Liz. - Ele assentiu afirmativamente.
— E o nosso quadro hein? Finalmente na parede. - Virou-se para olhar o grande objeto que agora pendia na parede central da sala.
— Ficou lindo! Quando tivermos os nossos filhos, vamos contá-los nossa história e vamos poder mostrar essa lindeza. - Cuspiu de um jeito despojado, que passaria despercebido se não tivesse a palavra "filhos" no plural naquela frase.
— Filhos é Moreira? - Perguntou com uma voz melodiosa.
— É um dia... Se tivermos que eu quis dizer, se! - Enfatizou a última palavra e sentiu suas bochechas corarem pelo nervosismo que aquela frase lhe causou.
— E ainda está com vergonha? - A abraçou mais forte. - Fica não, podemos ter filhos no plural. - Fez um carinho no rosto dela e a beijou, sem sair daquele abraço.

Ficaram ainda um tempo ali se curtindo e depois brincando com Chico que insistia em morder a corda da mochila dele que estava no chão. Até que o interfone tocou e ele foi avisado de que o esperavam na portaria. Após se despedirem com mais abraços e beijos calorosos, Rodrigo saiu e ela foi para o banho, teria um aniversário de uma amiga para ir naquela noite e com certeza rever os amigos seria ótimo. Durante o dia, ficaram ela e Chico juntos no chão da sala, vendo Sex Education, por boa parte da tarde. Estava imersa no conteúdo da televisão, mas foi tirada de seu foco aos sentir o celular vibrar no chão ao seu lado. Indicando uma mensagem.

"Amor, cheguei. Estou indo para o hotel! Beijos"
"Que bom, Rod! Como está o calor aí?" - respondera.
"Não tão infernal como o daí, mas está quente."
"Passe protetor! Não esquece de me avisar quando chegar ao hotel!"
"Pode deixar, e aí como estão as coisas?"
"Ótimas! Eu e Chico estamos assistindo uma série na Netflix."
"Amor, o Chico não enxerga você lembra né? kkkkkkkk"
"Eu sei Rodrigo! Credo, coitado. Ele escuta, então eu estou vendo e ele ouvindo pronto!"
"Pronto! Já estou indo para o hotel, vou na casa do Pedro para conhecer o filho dele mais tarde."
"Que legal! Deseje felicidades por mim. Hoje eu vou no aniversário da Babi..."

Continuaram conversando durante todo o caminho dele até o hotel, e quando ele avisou que chegara ela se despediu e voltou a assistir sua série com o Chico. Seriam só os dois por pelo menos 4 dias, bom momento para se conhecerem mais e melhor, pois ela teria que cumprir a rotina dele, no lugar de Rodrigo e não seria tão mal.

Ao anoitecer, ela se levantou de onda havia passado toda a tarde, o chão da sala, e começou a se organizar para sair. Nunca tardava a se arrumar, uma vez que vestia a primeira roupa que via, e não usava maquiagem, um protetor solar de rosto já lhe era suficiente. Estava pronta. Natural. Andou pela casa, e se deu conta de que era ruim demais não tê-lo por perto, mais compreendia. Logo logo seria ela viajando para gravar as cenas de Lurdes, sua nova personagem. E a saudade seria marata com a volta dele, a volta para ela. Desde que tinha começado a se relacionar com Rodrigo, ela tinha descoberto uma outra vertente sua, a Agatha ciumenta. Obviamente não era algo doentio, mas sentia ciúmes sadios de seu namorado, era normal não? Estava aprendendo a lidar com esses dois novos sentimentos: a saudade e o ciúme e estava melhor do que o esperado. A vida seguia muito bem obrigada, novos desafios, novos ideais, muito o que agradecer. E muita saudades para lidar, mas ela conseguiria, a exemplo de Portugal, ela conseguiria, São Paulo era logo ali.
_____
Xuxus! Mais um capítulo para vocês. Me digam o que acharam aqui nos comentários, sim?! Aproveito para agradecer o carinho e a receptividade que tiveram comigo e com a xará, no primeiro capítulo de porque te amo. Muitos beijos, até terça.

Anne.

Pra nos refazer. Onde histórias criam vida. Descubra agora