O dilema das rosas

35 12 10
                                    

Não sei dizer quando comecei a andar em círculos, mas faz pelo menos dez minutos que Yoongi diz que se eu continuar, provavelmente farei um buraco no chão e sairei na Colômbia. Eu não era assim, foi influência de Namjoon; sempre que algo importante estava prestes a acontecer, ele ficava inquieto e sua cabeça só se ordenava enquanto seus pés estivessem traçando círculos.

A questão não era decepcionar meus pais. Eles sempre sonharam que eu fosse para medicina, advocacia ou qualquer engenharia, queriam que eu me tornasse "uma pessoa na vida"; eu até entendia, no fundo, tudo o que eles mais queriam é me dar asas para que eu saísse da vida no campo – e eu consegui, mas não atingi o sucesso segundo a perspectiva deles. Não é como se eu me importasse muito com isso também, até porque, só o fato de eu ser uma estudante de Artes (intercambista ou não) já é motivo para desgosto.

Decepcionar meu irmão é outra história. Joon sempre disse "não importa o que você resolva fazer em sua vida, apenas seja a melhor no que faz", levo isso como mantra, eu estou feliz por ter conseguido manter minha vaga na Academia, "orgulho" é algo que sequer existe em uma situação do tipo.

- Eu sabia que a vida te ajudaria e daria uma reviravolta – Soyia estava linda com o vestido azul e branco da Bela, ele caía tão perfeitamente nela que era impossível não ter dúvidas de que ela era perfeita para o papel, parecia ter acabado de sair do desenho dos anos 90.

Ela até que tinha razão, fui de staff para Espanador e de Espanador para Bule de Chá em menos de uma semana. Não faço ideia do porquê o senhor Ham resolveu mudar de ideia, disse apenas que refletiu muito em suas caminhas matinais e resolveu dar uma chance maior ao meu esforço; depois disso, passou a me ajudar diretamente nos exercícios para garantir que eu seria um bom Bule de Chá.

O pessoal dos figurinos caprichou como sempre, as roupas estavam impecáveis, dignas de um musical da Broadway. Meu vestido é branco e possui diversos detalhes de arabesco em um dourado suave; por baixo dele, há uma enorme armação de metal, como naqueles filmes antigos da corte europeia, não demorei para me acostumar com o peso, mas a pressão em volta de minhas costelas era torturante. Uma touca delicada e florida em tons de rosa escondia o coque em meu cabelo, deixando apenas uma mecha ou outra que haviam sido enroladas. As mangas compridas do vestido cheio de babados eram minha parte favorita de todo o figurino: de um lado, assemelha-se a asa da xícara, leve e delicada; do outro, ao bico do bule, tornando o traje perfeito.

- Cinco minutos, pessoal, cinco minutos! – As palmas do professor ecoaram pela sala de ensaio anexa a coxia; os primeiros a entrar em cena faziam aquecimentos de voz engraçados, me sentia em uma cena de High School Musical.

- O que estamos procurando? – Levei um susto quando a cabeça de Yoongi se juntou a minha em uma parte cega da cortina, ri assim que vi seu visual. – Que cara é essa? Vai me dizer que eu não estou um perfeito cavalheiro francês do século 17?

- Seu cabelo está igualzinho ao do Hobi no colegial, está muito brilhante.

- O gel tem suas vantagens, olha isso – Yoon bateu sua cabeça em um canto da parede e eu só conseguia rir cada vez mais -, é indestrutível! Está vendo esta rachadura? Aposto que foi meu cabelo que fez!

Precisamos parar quando os gritos enraivecidos do diretor se direcionaram a nós; Yoongi entraria em poucos minutos e eu precisava ajudar Changhyunk a encaixar os detalhes de sua xícara, o garoto interpretaria meu filho e tentava agir como ele até mesmo fora de cena – era um pouco estranho.

Quando o espetáculo começou, coloquei minha cabeça na cortina uma última vez. Não foi tão surpreendente encontrar Seokjin entre a plateia, depois de tantas aulas e sacrifícios, ver os resultados de seus ensinamentos devia ser gratificante; mas esperava que Park Jimin tivesse mais o que fazer em sábados à noite do que assistir musicais da Academia. Guinevere e Hoseok pareciam discutir, algo sobre lugares, pelo que eu entendi – foi engraçado, Gwen fazia um leve escândalo e Hobi continuava com seu ar de superioridade inabalado com seu clássico "não conheço essa pessoa". E no meio de todas aquelas pessoas, a que me chamou atenção era a única que havia me notado por entre o ponto cego da cortina.

Os prós e contras do UniversoOnde histórias criam vida. Descubra agora