Sua próxima garota

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Surpreendentemente ou não, eu perdi a hora naquele dia.

Embora as palavras ainda vivas de Kim martelassem em minha mente, xinguei-o em todos os idiomas possíveis por ele não ter me acordado; segundo ele, não o fez por julgar que eu precisava estar bem e descansada para a audição. Ele disse que não havia feito de propósito e que achava que era o melhor para mim, ouvir isso logo dele era de perder a cabeça.

Acordei com a décima ligação de Yoongi e saí de casa na velocidade da luz, agradecendo a todos os deuses por morar próximo a Academia. Gostaria de dizer que, como acontece nos filmes, eu atravessei a porta do auditório quando meu nome estava sendo chamado; eu diria "bem a tempo!", subiria no palco e conseguiria o papel. Fácil assim. Porém, como a vida real não é um roteiro de filme, eu já havia perdido a hora.

- Perdeu a cabeça?! – Yoon acobertou minha entrada e me puxou para um abraço desesperado antes de me dar um olhar flamejante. – Onde raios você se meteu?!

- Eu...

- Quer saber? Não importa – interrompeu, o que me deixou confusa por um segundo, mas agradeci por não precisar explicar. – Você precisa se preparar, logo ele a chamará outra vez.

- Como você conseguiu convencê-lo? Ele é inflexível!

- Você sabe que ele me idolatra, só disse que você estava ansiosa e saiu para arejar um pouco a cabeça, então ele deixou você ser a última da lista. – Yoongi parecia mais eufórico do que eu, até então eu estava bem tranquila e confiante, agora sinto como se essa crise de ansiedade inventada não fosse tão imaginária assim.

Ouvi meu nome ser chamado e engoli meu medo em seco.

- Ouça bem, Takamura, não quero ter que lutar pelo coração de nenhuma outra Bela – suas mãos seguraram meu rosto próximo do seu quando ele juntou nossas testas como fazíamos em Hokkaido; com nossas testas coladas e nossos olhares ligados, Yoongi transmitia tanta calma e confiança que nem parecia real. Quando sorriu, nada mais importava e eu me sentia pronta para qualquer coisa. – Quebre a perna.

Respirei fundo e devolvi o sorriso. Fui para o centro do palco e olhei confiante para os rostos dos meus colegas, que exibiam um quê de expectativa e muito de desespero. Fechei os olhos e foquei em tudo que meus tutores haviam ensinado durante a última semana, queria deixá-los orgulhosos e que sentissem que seus esforços valeram a pena.

Cantei uma música que Gwen ajudou a escolher, a nossa favorita da época do colegial, não era muito difícil de cantar e estar familiarizada com ela era acolhedor. É bem provável que poucas pessoas no auditório conhecessem, o que segundo Kim, era uma boa vantagem para mim, afinal, se eu saísse do tom original, poderia dizer que era apenas uma interpretação. Quando ele disse isso eu ri, espero que na prática funcione.

E então Tear In My Heart, do Twenty One Pilots, preencheu o teatro.

- Senhorita Takamura, gostaria de falar com você em meu camarim no final do período, por favor.

- Isso só pode ser uma boa notícia, não? – Yoongi me despertou para a realidade e eu me acolhi em seu abraço. – Você melhorou bastante, aprendeu tudo isso sozinha?

- Ela teve uma ajudinha – procurei sua voz e encontrei Kim encostado com os braços cruzados em um pilar próximo da entrada do teatro, despretensioso. – Nada mal para quem tem uma voz letal.

- Não tive um professor muito bom – dei de ombros tentando esconder um sorriso, devo ter vacilado, já que Yoongi aumentou seu olhar de incredulidade. – Enfim, agora que seja o que for para ser.

- Você vai conseguir, Bela, e quando conseguir, estará me devendo uma!

Kim Taehyung deixou o auditório correndo e com o sorriso orgulhoso de uma criança. Voltei minha atenção a um Yoongi mergulhado em descrença e me dei conta de que agora sim eu estava encrencada, uma coisa é olhar nos olhos dele e prometer que nada tem a ver com Kim, outra é ele nos ver interagindo na sua frente.

Os prós e contras do UniversoOnde histórias criam vida. Descubra agora