Terapia de negação

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Eu realmente queria poder dizer que estava bem, de verdade.

Uma vez me disseram que se você não se sente bem, pode fingir que está e, com o tempo, o fingimento passa a ser verdade. Se isso é verdade ou não, eu não faço ideia, mas posso ao menos dizer que estava me esforçando para fazer com que fosse – nessas horas me sinto muito feliz por ter escolhido artes cênicas como graduação.

Percebi que estava evitando passar o tempo em casa, não pelos motivos antigos, mas como parte da terapia de negação que eu inventei. Os primeiros dias foram fáceis, afinal, eu também estava com muita raiva. Quem ele pensa que é para me ignorar?! Eu não fiz nada.

- Ei, ei, ei, o que a caixa registradora fez com você? Sei que vocês não se dão bem, mas isso já é demais.

Jungkook tirou minhas mãos dos botões que eu apertava ferozmente. Suspirei. Eu realmente odeio esta máquina. Ele continuou rindo baixo e eu resmunguei quando ele fez o serviço por mim, detesto ficar devendo favores. Sabia que era isso que ele diria ao final de tudo, como sempre fazia.

- Você anda muito tensa desde sua apresentação, Alex – comentou -, não está assim porque eu não fui, certo?

- Não.

- Você gostou das flores pelo menos? – Não respondi, mas foi inevitável esconder o sorriso que surgiu em meus lábios, lembrar delas acabava me animando. – Sabia que iria adorar, Gracie nunca erra.

Já que não tinha nada a ver com ele, Jungkook cessou as perguntas, fiquei um pouco mais confortável com isso, as tentativas de Jeon em ser meu amigo são sutis e atenciosas. No curto tempo que dividíamos todos os dias, ele parecia me entender, pelo menos não se sentia intimidade com minhas reações e já estava acostumado a elas.

- Deixa eu adivinhar, foi a Alex que escolheu as músicas hoje, não é?

Revirei os olhos para Gwen e aumentei um pouco mais Don't Cry do Guns; não entendo porquê, mas de alguma forma a letra faz sentido em meu coração e suas relações são mútuas. Desde a apresentação, eu estava buscando cada vez mais motivos para ficar o máximo de tempo possível fora do apartamento, seja com horas extras na loja de discos ou passando a noite com os meninos; Gwen e Hobi vieram me buscar para ir ao cinema com eles dessa vez.

- Já vai? Estava acostumado com suas horas extras para me fazer companhia.

- Não são para te fazer companhia, são para... enfim, não é por sua causa – ele sorriu mesmo assim, lidar com Jeon às vezes é mais difícil do que com Kim. Coloquei meu avental e crachá em meu armário e me preparei para sair. – Estou indo.

- Para onde vão hoje? – Suspirei, Gwen respondeu antes de mim e eu agradeci por Hoseok intervir dizendo sutilmente que ele não poderia ir ao cinema conosco. – Não tem problema, até porque, não pense que eu esqueci que você tem um favor para retribuir, Takamura. Estou apenas esperando a hora certa para cobra-lo.

Por mais que na hora eu não tenha respondido, isto significa quase ter apelado às sugestões de assunto para iniciar conversas pelo Buzzfeed, Gwen fez o favor de insistir na mesma jogada no decorrer de nossa noite; era engraçado como a garota podia encontrar uma chance de ressurgir a questão mesmo em contextos completamente inusitados.

Cabeças como as de Guinevere estão por trás dos sites de sugestão de conversa.

Nosso trio já teve noites melhores, não penso isso porque foi o que Hoseok disse há alguns minutos, mas porque bem, é algo palpável. Acredito também que a culpa disso é minha. É claro para qualquer um ver que eu não sou a mesma depois do Bule de Chá e sim, interpretar objetos inanimados cantores te faz repensar sua vida. Entretanto, eu não fui a única que mudei, a culpa disso tudo é de Kim Taehyung.

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