Sinfonia dos corações partidos

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- Você quer falar sobre isso? – Sua voz soou como um abraço, uma brisa de verão que eu queria muito me envolver e me desmanchar sobre ela, contar todas as minhas angústias até chover. Ele sorriu, eu tive que conter a garoa. – Quer dizer, não acho que a madeira mereça seja lá o que você está fazendo com ela.

Minha voz foi um riso fraco quando ele tirou o martelo de minha mão.

- Se seu pai estivesse vendo você assassinar essa tábua, você seria deserdada. – Min tirou os pregos tortos e segurou-os na ponta dos dedos para prega-los novamente. – Você é um perigo para os cinegrafistas, Takamura. Vamos, o que aconteceu?

- Estou cansada.

- Eu também estou, mas nem por isso estou torturando objetos inanimados.

- Cansada de tudo, Yoon – virei o pote de pregos no chão e comecei a brincar com eles para não ter que encarar seus olhos. Não conseguiria fazer isso se nossos olhos se encontrassem. – Eu queria nunca ter me mudado.

- Você está se sentido sozinha?

Suas palavras dançaram no ar, quase pude vê-las a minha frente. Sozinha não era bem a palavra certa, nos últimos dias, minha relação com Taehyung havia chegado num patamar desconhecido – eu não estava irritada, eu estava... anestesiada? Não era uma raiva em chamas como das outras vezes, era quase indiferença. Taehyung estava lá... mas não estava. Ele agia como se não estivesse, não por mágoa, como das outras vezes; ele parecia triste, apenas.

Kim se esforçava para nossos caminhos não se cruzarem, mas não deixava as almofadas fora do lugar. Ele fazia café suficiente para nós dois e caminhava em sua habitual distância de 3 metros feito uma sombra. Ele não escondeu minhas coisas, molhou meus sapatos ou agiu como uma criança. Kim Taehyung era parte da mobília, tentando, simplesmente, não interferir na ordem dos meus dias.

Meus olhos eram um mar agitado em um temporal indecifrável, buscar os seus numa tentativa de me acalmar era encontrar uma poça rasa e igualmente desconcertada. Taehyung não estava triste, não, ele parecia arrependido.

Kim sempre foi ótimo em estragar as coisas, mas era péssimo em consertá-las.

- É, acho que é um pouco isso.

- Nesse caso, então eu tenho uma surpresa que com certeza vai melhorar o seu humor – Yoongi, felizmente, era só Yoongi, meu melhor amigo Min Yoongi, nenhuma peça faltava no quebra-cabeça do nosso relacionamento. – Não posso contar, mas está quase pronta.

Contrariando todos os meus instintos habituais, abracei o garoto a minha frente, deixei com que seus braços me envolvessem depois do choque e permiti o toque de nossos corações. Min Yoongi era o único maestro capaz de organizar minha sinfonia. Eu não precisei explicar nada a ele, ele simplesmente entendeu; suas mãos se perderam entre a bagunça castanha que era o meu cabelo antes que ele voltasse a encarar minha íris chuvosa.

- Vai ficar tudo bem.

A luz piscando sobre nós fez meus olhos doer. Foi um erro pensar que a mobília continuaria estática por muito tempo; no fundo, é tudo sobre inércia: todo corpo tende a permanecer em seu estado natural até que uma força seja exercida sobre ele. Taehyung era uma mobília controlando um holofote, direcionando-o sobre Yoongi e eu como se não tivesse controle sobre ele.

Sutil demais até para ele.

- Precisa de alguma ajuda, Kim?

- Está tudo bem, hyung – seu sorriso envergonhado não contrastava bem com seus olhos em chamas. – Ainda não me habituei com o equipamento.

Os prós e contras do UniversoOnde histórias criam vida. Descubra agora