PARTE III: Titânio

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Kyungsoo precisou de duas madrugadas e meia para terminar a construção da prótese, e mais trinta minutos para ligá-la aos nervos de Jongin, porque o processo era tão doloroso e preciso quanto uma cirurgia

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Kyungsoo precisou de duas madrugadas e meia para terminar a construção da prótese, e mais trinta minutos para ligá-la aos nervos de Jongin, porque o processo era tão doloroso e preciso quanto uma cirurgia. O moreno sequer precisou ficar de repouso, já que seu corpo não demonstrara qualquer rejeição ao novo braço. Seus movimentos estavam muito mais rápidos devido à leveza do material.

— Como perdeu o seu braço? — perguntou Baekhyun, sentado de pernas cruzadas no braço do sofá.

Jongin respirou fundo e esticou as pernas, apoiando-as na mesinha de centro.

— Foi no meu primeiro mergulho. Eu tinha catorze anos e estava completamente despreparado. Tive sorte de não ter morrido, na verdade. Uma daquelas quimeras decepou o meu braço quando eu me distraí por um segundo. Ela era muito rápida. — Ele agitou a cabeça, tentando afastar a lembrança assombrosa. — Uma Garralonga de oito metros. Foi assustador.

Yixing pareceu interessado no assunto.

— Você nunca me contou sobre isso — lamentou o chinês. — Doeu muito?

Jongin deu de ombros.

— Bom, você nunca me perguntou, em primeiro lugar. — Ele riu, parecendo mais à vontade agora. — Eu senti o corte arder, doer... Latejar. Escorria sangue por toda parte também. A dor parecia assustadoramente real.

— Porque era real — Kyungsoo respondeu de imediato. — A dor é real. Cada detalhe do Underground é real.

Dessa vez, todos observaram assustados o garoto que se aproximava, usando um boné com os óculos de proteção descansando sobre a aba. Ele se sentou no chão perto das janelas duplas e fixas, apoiando as costas no vidro. Atrás dele, no Messier 43 — uma região H II na constelação de Orion — cintilava uma nuvem de gás incandescente de baixa densidade e de plasma, onde parte de uma nebulosa cor-de-rosa podia ser vista, se estendendo a centenas de anos-luz dali.

— Não é apenas uma realidade virtual — ele continuou, explicando tudo naturalmente, como se aquele fosse um assunto corriqueiro. — Venho pensando bastante nisso. Talvez seja uma espécie de teletransporte. O Underground não só parece ter a estrutura idêntica à que vemos todo dia pelos corredores, mas realmente tem. Todas as quimeras, as armadilhas e os nossos maiores medos ganhando vida nessa realidade... Tudo isso é arquitetado pelos Organizadores. Eles têm acesso ao nosso cérebro, e controlam todas as ações principais do nosso mergulho. Algumas são programadas, repetitivas, mas outras são monitoradas em tempo real.

— O que está tentando dizer? — perguntou Yixing, tão perdido quanto todos os outros. Era a primeira vez que Kyungsoo tentava externar os seus pensamentos assim, até para Baekhyun. — Se nosso corpo é teletransportado a cada mergulho, para onde vamos exatamente?

O baixinho apertava os próprios joelhos, medindo suas palavras.

— Para o subterrâneo. O subsolo do Orbe — ele sussurrou. — Quando eu trabalhava nas minas, costumava ouvir ruídos monstruosos durante a madrugada. Era estritamente proibido trabalhar depois do toque de recolher, mas o extrato de minérios dava bons créditos no final do mês, e a área não era muito vigiada. Desde então, acredito que as quimeras sejam reais. Mutações científicas que eles criaram especialmente para os jogos. Ou talvez experimentos que deram errado. Vocês sabem muito bem que a Elite está sempre tentando criar animais artificialmente.

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