6. Sangue quente

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Quem disse que vingança é um prato que se come frio nunca esteve na casa do meu tio Gordon.

Aquele jantar foi a desculpa perfeita para entrar naquela família e ganhar a simpatia da irmã mais velha de David, Marta – uma mulher de 25 anos que morava no exterior e retornou ao país para visitar os pais – e da mãe dele, Dona Cecília, que se encaixava no estereótipo de mulher retraída, que mal fala enquanto o marido discursava.

A princípio pareciam uma família normal, mas são os detalhes que revelam quem uma pessoa é de verdade. Por exemplo:


1 – David detestava o pai, por isso nunca respondia uma pergunta dele diretamente e sorria forçado para o patriarca da família.

2 – Marta estava com as pupilas dilatadas. Ela com certeza se drogava a um bom tempo, e algo me dizia que aquele "retorno inesperado" para a casa dos pais seria para pedir dinheiro ao final da visita.

3 – Cecília tinha marcas roxas na lateral do pescoço, quase imperceptíveis com a gola do vestido. Sinais de agressões...


Confesso que gostei de estar lá. Cada pessoa era uma caixinha de surpresas e eu um lobo em meio a ovelhas.

— Eu busco a sobremesa! – Falei, colocando o prato de lado e me levantando.

— Não precisa, querido – Cecília tentou me impedir.

— Não custa nada.

— Volta logo, amor – pediu David, me dando um beijo.

Gordon observou aquilo com atenção demais.

Percebi isso e fixei meu olhar nele enquanto beijava seu filho, apenas para me divertir com a reação atrapalhada que ele fez ao tentar desviar o olhar.

Deixei a sala de jantar sorrindo.

Aquela visita não passava de formalidade. Tinha que saber quem era o meu tio antes de destruir sua vida. Afinal, a junção de pai desnaturado com marido violento não poderia passar impune.

Peguei a torta dentro da geladeira e, quando fechei a porta, levei um susto quando vi meu tio ali. Parado. Me observando.

Me recompus rápido e sorri para ele.

Meus olhos como arma, focados nos dele.

— Algum problema? – Perguntei, me fazendo de desentendido.

Gordon me observou com interesse, me analisou de cima abaixo e balançou a cabeça.

— Vim ver se precisava de ajuda.

— Ajuda? Para buscar uma torta?

— Não sei... Vai que você se perde pelo caminho e acabe em lugares onde não deveria.

Entendi tudo. Ele achava que o fato de me voluntariar para buscar a torta era um pretexto para fuçar pelo local.

O cara não era nenhum idiota. Sua mente devia trabalhar tão perversamente quanto a minha. Mesmo assim, eu tinha uma vantagem naquilo tudo.

— Diga, senhor Gordon. Agora que namoro seu filho, devo te chamar do que? – Abusei da voz sensual e mordi o lábio. Aquilo era perigoso, mas me vi forçado a encarar.

— Pode me chamar só de Ryan, se quiser.

— Sério? Hum, alguns deixariam que eu chamasse de sogrão. Ou pai.

Baixei meu olhar e o levantei quando disse aquilo. Meu tio pareceu hipnotizado pelos meus olhos, por isso não disse nada.

Me dei por satisfeito e decidi que era hora de sair da cozinha.

Evil Boy (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora