Nietzsche: Naturalismo

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Quando o idealismo se enfraqueceu após Hegel, um outro tipo de busca pelo conhecimento, ou pela verdade humana, começou a surgi dentro da tradição alemã. Inspirados pelo desenvolvimento das ciências naturais e pelo descrédito das doutrinas religiosas, uma visão mais "natural" ou histórica se desenvolveu.

Nietzsche será um dos principais expoentes daquilo que se convencionou chamar: naturalismo. Polêmico e ousado, não foi bem entendido ou aceito no começo. Mas o continuo desenvolvimento da interpretação de seus textos desmistificaram muitos enganos, como por exemplo, sua associação com o surgimento do Nazismo.

Como podemos entender esse naturalismo de Nietzsche? Existem variados significados filosóficos para tal termo, assim como acontece com qualquer palavra. A criatividade humana é magnífica em interpretar e resignificar, em criar conceitos para suas palavras. Por exemplo, há o tipo de naturalismo "mecanicista", voltado só para as possíveis causas naturais dos fenômenos desse mundo.

Nietzsche vai chamar aquela de uma "das mais estúpidas" já criadas pelo ser humano. O mecanicismo é estático, arquitetado para "ser assim", onde tudo é robótico e segue uma lei estabelecida.

Antes do naturalismo, como visão de mundo, outras ideologias pautavam a conduta humana. A ideologia cristã, muito comum na idade média, que construiu significados e propósitos partindo da visão humana de que "o sol e as estrelas" giravam em torno da terra, conjuntas com a leitura bíblica e a influência de Aristóteles, foram dominantes dentro do mundo ocidental.

Essa visão tinha um leve erro, interpretando a casualidade do mundo natural, através dos dados imediatos dos sentidos. A percepção visual acabou ocorrendo em enganos, fazendo acreditar que os astros estavam a serviço do planeta, como centro de todo universo, ou que a causa do dia, e da noite, era um sol que girava para nós e não o contrário.

Encontramos uma mudança Ideológica em Spinosa, que desenvolve uma doutrina filosófica geométrica, matemática, interessado nas causas últimas e seus possíveis efeitos dentro do universo.

Dentro dessas ideologias existe ainda uma metafísica, uma explicação "além desse mundo" sobre a realidade natural. Veja bem, existem explicações de causa, que extrapolam o mundo natural, o mundo como ele é. No cristianismo o mundo é monarquicamente controlado por Deus, no mecanicismo Deus é um arquiteto o qual constrói uma máquina perfeita e em Spinosa Deus está na natureza como um "motor pensante" dentro do mundo. O

Dogmatismo é intrínseco a esses pensamentos. Doutrinas como: Deus fora e oposto ao mundo, Alma universal e eterna e determinismo humano são aindas usadas. Influências dos dogmas de Platão ainda podem ser vistas na tradição filosófica ocidental. E é isso que Nietzsche quer retirar como fundamento de nossas concepções de mundo. Ele vai pedir para "começar a nos naturalizar.. nós humanos" (uns Menschen, zu vernatürlischen) em seu livro "A Gaia ciência".

Richard Schacht vai dizer:

"em termos de uma natureza pura, novamente descoberta, novamente redimida! - isto é, natureza reconcebida de uma maneira inteiramente desdivinizada (ganz entgöttlicht) , purificada de todos os traços da ideia de Deus (ganz entgöttlich)" .

Vale dizer: entre outras coisas, que seu pensamento pretende ser cientificamente informado e sofisticado. Quer com isso utilizar as conquistas das ciências naturais para construir novos valores, para novas gerações.

Entretanto, ele não é cientificista. Não é alguém que considera que a biologia, a química, ou a física serão capazes de dar todas as respostas, ou que poderão abarcar tudo que é humana. Ele tem objeções consideráveis ao pensamento científico quando se pretende ser o construtor, não só do conhecimento digno de consideração sobre muitas coisas naturais, mas a versão completa em relação a tudo, incluindo aquilo que vai surgindo no próprio processo de desenvolvimento do ser humano, como a cultura em geral.

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