Nietzsche: Linguagem

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Um grande dilema dentro da discussão filosófica é a função da linguagem, fenômeno curioso da espécie humana. Será que as palavras correspondem realmente a objetos? Existe realmente uma lógica dentro da gramática? Ou não será a linguagem mera convenção social? Nietzsche é um desses responsáveis pela desconstrução de mitos em relação ao uso dela.

Nietzsche vai conceber a linguagem como uma concordância, uma convenção humana, que surge quando a guerra natural de todos contra todos, parafraseando Hobbes, chega a um acordo. A linguagem seria um agrupamento coletivo, uma síntese de convenções, onde acordos humanos definem as regras. Para o homem contemporâneo isso parece óbvio, mas até Kant a linguagem era também metafísica.

Nesse ponto, a suspeita de Nietzsche em relação a todo tipo de metafísica, atinge o eixo em torno do qual se articula toda a filosofia ocidental: o conceito de representação. Como uma certa palavra pode realmente representar um dado objeto? A metafísica, de acordo com Nietzsche, propõe que linguagem tem capacidade para designar, isto é, para alcançar os objetos do mundo e representá-los.

Nestes termos, se estabelece um modelo de verdade enquanto adequação, como correspondência entre as palavras e as coisas. Por exemplo, assim com a palavra pedra corresponde a certo objeto físico, as palavras metafísicas como Deus e Alma também teriam sua real correspondência. Os fatos e as proposições teriam correspondência, também entre a linguagem e o mundo, cada vez que fizermos mais generalizações com a linguagem, mais correspondência encontraríamos.

Braga irá comentar :

"A possibilidade que tem a linguagem de dizer a verdade se baseia no postulado que afirma a existência de uma conexão necessária e essencial entre os termos assinalados, sempre e quando se os considera em seu aspecto estrutural; conexão que permite à linguagem, em última instância"

O principal inimigo metafísico de Nietzsche será novamente levantado como responsável por tal conceito sobre a linguagem. O movimento de inversão na orientação dos valores que teve lugar na Grécia com o surgimento de Sócrates mudará a definição de modo especial a linguagem, cuja compreensão irá se distorcer por causa desse dimensionamento exagerado do nível semântico, ou da compreensão dos significados das palavras, definindo-se um entendimento de verdade.

De acordo com Braga

"Verdade que, para Nietzsche, é um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias"

Nietzsche irá pontuar que as verdades são ilusões das quais se esqueceram que o são metáforas, em seu famoso livreto "Sobre a verdade e mentira no sentido extra moral". Essas metáforas se tornaram gastas ou deixadas de lado, sem a força do sensível, como ele mesmo diz:

"moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas" (WL/VM § 1)"

Para Nietzsche, todo modelo em que se estabeleça uma conexão necessária entre a linguagem e o mundo, de modo tal que a estrutura lógica da primeira se converta em um instrumento eficaz e transparente para dar conta da ordem estrutural do segundo, é "ilusão" e "delírio metafísico.

Assim como Aristóteles, o qual superou, em certo ponto, o dualismo metafísico, Nietzsche resgatará a força da retórica. Essa atividade humana lança luz e fazer ver em cada coisa o que impressiona, o que nos chama atenção sensível. Tal força seria o fundamento da linguagem. Não irá se referir ao verdadeiro, à essência platônica das coisas, tendo como função a instrução, de transmitir aos outros uma emoção e uma aprendizagem subjetiva.

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