Falar de indivíduos com processos históricos, fisiológicos e biológicos, dentro da abordagem de Nietzsche, é voltar ao século XIX com suas pesquisas evolucionistas. Mesmo com certas discordâncias, do próprio Nietzsche para com as pesquisas de Darwin, precisamos dizer que o darwinismo possibilitou um estudo genealógico da espécie humana.
Constâncio comenta:
"Tendo mostrado, de um modo definitivo, que a espécie humana é uma parte da árvore da vida, Darwin nos encoraja a estudarmos as outras espécies."
Com isso, o entendimento de quem é o homem, passa também pela compreensão de como se deu o desenvolvimento biológico das espécies. Mesmo sem o conhecimento dos mecanismos hereditários, descobertos pela pesquisa do monge Mendel, os resultados de Darwin alertavam toda a visão antropológica do antigo dogmatismo.
A biologia vai pesquisar a origem da vida no planeta terra. Até aquele momento as teorias traziam em seu escopo uma boa bagagem religiosa. O cristianismo e sua visão estática das espécies dominavam as discussões. Com Darwin essa discussão muda drasticamente de rumo, dentro da discussão filosóficas irão entrar agora os pressupostos históricos e fisiológicos, onde as capacidades de se comover, de cooperar ou até mesmo de saber como produtos de tais processos, os quais sofreram alterações ao longo do tempo.
Constâncio diz:
"Se se aceita, como Darwin ensina a aceitar, que o mundo da vida orgânica é o resultado de um processo de evolução por seleção natural e que o homem é apenas uma parte desse mundo, fica lançado o repto de pensar todas as capacidades, bem como todas as atividades humanas... Como resultado de um processo evolutivo"
A seleção natural consiste em selecionar os indivíduos de uma determinada espécie, adaptados a determinada condição ecológica. Casa espécie está adaptada a seu ambiente. Quando dizemos que uma espécie é melhor adaptada, dizemos que existe maior probabilidade de sobrevivência dos indivíduos de tal espécie. Estes conseguem reproduzir e deixar sobreviventes.
Ou seja, o homem participa e participou de processo. Suas construções e peculiaridades também estão dentro e são produtos desse desenvolvimento histórico. Nietzsche entende a importância dessa descoberta e a utiliza em sua crítica genealógica.
Porém, temos de dizer que uma pesquisa genealógica não pode trabalhar com uma chamada natureza humana, ou essência, algo estático que determina a conduta humana. Aquilo que se pode dizer sobre o homem precisa ser encontrado nos processos históricos e biológicos, estudando as variações e suas manifestações. Com isso a tese da eternidade das espécies é rejeitada. Tais não existem no planeta desde sempre, não estarão no planeta pela eternidade, sendo resultado de um longo processo evolutivo.
Constâncio vai abordar que:
"uma visão da natureza, como por exemplo a de Aristóteles, ou de Platão, ou até mesmo de São Tomás de Aquino, na medida em que se assenta na tese da eternidade das espécies é simplesmente falsa."
Com isso a humanidade passa a ser entendida em continuidade com a natureza. O homem pertence a natureza, se origina dela e de seus processos, é dependente dela. Se o homem é uma espécie, então também é resultado de um processo de evolução por seleção natural. O homem, encaixado nesse processo, possui um ancestral comum em relação a outras espécies do planeta. Desta maneira, não há nenhuma característica da espécie humana, nenhuma capacidade, nenhuma atividade, que transcenda a natureza que não seja resultado de um processo evolutivo.
Diferentemente das doutrinas teleológicas, as quais são doutrinas que identificam a presença de metas ou fins, guiando, direcionando a natureza e a humanidade, para uma determinada finalidade, tal pensamento irá trabalhar com causas temporais, uma casualidade eficiente. Causando uma grande desconstrução nos grandes dogmas adotados pelos gregos, pelo mundo cristão, ou até mesmo a modernidade.
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Filósofos da subjetividade: O que pensou Nietzsche..
RandomColetânea de textos sobre o pensamento de Nietzsche para aqueles que são leigos em Filosofia, usando uma linguagem mais simples e popular. NOTA: Texto escrito aos poucos e sendo corrigidos constantemente. Capítulo 1, 2, 3 e 4 revisados.