Nietzsche é aquele filósofo, após a crítica metafísica de Kant, a mudar drasticamente a concepção de Verdade dentro da filosofia ocidental.
Com certa influência do antigo gnosticismo, onde o alcance da suprema Verdade era uma condição para salvação da alma humana, esse conceito era visto como objetivo moral, religioso e espiritual. Em Nietzsche, a crise do conceito de Verdade é também crise da filosofia como metafísica, como projeto de salvação humana.
Segundo Abel, é necessário fazer duas distinções:
"Duas distinções ajudam a esclarecer esse cenário. Em primeiro lugar, a distinção entre um sentido amplo e um sentido estrito de Verdade. Em segundo lugar, a distinção entre o esquema mais antigo e tradicional de verdade e um sentido novo do discurso sobre a verdade".
Qual seria esse sentido amplo? Era a visão da adequação entre o pensamento e os objetos. Nesta perspectiva, nossa linguagem é idêntica ao objeto que ela nomeia, assim, cada objeto revela sua eterna essência. O objetivo do filósofo passa a ser a busca dessa verdade essencial e única, revelada através de tal adequação.
Abel vai dizer que, para Nietzsche:
" No pensamento de Nietzsche, não se trata simplesmente de substituir as representações anteriores da Verdade por uma outra."
Verdade era compreendido como obtenção de um conhecimento eterno, porém, ao analisar racionalmente, é inegável a multiplicidade do mesmo. Temos muitas verdades. Adquirimos conhecimento religioso, científico, histórico e artístico. Para darmos exemplo, temos a discórdia entre a metodologia do conhecimento teológico e a lógica da ciência moderna, nos levando para o conflito, para o desacordo, dentro de tantas possibilidades de se conhecer. Não temos como encontrar uma base comum, partindo de ponto de vistas discordantes.
Retornando a tentativa de igualar o pensamento e o objeto, como era objetivo da metafísica, entendemos como esse empreendimento é fracassado. O argumento de Nietzsche? Sem a palavra, o pensamento não pode apontar para aquilo que se deseja concordar. Seria uma regressão ao infinito. Nunca alcançamos a essência do objeto, como pretendia Platão.
Essa concepção de que a natureza possui uma essência escondida, mas alcançada pela razão, seria problemática. Somos finitos, temos um início e fim, a própria variabilidade e objetos aparecem dentro da história, não conseguimos contemplar o objeto eterno, onde cada é compreendido dentro das diversas histórias humanas, através dos conceitos e das interpretações.
Tudo isso, para Nietzsche, era mera vontade de verdade, onde não aprendemos a essência da realidade, mas uma vontade em se tornar eterno ou fixo a própria interpretação.
Nietzsche entende como uma construção de mundos supostamente verdadeiros, melhor, afirmados como verdadeiros.
Abel vai dizer:
"Nesse sentido a verdade não é dada, em si e preestabelecida, ao contrário, ela é criada por meio de processos de determinação de signos e de interpretações".
No entendimento de Nietzsche, a Verdade é apenas dominação, é uma vontade de poder.
O raciocínio é lógico e fácil de ser entendido. Até a era moderna se acreditava que existia uma verdade única, onde cada objeto do mundo natural tinha uma contrapartida ideal, eterna e essencial. Porém Nietzsche entendeu que esse outro mundo de essências não existia, era mero produto de época, de culturas, de momentos históricos. Com isso, aquilo que era uma vontade de se chegar em uma verdade essencial, para Nietzsche, era a vontade de impor, de dominar o discurso, uma vontade de potência.
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Filósofos da subjetividade: O que pensou Nietzsche..
RandomColetânea de textos sobre o pensamento de Nietzsche para aqueles que são leigos em Filosofia, usando uma linguagem mais simples e popular. NOTA: Texto escrito aos poucos e sendo corrigidos constantemente. Capítulo 1, 2, 3 e 4 revisados.