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❞Suas mãos e lábios ainda sabem seus caminhos. [...]Portanto, se você não se importar, vou cruzar aquela linha presa na ponte entre nós.

Morte. M-O-R-T-E. Substantivo feminino de cinco letras. Inúmeras definições segundo os dicionários. Interrupção definitiva da vida de um organismo. Fim da vida humana. Término.

Sempre repetida baixinho. Sempre pronunciada como um sussurro. Acompanhada de calafrios e lembranças impossíveis de serem esquecidas. M-O-R-T-E. Pensar sobre ela automaticamente nos coloca por trás de um caleidoscópio defeituoso que somente reflete em preto e branco. Pensamos em dias chuvosos e gélidos onde não há espaço para risos e cores.

M-O-R-T-E.

Natural. O fim de um ciclo e o início de outro. É difícil, é sempre difícil. Aceitação é a palavra chave: essencial de todos os lados. Um indivíduo precisa aceitar sua própria morte para que seu espírito siga em paz; precisa perdoar se for necessário. Também é preciso o mesmo para aqueles que são deixados para trás, aqueles que permanecem em terra. É preciso que aceitem a morte de seus entes queridos; que os perdoem por terem-no deixado.

Almas que ainda possuem contas para acertar permanecerão vagando o tempo que for necessário até que tudo o que há de ser resolvido em seu nome torne-se apenas uma lembrança cômoda.

M-O-R-T-E.

O dia amanheceu frio. O inverno australiano nunca foi um dos mais rigorosos, mas certamente era sentido por aqueles acostumados ao clima tropical. Dia sete; mês sete. Você deve se lembrar do que isto significa. Sim, sim, o aniversário de Ashton Irwin! Onze anos, aliás. Um grande marco na vida de qualquer garoto ou garota; quando as questões da pré-adolescência estão se tornando cada vez mais nítidas. Ah! Aquele dia definitivamente seria memorável.

Calum Hood despertou cedo. Soltou um longo bocejo e quase se rendeu ao imenso sono que lhe embaralhava a mente. Levou alguns segundos confusos até que se lembrasse de por que estava acordando às sete da manhã na primeira semana das férias escolares, mas bastou que espremesse os olhinhos para o lado, que os direcionasse ao criado-mudo e enxergasse o pequeno presente bem embrulhado iluminado pela luz do abajur de estrelinha, para que o rosto sorridente — e com covinhas cada vez mais bonitinhas! — lhe invadisse a memória.

Saltou da cama imediatamente. Era como se o sono houvesse sido erradicado em um milésimo de segundo! Apanhou a pequena caixinha com uma das mãos e deu adeus às estrelinhas em seu teto. Sem medo algum, empurrou a janela para cima e passou pela abertura; em seguida, caminhou pelos telhadinhos estreitos despreocupadamente até se deparar com outra janela muito bem conhecida. Empurrou-a também com facilidade, visto que esta se encontrava destrancada, e esgueirou-se para dentro do quarto do vizinho.

Não, o pequeno Calum não estava invadindo domicílios. Aquela era apenas uma tradição de aniversário iniciada dois anos antes, quando aquele mesmo neozelandês fizera oito. Certo dia — vinte e cinco de janeiro — acordara com uma cabeleira cacheada pulando para cima e para baixo em sua cama, berrando FELIZ ANIVERSÁRIO, CAL-PAL! e puxando suas cobertas como se o mundo estivesse prestes a entrar em colapso. Obviamente, Calum tinha as bochechas coradas enquanto ria e o agradecia, mas a vingança veio seis meses depois, quando Ashton completara nove anos.

Eles costumavam manter as janelas destrancadas todas as noites do ano por precaução. Certamente não estavam tentando se precaver de bandidos ou sequestradores naquela atitude que seria encarada como negligente por qualquer adulto que tivesse conhecimento dela. Seus objetivos eram, na realidade, se precaver caso algum deles não estivesse conseguindo dormir durante a noite ou tivesse um pesadelo. Se mantivessem as janelas destrancadas, qualquer um deles poderia se aconchegar no quarto do outro a qualquer hora da madrugada para que dormissem juntos e se acalmassem.

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2019 ⏰

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