~ Heloísa Mattos Narrando ~
(3 anos atrás)
Me sinto sozinha, perdida, abandonada, ela me deixou.
Eu só tenho 14 anos, como ela teve essa audácia?
De quem eu to falando? Daquela que dizia ser a minha "mãe", ela foi embora. Me deixou com a minha irmã recém nascida e foi embora.
Ela não me deu explicações, ela simplesmente foi.
Eu não trabalho, eu só estudo. Como vou sustentar uma criança de 1 mês? Como vou pagar essas contas? Como nós vamos viver?
Me sento naquele sofá com aquele bilhete miserável nas mãos que simplesmente dizia:
"Não me odeie, mas não posso ficar. Amo vocês e sempre vou amar.
Bjs Mamãe"Uma lágrima cai pelo lado direito do meu rosto, imediatamente logo outras caiem sem que eu ao menos impeça.
Abaixo a cabeça e a única coisa que sei fazer é chorar, dói, dói demais, dói como nunca me doeu antes. Dói por que ela dizia que nunca iria nos abandonar, mesmo depois que o papai tinha morrido e que só tenha ficado nós três.
O papai morreu quando minha mãe estava grávida ainda, ela estava completando seus sete meses de gravidez quando recebemos a notícia de que o papai tinha sido morto. A Polícia invadiu o morro e levou o que eu tinha de mais precioso. O meu pai.
E agora minha "mãe" faz isso?
Ela sabia que eu não sabia nem cuidar de mim direito, que eu não tinha responsabilidade alguma. O que as pessoas vão dizer? O que eu vou fazer?
É tão angustiante se sentir sozinha, é tão angustiante precisar de alguém.
Levanto a cabeça, seco as lágrimas, respiro bem fundo e olho pro pacotinho bem na minha frente. Busco forças de onde não tenho e a pego no colo. Olho pro seu rostinho, a abraço e recebo um sorrisinho banguela e fraquinho.
Sorrio, olho para dentro dos seus olhos mais uma vez, e sussurro prometendo:
'' Agora somos só nos duas, e eu te prometo que tentarei fazer de tudo pra te fazer feliz. "
(...)
ATUALMENTE.
Heloísa: Ana Júlia tira sua mão daí.. - falo a pegando no colo e colocando-a no sofá pela terceira vez. Essa garotinha é impossível, cada dia mais esperta e desobediente.
Faço cosquinhas na mesma e ela gargalha alto me tirando boas risadas também.
Ana Júlia: Pala mamãe. - ela diz e eu paro sorrindo. - A senhola ganhou, vou dicar quetinha mamãe. - ela sorri.
Pego um brinquedo no chão e entrego pra ela e volto a arrumar a casa.Nesses 3 anos que passaram, foram os 3 anos mais difíceis da minha vida. Eu tive que me acostumar com uma vida que eu não tinha, uma vida totalmente nova.
Tive que aprender a cuidar de um neném recém nascido, aprender a fazer comida e limpar a casa.
Tive que aprender a trabalhar e conciliar os estudos juntos.
Tive resiliência e aprendi a amar a Ana Júlia mais do que a mim mesma.
No dia seguinte que aquela mulher me deixou eu fui na escola e conversei com a diretora que me entendeu perfeitamente. Contei todos os detalhes e tudo o que aconteceu, ela deixou eu fazer um supletivo e terminar os estudos.
No mesmo dia sai atrás de um emprego e consegui na lojinha de roupas da dona Margarida, que se tornou uma mãe pra mim. Virei melhor amiga da filha dela, a Laura. Ela é mais velha que eu, ela me ajudou demais, cuidava da Júlia quando eu não podia. Quando eu tinha que fazer hora extra ou até mesmo prova no supletivo ela que cuidava da Júlia. Ela se tornou uma irmã pra mim.
Conheci também o Ph, o Pedro Henrique. Ele é braço direito do dono e do sub dono do morro à qual eu nem conheço. Só ouço falar.
O Pedro Henrique me ajudou por demais, e continua me ajudando.
Ele me acolheu na casa dele, sim eu fui despejada da minha própria casa. Como? A mulher que se dizia minha mãe, fez a Porra de um documento onde dizia que aquela casa não me pertencia mais.
A dona Margarida não podia me receber na sua casa por conta do marido bêbado dela. Foi quando conheci o Ph.
Estava eu e Júlia, debaixo de uma marquês embaixo de chuva e ele passou. Parou, e me levou pra casa dele. No início eu disse que só ia ficar por um mês, que era quando eu recebia o meu primeiro salário, e iria embora de lá.
Depois de 1 semana morando com ele, ele me fez prometer que não iria embora nunca. Ele tinha se apegado à mim e a Júlia, ele dizia que eu e ela era a vida dele. Que eu e ela trouxe alegria, paz e tudo oque restava pra ele.
Ele nos deu roupa, casa, comida e tudo que faltava. E quando eu ia dar um dinheiro pra ele, ele dizia que não precisava por que a recompensa dele era ver eu e a Júlia feliz.
Ele me adotou como irmã e a Júlia como filha, dá pra entender? A Júlia chama ele de pai e eu de mãe, o morro inteiro pensa que eu e ele tem um caso, ou algo do tipo. Mas, se soubessem a verdadeira história por trás disso tudo.
A última pessoa que eu conheci foi a Geo, a Geovana. Ela fez supletivo comigo e quando eu contei minha história pra ela, ela chorou. Ela me contou a história dela também mas vocês só vão saber quando ela contar. Ela também se tornou uma irmã pra mim, e hoje eu posso dizer que mesmo que a vida tenha me tirado 2 pessoas que eu amava por demais, eu ganhei 4 pessoas ao qual não troco por nada.
Ana Júlia, Laura, Pedro Henrique e Geovana. ❤
☆☆☆☆☆☆☆☆☆
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Maktub. - O COMEÇO.
Teen FictionMaktub é uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer". CONCLUÍDO E REVISADO ✅