Capítulo 4 - Tom Holland ou Uchiya?

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Taemy estava dentro de um carro com um garoto lindo — desconhecido — indo para sua casa. Tudo isso era algo novo para ela e não sabia como reagir e se comportar. E ela não tinha em sua mochila um spray de pimenta. Esperava não precisar porque se precisasse iria se arrepender pelo resto da sua vida — ou precoce vida — e viraria misândrica. As vezes ela era muito pessimista. Como se a Lei de Murphy sempre escolhesse ela como confirmação.

Sem falar que todos os seus órgãos vitais estavam se contorcendo dentro de todo o seu tronco. Se espremendo tentando sair de uma só vez pela sua boca. Até sua garganta estava trêmula. Uchiya percebeu todo esse nervosismo de outra maneira.

— Está com frio? — perguntou enquanto se ajeitava no banco.Taemy percebeu que sua lábio inferior estava tremendo. Também.— Um pouco. Tá tudo bem. — ela colocou o cinto — Então você dirige...Não sabia dizer se era uma pergunta ou uma afirmação. Estava mais para afirmação. O que era completamente óbvio.— Acho que sim — falou brincando. — Você não?— Não. — Taemy voltou-se para janela. — Não quis ainda. — Como se essa justificativa amenizasse o espírito adolescente que ela tinha— Acho que devia fazer quando possível. É importante sabe. Saber dirigir.— Anotado. — Taemy falou mais brusco do que queria mas ela sempre respondia dessa maneira.— Então... — Uchiya suspirou enquanto manobrava o carro para sair do estacionamento —, Vai me dizer onde mora?— Já disse. Em frente ao Parque Mangueira.— Ah. Verdade.— Sabe onde fica né?— Você mora em um daqueles prédios chiques gigantes? Se sim, eu bem sei.— Não são tão gigantes assim... Mas é. Moro.Eles já estavam na rua em frente à faculdade indo para Avenida Ronald, a principal da cidade. Uchiya deu um assobio daqueles que as pessoas fazem quando ficam impressionadas com algo que não deveriam ficar.— Sempre quis saber como é lá dentro. Deve ser incrível.— É normal. São vários prédios então tem bastante coisas.— Ah para. Deve ser lindo lá dentro. Aposto que tem uma mini floresta para os moradores passearem.— Não. Não tem.

Taemy estava séria demais, o que não era sua verdadeira personalidade, mas não sabia como se comportar na frente dele, de um estranho. Então sempre optava por ser direta e na maioria das vezes, calada.

Uchiya tamborilava os dedos no volante enquanto dirigia até a Avenida Geórgia e algumas vezes assobiava. Ela só percebeu que estava olhando atentamente para o seu perfil quando ele ficou desconfortável. Mas vamos enfatizar aqui que o maxilar de Uchiya parecia um contorno perfeito de um desenho de mangá. Assim como todo o contorno do seu rosto. Nariz arredondado se afinando até a testa. Boca fina que era sempre hidratada e os famosos olhos cintilantes.

— Tem alguma coisa errada no meu rosto? — perguntou enquanto dava rápidas olhadas para Taemy.

— Não! Não. — Ela se aprontou a dizer enquanto voltava seu rosto para a janela bruscamente — Desculpe. Eu só... estava pensando.— Em mim? — Uchiya sorriu de lado.— O quê? Não! Enfim. Vai reto até chegar no retorno do final da rua. — Tentando sair daquele assunto embaraçoso. Finalmente já estava chegando em casa. Estava mais do que ansiosa por sair daquele carro.— Olha... — disse ele quebrando o silêncio — sua casa não fica tão longe da minha. Se quiser, posso te dar carona numa boa. Até agora não te levei para mato algum. Acho que sou confiável. Taemy riu.— Obrigada. Mas ainda tenho minhas dúvidas então prefiro não correr este risco. — Taemy já tinha tirado o cinto de segurança.— Tudo bem. Avisa quando estiver preparada então. — ele estacionou em frente aos prédios com pisca alerta ligado.— Viu? Entregue sã e salva. — disse ele enquanto encostava seu braço esquerdo na janela e o outra repousava no banco do passageiro. Taemy revirou os olhos.— Obrigada de qualquer forma. Boa noite. — ela fechou a porta e atravessou a rua para entrar no seu prédio.


*****


O condomínio onde morava era uma espécie de quadrado com dois prédios altos em cada lado. Um total de oito prédios. Uchiya não estava errado em relação ao que tinha dentro do condomínio. Tinha três piscinas, uma delas era semiolímpica coberta e aquecida. E outra piscina que ficava junto de uma sauna. Também tinha uma academia grande que Taemy sempre usava. Ela não era fitness nem nada disso mas gostava de ser exercitar. Além dos salões de festas que havia embaixo de cada prédio, tinha spa, sala de estudos, lanhouse, salão de beleza, sala de música e várias outras salas de lazer. Taemy não tinha usado nenhuma delas. Não gostava de sair de seu apartamento. Ela tinha a impressão de que nada daquilo fazia parte dela. Com exceção da academia.


Taemy sempre chegava em casa cansada da aula.  E a daquele dia demorou mais que o previsto. Estava começando a ter enxaqueca, então iria jantar e depois ir para cama.


— Quem foi que te trouxe? — perguntou a mãe, que estava na cozinha, quando Taemy abriu a porta.— Um menino da minha sala. — ela queria falar o menos possível sobre isso. Mas sempre quando envolvia garotos, seus pais queriam saber tudo.— Quem é esse menino? — perguntou o pai, sério, que estava deitado no sofá assistindo alguma série da Netflix.— Acabei de falar. Da minha sala. Fez grupo comigo hoje. — Taemy saiu e entrou no seu quarto.— Qual o nome dele? — o pai perguntou enquanto estava no corredor.— Uchiya. — e ela entrou no quarto e fechou a porta.


Taemy agradeceu por ele ter um nome japonês. Seu pai confiava em pessoas que tinham descendência japonesa. Japoneses confiavam em japoneses. Ela também, inconscientemente, seguia essa ideologia. Como se fosse algo dentro da corrente sanguínea, ou até mesmo do DNA, que faz com que japoneses tenham uma relação mais natural entre eles. Isso é praticamente comprovado empiricamente pois o pai dela conhecia quase todos os japoneses existentes na sua cidade.


Sempre quando Taemy se prepara para dormir ela checa seu celular. Atualiza seu humor diário num aplicativo, vê qual série vai lançar novos episódios e quais já lançaram, lê alguns webtoons que lançam naquele dia e checa suas mensagens. O que ela viu foi:

a) mensagem de boa noite da mãeb) mensagem do grupo da salac) mensagem do Uchiyad) mensagem do NahuelResposta correta: todas.

O que ela se surpreendeu mais foi a cara do Uchiya no celular dela. No aplicativo de mensagens dela. Taemy bloqueava as notificações do aplicativo pois odiava quando aparecia aquela prévia da mensagem. As vezes ela não sabia como responder e passava horas sem entrar no aplicativo. Para solucionar esse problema ela simplesmente bloqueava os pop-ups. Então quando viu a mensagem do Uchiya o sorriso dela se abriu imediatamente e jogou o celular para o lado e começou, debruçada na cama, a dar mini chutes no colchão.

"O potencial assassino também chegou em casa a salvo ;)". Foi a primeira mensagem dele. "Você não conta.". Taemy respondeu. "Deveria prezar pelo bem estar de um potencial Vuber gratuito. Só acho.". "Você usa muito a palavra 'potencial'. Só acho". Na verdade, Taemy queria ter dito: sua foto de perfil salvaria o branqueamento dos corais, curaria minha enxaqueca e limparia meus poros de tão linda que é. "Para. Só usei duas vezes." "Já alertei-o para não repetir tanto da próxima vez". "KAKAKAKA" .O riso virtual de Uchiya era igual o de Taemy. "Obrigada pelo alerta Taemy.".

Ela não sabia dizer o motivo mas sempre que alguém escrevia seu nome, desse jeito, no final de uma frase. Ela achava meigo. Carinhoso. Fofo. Pode ser só na cabeça dela, mas Taemy sorriu que nem boba como se ele estivesse flertando com ela. 'Não. Larga de ser paranóica. Ele não tá flertando com você. Ele só escreveu seu nome e nada mais. Chega. Você nem sabe se ele tem namorada ou qualquer coisa assim.' Pensou Taemy.

"De nada, sr. Assassino". 

"Sr. Potencial Assassino. Mas prefiro Sr. Potencial Vuber grátis".  Ok — pensou Taemy — ele com certeza tá querendo me dar carona regularmente. Eu não to delirando. 

"Por enquanto está apenas o número. Saberemos o que colocar mais para frente."

 "T—T" 

";)"

 "Boa noite Taemy", 

"Boa noite Uchiya"

"... e obrigada"

Taemy tinha mania de desligar a internet e ficar deslizando pelas mensagens que deixavam seu peito cálido. Para que ninguém suspeitasse que ela estava online depois de ter falado que iria dormir. Então, ela revirou toda a conversa que teve com Uchiya até gravar cada palavra. Depois disso, ela foi tentar dormir e ficou imaginando possíveis encontros com ele ou possíveis conversas que queria ter com ele. Essa era a tradição de Taemy antes de ir dormir. Fantasiar com seus crushes. Geralmente ela fantasiava com aqueles crushes universais como Tom Holland, Max Minghella, Ezra Miller... mas agora, Taemy tinha um crush real por alguém. Por uma pessoa que ela realmente viu face a face. Que conseguiu sentir o seu cheiro. Que viu suas expressões faciais de perto. Então caiu no sono.

Taemy sonhou com:

a) acabou sonhando com o Tom Hollandb) sonhou que estava num show e Uchiya era o guitarrista que ficava piscando para elac) não sonhou com nadad) sonhou que estava se afogando dentro de um carro que caiu numa piscinaResposta correta: a

UchiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora