Capítulo Final

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**Nota da autora: A todos que acompanham este romance, agradeço de coração. Foi um esforço grande escreve-lo e fico satisfeita com o progresso e amadurecimento de escrita que tive nele. Este será o último capítulo. Não era minha intenção terminar tão rápido, tinha um desenvolvimento grande para ele, mas decidi fecha-lo. Aproveitem.

Conseguir o álbum da banda Fleet Foxes não foi uma tarefa fácil para Uchiya. Ele tinha brigado com sua irmã semanas antes do encontro. Estava envergonhado e orgulhoso demais para se desculpar com ela. Talila era seu nome. Tinha 28 anos e era engenheira de áudio em uma gravadora independente de São Paulo. Uchiya se inspirava muito em sua carreira, considerou ser uma músico profissional para seguir no mesmo ramo de sua irmã mas as circunstâncias da vida foram diferentes. Estava feliz em sua carreira atual. Talila era renomada em sua área de atuação. Tinha trabalhado com Caetano Veloso e Gilberto Gil em algumas produções e com artistas internacionais.


Uchiya foi para São Paulo no fim do ano por pura sorte.  Fazia alguns meses desde que via sua família e planejava contar, naquela viagem, seus planos futuros. Seu pai, Masahiro Sanzato, era um homem corpulento e rígido. Sua dureza aconteceu após a morte de seu pai, Kengo. Masahiro, antes disso, era um pai presente, feliz e brincalhão mas o falecimento de seu pai foi difícil o suficiente para ele se fechar ao mundo e a sua família. Falava só o necessário e ficava em casa em boa parte do seu tempo. A mãe de Uchiya, Carina Murai, contrastava com seu marido. Era sorridente e amava receber notícias de seus filhos, mesmo que fosse para dizer que tinha comprado pimentão no mercado. Talila era uma fusão de seus pais. Era fechada quando preciso e brincalhona com a família e amigos íntimos. Tinha namorado algumas vezes mas depois de se frustar por seus relacionamentos não durarem resolveu focar em sua carreira.— Cheguei! — Uchiya gritou enquanto entrava, atrapalhadamente, com sua mochila militar e lembranças que havia trazido de São Bernardo.— Graças a Deus, filho! Vem cá me dar um abraço! — Carina chegou da cozinha para aperta-lo entre os braços. — Que saudades! Me conta tudo, filho.— Conto sim. Cadê o pai? — perguntou enquanto sentava na mesa da cozinha.— Está na feira da rua vizinha. Pedi para ele comprar frutos do mar para você. O que trouxe para mãe? Eu pedi um presente, viu.— E eu não esqueci, mãe. — tirou da sua mochila uma embalagem de ervas para chá. Algo que Carina sempre usava.— Oh filho! Obrigada! Estava precisando dessas ervas diferentes. Aqui na feira está em falta. Obrigada mesmo. — Carina não gostava de passear na cidade grande como São Paulo e se restringia a lugares e lojas que tinham no bairro onde morava.— Eu sabia disso. De nada. E quando a Talila vai chegar? — perguntou enquanto comia alguns biscoitos de queijo que estavam na mesa.— Filho amado! Esqueci de sua irmã, Jesus! — exclamou ela. — Ela disse para falar para você quando chegasse para busca-la no serviço. Vá logo filho, ela já está de saída.— Certo, certo. Mal cheguei e já tenho que ser motorista dela. Ela não mudou mesmo. Volto logo. — se despediu da mãe dando um beijo em sua testa.Pegou o carro do pai e foi buscar sua irmã. Era preciso sobreviver ao estresse da cidade grande. O congestionamento já era quilométrico às quatro da tarde. Sara não trabalhava longe, levava aproximadamente trinta minutos de carro. Uchiya resolveu agir como se nada tivesse acontecido com eles. Com o trabalho agitado de Talila, ele pensou que ela esqueceria da briga.— Mãe esqueceu de te avisar não é? — perguntou Sara enquanto entrava no carro. Sentou-se atrás como uma verdadeira irmã mais velha.— Sim. Mas cheguei a tempo não? — disse olhando para ela pelo retrovisor. — Boa tarde, Talila.— Oi Chizinho. — respondeu com olhos semicerrados para ele.— Eu odeio esse apelido. Já disse para parar.— Eu sei. E vou continuar a não te dar ouvidos.Uchiya concluiu em sua cabeça que ela realmente tinha esquecido da briga então resolveu perguntar sobre seu trabalho e se teve algum cliente internacional nos últimos meses.— Você quer algo não quer? Diz logo. Para de ficar me enrolando. — falou enquanto bloqueava seu celular para prestar atenção.— Eu preciso de um álbum de uma banda americana chamada Fleet Foxes. Quero saber se você conhece a gravadora deles. Sub Pop. Conhece?— Antes de te responder, primeiro me responde porquê. — disse com um olhar duvidoso no rosto.— Tem um amigo lá em São Bernardo que é muito fã da banda. Saiu um álbum de aniversário deles. Fleet Foxes Collection. Queria dar para ele de presente de aniversário.— Qual o nome desse seu amigo? — perguntou Talila com seu rosto ainda com ar de dúvida.— ...Matheus, por quê?— Ah, então não é o Rafa, nem o Marco e muito menos o Dani?— Não.— Vai a merda Chizinho. — esbravejou Talila, dando risadas, enquanto se recostava no banco.— O quê?! — perguntou Uchiya sem entender.— Primeiro que não é amigo. É amiga. Segundo que você gosta dela e quer dar esse presente pra ela. Qual é o nome?


Ficou boquiaberto enquanto olhava para o rosto sorridente de Talila. Ela já havia feito isso com ele algumas vezes no passado. Mas dessa vez, ela tinha acertado tudo. Uchiya não sabia como isso era possível. Como ela conhecia ele tão bem assim. Ele não conseguiria adivinhar coisas da Talila como ela fazia com ele. Uchiya desistiu.— Taemy. — murmurou. Talila cruzou os braços e olhou para a janela.— É óbvio que conheço a Sub Pop mas isso não é o engraçado dessa situação. O engraçado é que eu acabei de receber várias cópias desse álbum para revender aqui no Brasil. Você tem uma sorte grande, garoto. E uma garota de bom gosto. Eu te dou uma cópia do álbum se contar mais dela.E Uchiya contou.


Quando chegaram em casa, seu pai já tinha chegado. Não só ele mas a família inteira de Uchiya. Tias, tios, primos, avós. Foi então que percebeu que foi tudo planejado. Buscar Talila no trabalho enquanto sua mãe preparava a casa. Ficou bastante feliz com a surpresa. Iria passar só uma semana em São Paulo, mas mesmo assim, toda sua família fez questão de aparecer para visita-lo. Até Masahiro deixou soltar um sorriso de seu rosto quando abraçou o filho.


A semana passou rápido. Uchiya fez questão de ficar em casa todos os dias. Aproveitou ao máximo a presença de sua família. Contou, na presença de seu pais e irmã, sobre a garota de São Bernardo e seus planos para um relacionamento sério. Carina ficou emocionada e o congratulou enquanto Masahiro bombardeava Uchiya com perguntas relacionadas à família da garota. Mas isso tudo queria dizer que eles estavam felizes e tinham aprovado a decisão do filho. Carina o instruiu a comprar um anel e foi com ele ao joalheiro do bairro. Ela tinha penhorado o anel da vó de Uchiya e foi buscar na joalheria. Era o anel mais brilhante que ele tinha visto. Uchiya ficou constrangido mas profundamente feliz com a reposta positiva de sua mãe.


Quando os ex-integrantes de sua banda quiseram se reunir com ele para colocar o papo em dia, Uchiya disse para eles o visitarem na sua casa. E foi o que fizeram. No último dia em São Paulo preparou com mini show para sua família na garagem da casa. Uchiya era abençoado por ter os melhores fãs possíveis. A família dele decorava de antemão as músicas que ele tocava nas suas apresentações para cantar junto com ele. A festa em família foi uma das melhores que já teve. Cantou Helena do My Chemical Romance com sua irmã e depois, em uma roda de violão, tocou I Want You do Bob Dylan enquanto Sara cantava e tocava gaita. Todos estavam felizes e Uchiya se despediu chorando de alegria.


No dia do encontro, ele tinha preparado todo o roteiro. Pediu ajuda à irmã já que ela sabia aquela altura. Resolveu buscar Taemy a pé em vez de esperar ela entrar no carro como se fosse um playboy buscando uma garota qualquer. Foi Talila que disse isso para ele. Uchiya ficou desesperado depois de pensar que Taemy poderia ter tido aquela mesma sensação. Quando a viu com aquele macacão estilo japonês, os dias de fazer perna na academia valeram a pena, foi teve que segurar firme para não cair no chão. Estava estonteante. Uchiya pensou que ela sabia que este encontro seria diferente e ficou feliz em saber que ela sabia. Quando entregou o presente para ela foi Uchiya que teve mais dificuldade em segurar o choro. Estava terrivelmente apaixonado por ela. O momento do anel se tornou mais fácil depois de perceber que aquilo era a decisão mais correta da vida dele. Quando Taemy o beijou, a mente de Uchiya começou a montar toda a sua vida com ela daquele momento em diante. E ficou feliz por cada cena que seu cérebro criou. Depois desse dia teve repertório o bastante para produzir um álbum inteiro para os Camaleões. Estava namorando a garota de seus sonhos e queria deixar registrado em suas músicas. Poderia não fazer nenhum sucesso mas Uchiya estava se tornando o homem mais feliz do mundo.

FIM.

UchiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora