Capítulo 10 - O macacão intelectual

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Nota da autora: utilizei diferentes recursos linguísticos e estruturais neste capítulo que gostaria 

de manter no resto da história. Espero que fique divertido e coerente de ler. Aceito feedbacks!

O espírito natalino nunca foi um ponto muito forte na cidade de São Bernardo. Apesar das decorações espalhadas nas principais ruas, Taemy sentia que faltava algo. Durante seus anos de percepção cognitiva, toda semana ela passava na Robin Peacock, rua movimentada, cheio de comércio e mansões deslumbrantes. Um mansão em particular chamava atenção da cidade inteira durante o período de Natal. Ela era a casa que possuía mais enfeites e decoração de Natal que qualquer casa da cidade. A casa era cheia de pisca-piscas em todos os frisos, cercas, janelas e paredes. Tinha um presépio com esculturas de animais, manjedoura, magos, Maria, José e Jesus iluminados por dentro num lado do jardim. Do outro lado tinha gnomos, boneco de neve, Papai Noel do mesmo material. Taemy acreditava que podia enxergar as luzes da casa pelo satélite da Nasa. Era uma decoração fantástica que encadeava o espírito natalino da cidade inteira. Na verdade, ninguém da cidade nunca viu ninguém saindo e entrando dessa casa, muito menos colocando as decorações de Natal em volta. As decorações simplesmente apareciam de um dia para o outro. A mansão era uma lenda urbana. Onde não sabia quem ou se havia alguém morando lá.


Quando estava indo encontrar com sua melhor amiga em um restaurante fitness na Robin, Taemy passou pela casa e, novamente, ficou maravilhada com a decoração. Os olhos dela brilhavam e a música Jingle Bells Rock ressoava na sua cabeça. O Vuber também ficou intrigado com a casa e comentou com ela sobre. Ele também era nativo da cidade e sempre passava na rua no Natal só para ver aquela casa. Quando chegou no local, sua amiga já estava a esperando. Clarissa, também chamada pelo apelido de Mizu por se aparentar com a modelo Mizuhara, conhecia Taemy desde pequena. Estudavam juntas desde o ensino infantil até o ensino médio. Agora estavam esperando sair o resultado do vestibular. Mizu prestou para Ciências Sociais. Ela era totalmente diferente de Taemy, possuía igualmente uma personalidade forte mas sua mente era voltada integralmente para assuntos socio-políticos do país. Participava de todos os protestos e assinava inúmeros abaixo-assinados. Pensou em fazer o vestibular para Engenharia Ambiental por causa de seu lado ambientalista mas decidiu trocar depois da mudança de governo. Ela era bastante entendida de assuntos ambientais por causa de sua mãe, e queria aprofundar nas outras áreas. Sua mãe, Rosa, era dona do restaurante fitness, na verdade vegano, em que estavam, além de já ter sido Bióloga na equipe do Greenpeace na Amazônia. Rosa tinha um histórico impressionante, ganhado diversos prêmios e honrarias pelo seu trabalho na floresta. Agora, Rosa era cozinheira vegana num restaurante em que abriu e estava fazendo um tremendo sucesso. Toda a família de Mizu era impressionante. Seu pai, Alberto Gutierrez é oceanógrafo e foi um dos fundadores do projeto de nascimento de tartarugas no país. Agora ele protegia os corais e o ecossistema marinho na ilha Fernando de Noronha. Ele passava a semana inteira na ilha e visitava domingo e segunda a família. Toda a familia Gutierrez tinha o histórico de conservacionistas ambientais pelo país e pelo mundo. Tinham um brasão e toda a genealogia descrita desde o período da idade média. Era um feito raro impressionante. Mizu tinha influências fortes de sua família e sempre quis fazer Biologia mas todos ficaram felizes quando decidiu que queria ser Cientista Social.


Quando Taemy se sentou na mesa perto da cozinha, ela imediatamente olhou para o chef e acenou com a cabeça. Isso era o sinal de que queria o prato que sempre pedia. Tapioca de legumes. Ela já chegou contando sobre tudo que havia acontecido desde a prova do vestibular. Mizu tinha viajado para ver sua família em São Paulo e tinha voltado recentemente. Taemy não quis contar por mensagem as novidades então resolveu espera-la. Durante o discurso de Taemy, Mizu fez diversas caretas e queria falar de imediato das Taemy insistiu em contar tudo antes dela fazer seus comentários.


— Eaí? — indagou Taemy depois de terminar.— Eaí? Por que você esperou tudo isso para me contar? Você podia ter me ligado e contado tudo! Não acredito que só fui saber disso tudo AGORA. — falou Mizu exasperada.— Bem... não fez tanta diferença assim. O encontro é daqui dois dias.— E o menino do vestibular? Era o Will? Eu não acredito NISSO. Apenas ECA — falou Mizu indignada enquanto mexia as mãos de um lado para o outro. — Eu te aviso a manter distância desse ser Tae. Ele não é um bom partido. Sabe o que ele fez no Médio?— Não... eu nunca conversei com ele lá e- obrigada Beto, deixa aqui na mesa- quem disse que quero algo com ele? Para falar a verdade, eu acho muito estranho pessoas que ficam conversando em inglês na conversa sendo que ele é brasileiro. Tipo, não vejo sentido mesmo.— Ele sempre ficava de olho nas japonesas do colégio. O que isso te diz Tae?- não Beto eu pedi vitamina e não suco, leva de volta por favor- Ele também já quis ter algo comigo. Acredita? Você deveria ter me contado isso antes e cortado relações com ele logo após a prova. NÃO ACREDITO Taemy. — Ela nessa parte já tinha levantado da cadeira e começado a andar de um lado para outro.— Fale baixo, filha. Tem clientes aqui querida. E oi Tae, quanto tempo! Como vai? — perguntou Rosa com um sorriso tão claro que ofuscou Taemy.— Vou bem, obrigada Rosa.— Ok, desculpe. Mas enfim. O que te digo é: bloqueia o contato do Will no seu celular. Agora, falemos de Uchiya. Que roupa vai vestir? Porque eu trouxe uns macacões e vestidos incríveis de São Paulo que você vai amar. — Mizu era apaixonada por macacões e vestidos largos e longos e o seu gosto foi passado para Taemy também. Elas, basicamente, tinham o mesmo estilo.— Eu estou pensando em usar o macacão preto que você me deu de aniversário.— Bom. Mas eu tenho um que vai dar uma vibe do tipo: "Ei, eu sou intelectual e entendo de várias paradas que ninguém nunca pensou em entender e que na verdade é muito importante para qualquer ser humano decente entender". Que tal?— Diferente. Não sei se quero me sentir assim nesse encontro.— Só quis dizer que vai te deixar gata, mulher.— Ah... então eu quero.— Espere aqui então que vou buscar.


A casa dela ficava na rua lateral e do lado do restaurante. Era uma casa pequena se comparada as mansões do bairro mas era um palácio se comparada a casa de Taemy. Ela as vezes passava o Natal com a família de Mizu, que era basicamente ela, Mizu, Rosa, Alberto e os dois Malamutes do Alasca que eles tinham. Mizu odiava viajar no Natal para ver a família do pai na Suíça então eles passavam o Natal na cidade e iam para Suíça no Ano Novo.


Mizu tinha chegado depois de 20 minutos e Taemy já tinha terminado sua comida e Beto tinha trazido a vitamina de Mizu. Ele sempre gostava de brincar com Mizu trazendo o pedido errado pra ela, mas até agora ela não tinha percebido que era uma brincadeira interna, ela achava que era algum tipo de erro recorrente de chefs. Mas Rosa e Taemy sempre esboçava um sorriso quando a brincadeira acontecia.


— Aqui. — Mizu disse, despejando uma sacola gigante na mesa. — eu trouxe o macacão e algumas bijuterias que sei que você não tem. Isso daqui — falou apontando e circulando a sacola com a mão — não vou te dar porque é meu mais novo macacão favorito. Mas se quiser os acessórios pode ficar.— Ok, obrigada.— Querida, você disse para mim que ia dar esse macacão pra Tae! — gritou Rosa do balcão.— Eu disse mesmo mas eu fui lá em casa e resolvi experimentar antes e eu gostei ué. Vai ficar pra mim, foi mal Tae.— Sem problemas. Sei que vai enjoar dele depois de alguns meses. Aí eu pego. — disse piscando para Rosa.— Com certeza isso NÃO vai acontecer com este macacão. — falou espreitando os olhos.— Vai dar tudo certo Tae, se se sentir ansiosa ou não saber o que fazer ou dizer, me liga. Vai no banheiro e me liga.— Você não ia numa festa neste dia?


Mizu, diferente de Taemy, era uma pessoa que amava festas e tinha uma aura de Sra. Dona da Festa mesmo ela sendo apenas uma convidada. Em toda festa que ia, ela sempre reunia um grupo de pessoas e ficava discursando sobre políticas públicas no país em questões ambientais e sociais. E isso não estragava nenhum pouco a festa. Ela falava de uma maneira pacífica e tranquila a respeito disso que fazia as pessoas se interessarem. Algumas só iam em festas em que Mizu ia só para ver ela discursando.


— Resolvi não ir para caso você precisasse de algo.— Awn, eu te amo Mizu.— Eu sei.Apesar de Taemy estar histericamente preocupada com o encontro, ela tinha impressão de que seria um encontro diferente, então formulou conversas hipotéticas na sua mente caso alguma delas acontecesse. Ela sempre fazia isso em qualquer tipo de situação interpessoal. Mesmo assim ela não parava de pensar que este encontro mudaria tudo.

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