Uchiya

Capítulo 9 - Outra Visão

Nota da autora: utilizei diferentes recursos linguísticos e estruturais neste capítulo que gostaria de manter no resto da história. Espero que fique divertido e coerente de ler. Aceito feedbacks!

Uchiya não sabia ao certo o que digerir de toda a socialização da nova cidade desde chegou há cerca de um ano atrás. Sempre morou em grandes capitais e fez trabalhos exemplares, dignos de medalhas, em diversas expedições. Apesar de sua prematura idade, seu intelecto era de um escritor de best sellers aposentado. Sempre morou com seus pais até decidir ingressar na carreira militar e antes disso já tinha formado sua primeira banda com colegas de turma do ensino médio. Nunca foi um menino de convicções e valores bem moldados. Era um rapaz que deixava a vida o levar no bom sentido da expressão. Não discutia assuntos cabulosos nem se inteirava sobre o que acontecia mundialmente. Gostava da vida pacata que levava no seu interior enquanto realizava covers e escrevia músicas bregas com a banda e as levava para tocar em algum pub de conhecidos dos pais.

Decidiu entrar para a carreira militar com base na louvável vida de seu falecido avó Kengo Sanzato. Foi um soldado valente que ficou conhecido mundialmente por lutar por muitos anos a favor do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era Tenente das tropas japonesas na região da Filipinas e foi mandando para as ilhas com um único objetivo: permanecer vivo. Mesmo após o término da guerra, Kengo continuou escondido na ilha determinado a viver. Não sabia da rendição do Japão pois as informações naquela época não chegavam rápido e Kengo não mantinha contato com nenhum nativo. Vivia nas ruas furtando fazendas e plantações de sementes a procura de alimento. Depois de 30 anos um conhecido o identificou na Filipinas e o comunicou que a guerra tinha acabado. Kengo, o último soldado que sobreviveu na ilha, ficou surpreso e não se rendeu até o seu comandante da época o falasse pessoalmente para abdicar seus serviços. Ele foi o penúltimo soldado japonês a se render. Na época a comoção foi gigante para cima dele. Todos queriam saber a sua história e como conseguiu sobreviver naquela ilha sem nenhuma ajuda. Ainda possuía a arma que usava para combate e algumas pólvoras. Ele foi eternamente indenizado pelo governo japonês com muito dinheiro e honrarias. Com isso, comprou diversos lotes no interior do estado de Campos Largos perto da cidade de São Bernardo. Começou a viver uma vida de fazendeiro e criador de gado durante o resto de sua vida.

Uchiya ficava sempre impressionado quando ouvia esses relatos de seus avô quando jovem. A imagem que criou de suas conquistas e feitos fazia com que Uchiya o olhasse com grande reverência como um monge olha para Pai Mei. E desde que ouviu a história de sua vida pela primeira vez, decidiu seguir seus passos. Não achava ruim considerar seu gosto por música um hobby constante enquanto trabalhava como soldado. Administrou isso muito bem logo que entrou para o Exército. Era sempre visto com bons olhos por toda a hierarquia militar pois a notícia de que era neto de Kengo Sanzato logo se espalhou. Se sentiu divertidamente orgulhoso no começo por receber tanta atenção dos colegas e até de oficiais da alta categoria mas conforme o tempo foi passando a bajulação passou a ser um desconforto constante para Uchiya, passou a se distanciar de algumas pessoas onde muitas só queriam se tornar amigas dele apenas para seu próprio status quo. Assim, conseguiu afiar seu instinto social a procura das conexões certas e honestas. E foi nesse momento que conheceu Marco, futuro integrante dos Camaleões. Marco, com seu rosto fleumático, era tão solitário e silencioso que Uchiya teve que monologar por duas semanas ao lado dele para finalmente Marco perguntar "Quem é você?". E Uchiya finalmente respondeu. Disse a ele que seu nome era horrível e lamentou por ele. Uchiya no entanto sentiu como se tivesse recebido o melhor elogio do mundo. A partir de então eles nutriram muito afeição um pelo outro e trabalho no Exército tornou-se muito mais bonançoso.Uchiya com o tempo foi percebendo que não era a carreira certa para ele. Ele sempre quis trabalhar na área da saúde e decidiu fazer Fisioterapia. Depois de formado acabou arranjando emprego mas ainda existia um interesse por outro curso.