8° Pulsar: Zahira * Gael

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Gael ficou comigo por um longo tempo, em silencio, no quarto. Meu pai estava dando entrada em toda a papelada, em algum momento ele trouxe vários documentos para que eu assinasse, afinal, estava me responsabilizando por qualquer coisa que viesse a acontecer.

_não precisa ficar com essa cara, Gael... – falei ao vê-lo encarando-me doente, como se eu estivesse prestes a morrer – não é a primeira vez que dou entrada em um hospital...

_antes, eu não conhecia você! – ele rebateu – você é minha companheira, a metade, tão esperada, de minh’alma, vê-la assim e não poder fazer nada, deixa-me doente!

_esta tudo bem, vai dar certo! – falei confiante, ou tentando parecer confiante, mas minha mãe parecia não acreditar muito nisso, não que eu pudesse fazer ou falar qualquer outra coisa.

Os dias tem sido difíceis desde o incidente, meus pais tentam se fazer de forte, mas posso ver o quanto eles estão emocionalmente destruídos, então o mínimo que eu poderia fazer, é continuar dando a eles minha confiança, mesmo que no fundo, não tivesse tanta certeza sobre como as coisas seriam, caso eu ficasse presa na cadeira de rodas pelo resto da vida.
Imagino meu urso sem poder andar, arrastando-se, agonizando por liberdade, completamente incapaz de se mover sozinho. Era desesperador demais, a morte era a melhor solução caso isso acontecesse, afinal, de uma maneira ou de outra, eu acabaria morrendo definhando lentamente.

Levaram-me para uma sala de raio-x, onde fui submetida a inúmeros deles, em varias posições, fizeram ultrassonografia lombar para localizar o projetil, eletrocardiograma, encefalograma, exames clínicos completos, e todos com resultados imediatos, o que era surpreendente para uma cidade tão pequena, mas tudo isso parecia ser obra de Elliot, o medico baixo, magricela com cara de criança.

Estudando-o de perto, quando não estava gaguejando, ele era brilhante. Uma força da natureza a ser considerada, ninguém chegava onde ele estava sem se esforçar para ter 100% de resultado em qualquer área investida.

Já se passavam das 16h quando, ele pediu para ter um momento a sós comigo, e uma vez sozinhos, o mesmo tentou gaguejar o menos possível.

_m-meu a-amigo medico c-chegou! – falou soando confiante – mos-trei a ele s-seus exames, e e-ele disse que vo-você t-tem grandes c-chances de v-voltar a andar! O tra-tamento é doloroso, m-mas c-como somos s-shifters e nos cu-curamos mais depressa, v-você ficará b-bem logo!

_entendi... – ponderei por um momento em suas palavras – Elliot, há alguma chance de eu não voltar a andar? Por favor, não me esconda nada!

_s-sim! Há u-uma chance pe-pequena! – respondeu.

_eu me pergunto como Gael apresentaria ao povo, sua companheira, uma mestiça e invalida! – a expressão de Elliot seria cômica, se não estivéssemos naquela situação – o povo quer sempre o melhor, e não acho que aceitariam alguém como eu ao lado de seu líder!

_e-eles não te-tem escolha! V-você é sua c-companheira!

_eu me sentiria horrível, condicionando ele a uma vida assim... Posso ver o quão esforçado ele é quando se trata de cuidar do povo... – murmurei e suspirei pesado – que horas vão me cortar?

_as 21h, pois a-antes, vamos a-adormecer o seu ur-urso uma ultima vez! – explicou – e então f-faremos a c-cirurgia!

_e seu amigo médico, onde esta? – indaguei curiosa.

_e-estudando s-seu caso, p-para aumentar as c-chances de su-sucesso! – explicou – a-agora você p-precisa descansar!

_eu estou bem! – dei de ombros, mas resolvi fazer o que ele me pedia.

Coração de Urso - Livro I - Série Amores IndomáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora