Coração de Urso - Livro I - Série Amores Indomáveis

Bônus: Pesadelo

_Gael... Por favor...

A cena a sua frente estava lhe deixando completamente paralisado e aterrorizado, seus músculos não lhe obedeciam, e sua mente quase não conseguia processar o que seus olhos viam. O ar entrava de forma escassa nos pulmões e ele se sentia tremer, mesmo sem sair do lugar.
Olhava o caminho até sua noiva, completamente banhado em sangue, haviam pedaços de corpos jogados por todos os lados, e o sangue acumulava, deixando o ar com um odor fétido de metal e tripas apodrecendo.
Não reconhecia o lugar onde estava, parecia algum tipo de catedral antiga, ou algum tipo de igreja gótica. Os bancos estavam empurrados para o lado, alguns amontoados, enquanto de outros restavam apenas cinzas. O ar parecia carregado de cinzas, tornando difícil a respiração, olhando pelas janelas por entre os cacos de vidro que ainda se prendiam a mesma, não sabia dizer se era noite ou dia.
Tudo estava morbidamente silencioso, e tudo que era possível ouvir, era o soluçar baixo de uma doce voz, e a dona daquela voz encontrava-se mais adiante, no altar.
Quando finalmente pôde dar o primeiro passo, sentiu algo embarrar em seu pé, o impedindo de caminhar, mesmo que temeroso, abaixou lentamente os olhos, para encontrar a cabeça de seu irmão caçula sob seus pés. Em desespero, deu dois passos para trás, incapaz de gritar ou controlar o próprio corpo.
Apoiou-se no banco mais próximo, apenas para encontrar a parte de cima do corpo de sua irmã; a pobre menina havia sido partida ao meio, e tinha tido seus olhos arrancados e enfiados na própria boca.
Atordoado, pode ouvir um choro de criança pequena, um som alto, vindo de um pulmão potente, parecia ser o primeiro choro daquela pequena alma, e em seguida, o grito estridente de uma mulher, enquanto a voz da criança se silenciava.
Seu estomago estava embrulhado, enquanto sua cabeça começava a dar voltas, desesperado era pouco para definir com precisão o que ele sentia.

_Gael... Por favor... – novamente ela o chamou,

Impulsionado pela voz, e temendo o que tivesse acontecido, ele forçou seu corpo a avançar, escorregando no sangue em alguns momentos, passando a reconhecer os corpos que estavam amontoados e despedaçados nos bancos; Os rostos lhe traziam memórias. Eram todos conhecidos.
Emmet, Andrews, Elaine, Iron, Joshua, Aya, Aiden, Elliot... Emmett, Seraphine... Eram tantos, e quanto mais rostos reconhecia, mais o pânico perturbava sua mente, imaginando o motivo pelo qual Zahira o estava chamando. Todos estavam mortos, mortos de uma forma hedionda e revoltante.

_onde... – balbuciou, fechando os olhos com força e apressando os passos.

Repentinamente o caminho parecia ter se estendido por quilômetros, e não adiantava o quão rápido ele caminhasse, o fim nunca chegava.

_Gael... Porque...

Quando finalmente enxergou sua companheira, não foi capaz de chegar até a mesma, caindo sobre os próprios joelhos, há poucos metros dela.
Zahira estava no altar, com o que deveria ser um belíssimo vestido de noiva, mas que agora estava em farrapos e coberto de sangue, seu corpo estava machuado, e ela agarrava com todas as forças o corpo inerte de Elloran. O pobre albino tinha tido o coração arrancado, e morrido com os olhos abertos, deixando refletidos ali o horror que o afligira nos seus últimos instantes de vida.
Quando Zahira levantou o rosto e o encarou, em prantos, ele ainda tentou engatinhar para mais perto, porém seu corpo não se movia.

_porque você não estava aqui... Nós te esperamos... Eu te esperei... Mas você demorou tanto...

Tinha demorado? Estava atrasado para alguma coisa? O motivo de todos estarem ali, no mesmo lugar, reunidos, numa capela, ela para celebrar um casamento: o nosso casamento.

_eles o mataram na minha frente... Me fizeram ouvir os últimos suspiros dele... Enquanto nosso bebê se afogava no próprio sangue... - balbuciou e soluçou em seguida - ninguém teve a chance de se defender...