Dou um pulo na cama quando o celular toca.
Talvez não seja uma boa ideia colocar Slipknot como despertador. Ainda um pouco sonolento, encaro as estrelas presas ao teto. Eu poderia me sentir incomodado por manter a mesma decoração do meu quarto desde criança até hoje, mesmo tendo 16 anos. Mas, tenho preguiça de fazer a mudança da mesma.
Preciso de café.
Desço tropeçando nos degraus. Dou de cara com a minha mãe usando seu já desbotado pijama cinza de sempre.
- Bom dia filho – Diz minha mãe animada!
- Oi mãe - respondo em um tom monótono.
Tomamos nosso café em silêncio. Minha mãe tem muitos defeitos, mas valoriza o silêncio tanto quanto eu, o que considero uma excelente qualidade.
Se eu fosse um ótimo aluno, eu poderia tentar não chegar atrasado no primeiro dia de aula, mas realmente não dou a mínima pra isso. Minha mãe já desistiu de me forçar a chegar cedo. Tomo um banho sem a mínima pressa e pego a primeira roupa que vejo pela frente. Calço meu All-Star e paro na frente do espelho. Agradável.
Bagunço meu cabelo jogando a cabeça de um lado para o outro, espirrando água por todos os lados. Ele cai nos meus olhos e um pingo de água escorre pelo meu rosto.
- Tchau mãe - digo, fazendo um sinal com as mãos ao sair pela porta.
- Até mais querido, boa aula - ela repete meu sinal.
Não entendo como alguém tem a coragem de dizer "boa aula". Assim fazem parecer que estamos indo a um lugar maravilhoso fazer várias coisas interessantes, quando na realidade aquele lugar chamado ESCOLA parece ser um hospício. Ainda mais quando as pessoas te odeiam.
Nunca fui bem aceito na escola. De acordo com minha mãe, isso aconteceu com ela também. Deve ser maldição de família. Na verdade, hoje refiro a mim mesmo como "anti-social". Alguém sozinho que não se importa com o fato de fazer tudo sozinho? Eu mesmo.
Chego em minha respectiva sala e vou direto para o fundo, no último lugar. A música que parecia alta em meus ouvidos, agora parece ser apenas um sussurro.
- Ei, esse lugar é meu - diz uma voz vinda de algum ser que não faço questão de saber quem é.
- Agora é meu - apenas respondo de volta, me sentando e já procurando a melhor posição para dormir.
A professora não parece ao menos notar minha presença, assim como o restante da turma. Através da música consigo ouvi-la dizendo algo sobre as nossas expectativas para esse ano. Como se jovens de 16 anos realmente soubessem o que fazer da vida. Não que eu não ache isso importante, só acho muito cedo para me preocupar com isso. Por enquanto minha única expectativa é sobreviver a esse mundo estranho em que vivo.
É impossível não perceber quando uma garota estranhamente parecida comigo entra na sala, nada discretamente. Ela acaba tropeçando na lata de lixo assim que passa pela porta, provocando risadas de alguns. Com um pouco de vergonha, ela procura um lugar para se sentar, e acaba se sentando na minha frente.
Pelo estilo, presumo que ela seja rockeira: camisa xadrez vermelha, calça preta e All-Star de cano alto. Confirmo minhas suspeitas quando ela liga a música tão alto no seu fone de ouvido que posso ouvir daqui. No mínimo, ela é surda. Mas pelo menos tem um bom gosto musical. Preciso admitir. É uma garota muito bonita. Não sei se o incrível e estranho fato de que ela também tem um estilo meio "emo" é o que me atrai.
Mais estranho do que sermos parecidos fisicamente, é perceber que ela fez exatamente o que eu fiz quando entrei: abaixar a cabeça e tentar recuperar as horas de sono perdidas. Seu cabelo azul é tão longo que acaba caindo na minha mesa, invadindo o que considero meu espaço pessoal, me obrigando a chegar um pouco para trás.
Abaixo a cabeça, mas não consigo dormir. As horas se arrastam pelo que parece ser a eternidade. Resumindo...
- EU ODEIO ESCOLA!!!
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Vidas Cruzadas
Teen FictionQual seria sua reação ao encontrar alguém muito semelhante a você? Muitos encaram isso como uma coisa normal. Oliver e Aurora também achavam isso. Juntos por acaso, se uniram aos trancos e barrancos em uma amizade improvável. Por tão semelhantes que...