Capítulo 3

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- Oliver, Oliver - diz minha mãe enquanto bate na minha porta - levante-se filho, esqueceu que tem aula hoje?

Droga. A bateria do celular acabou e perdi o horário do despertador. Mesmo atrasado, faço as coisas no ritmo de sempre. Sou repreendido pela minha professora de Inglês pelo horário de entrar na sala. Adiciono a pasta "Tanto faz".

A garota-parecida-comigo-que-não-sei-o-nome já está em seu lugar, o que me indica que cheguei realmente atrasado. Surpreendentemente, ela está prestando atenção na aula, então penso se não deveria fazer o mesmo.

Obviamente, falho em minha tentativa de ser o "aluno responsável que presta atenção na aula". Tenho um interesse limitado/nenhum interesse na literatura americana, ainda mais quando tenho uma péssima noite de sono. Nada muda durante a aula de álgebra, então apenas abaixo a cabeça e tento dormir até o intervalo.


O irritante sinal para o intervalo me acorda. Deixo a sala aos trôpegos e cubro meus olhos quando sou atingido pelos raios solares que pintam o corredor com um amarelo brilhante demais para quem acabou de acordar.

Me sento embaixo de uma árvore qualquer e fico observando as pessoas que passam. Algumas parecem ser tão... vazias. Tentam agradar a todos para serem mais populares e esquecem de ter sua própria personalidade. Ridículo.

- Oi - nem percebo quando a garota-parecida-comigo-que-não-sei-o-nome-e-blá-lá-blá chega - Posso me sentar?

Nunca havia imaginado como seria minha voz no 'modo feminino' , mas acredito que certamente seria como a dela. Dou de ombros e faço um movimento positivo com a cabeça. Devo admitir que estou um pouco curioso com relação a essa garota.

Ela se senta ao meu lado, mas com uma distância relativamente segura de alguns centímetros entre nós.

- Então, qual é o seu nome? - ela pergunta quando o silêncio já estava ficando constrangedor. 

Não sou muito bom em ter contato social.

- Oliver - não pergunto seu nome de volta, mas então me lembro que é isso que as pessoas fazem - E o seu?

- Aurora, prazer.

Dou um meio sorriso como resposta.

- Bem, Oliver - ela dá uma ênfase um pouco exagerada ao pronunciar meu nome - por que você fica aqui, afastado de todo mundo?

- Ahn... para falar a verdade - penso um pouco antes de responder - nem sei. Meio que as pessoas não gostam muito da minha companhia e eu gosto de ficar sozinho. Combinação perfeita. 

Falando em voz alta, isso me pareceu um pouco egoísta, mas é a verdade. 

- Devo ir embora? 

- Não, não foi bem isso que eu quis dizer - e agora, e agora, e agora - Nunca te vi antes, veio de outra escola?

Isso me parece uma pergunta inteligente.

- Na verdade não, eu morava em Anchorage.

- Espera. Anchorage? Alaska? Sério? - a que nível chegamos, meu Deus - O que te fez parar em Chicago?

- O novo emprego da minha mãe. Ela queria fazer algo diferente, e achou que se mudar seria a 'aventura perfeita' - seus olhos se perdem em algum lugar a frente. 

- É, pelo visto você não gostou muito disso.

Ela arqueia as sobrancelhas  e puxa o celular. Digita alguma coisa e vira a tela pra mim, soltando um suspiro. Uma foto de Anchorage. É pequena, mas de tirar o fôlego. 

- Essa era minha vida. Se sinto falta de lá? Muita. A vida tranquila, meus amigos, o frio intenso - ela sorri - Cara, esse friozinho de Chicago não é nada, vai por mim.

- Com certeza é uma mudança e tanto - sorrio de volta - Deve ser difícil.  

Aurora assume um tom seriamente melancólico, como se esse não fosse nem de longe seu maior problema. 

- Nada na vida é fácil Oliver - ela abaixa os olhos.

- Qual seria a graça se fosse? - olho para ela de relance, vendo um leve sorriso se formando no canto dos seus lábios. 

Vidas CruzadasOnde histórias criam vida. Descubra agora