Capítulo 2

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Eu estou desesperada no meio de duas decisões: entrar em pânico ou pensar em uma solução para sobreviver. Meu cérebro parece não conseguir escolher uma. Escuto um estrondo muito forte e tapo meus ouvidos. Sei que foi perto da minha casa e tão certo quanto o sol que nasceu hoje, isso foi uma bomba. Bom, ou eu permaneço no meu quarto passando a impressão de que não tem ninguém e morro debaixo dos entulhos da minha casa ou saio procurando uma chance de sobreviver. Não dava tempo de pegar nada, agradecida por meu casaco estar na cadeira perto da porta de saída, pego ele e saio. Soldados estão invadindo as casas, não dá para ignorar os gritos, mas tenho que me concentrar em mim, se alguém me ver, vou direto para a terra dos pés juntos; isso me faz rir porque me lembra minha mãe, ela tem essa mania de falar coisas doidas.

A rua da minha casa leva a uma pequena área com três saídas, tem um fusquinha velho no canto e corro para me esconder atrás dele. Quem diria que um fusquinha me salvaria... Uns soldados estão vindo atrás de um casal que correm desesperados. Eles param a alguns metros de mim, porém ninguém me nota, graças a Deus. Os soldados estão gritando com eles, mas não entendo o idioma, parecem ser da França, não tenho certeza. Um deles guarda a arma e tira uma faca. O casal começa a falar algo um para o outro, mas não escuto, não sei se estão se despedindo ou se consolando, com certeza um dos dois.

— Queria que não tivessem essas opções – penso em voz alta.

— Xiu – alguém faz um barulho com indignação.

Naquele momento eu congelei, pensei que estaria morta primeiro do que aquele casal, mas logo vi que estava errada sobre quem iria morrer primeiro. Os soldados enfiaram facas nas traquéias, para ser mais delicada, se é que isso é possível, do homem e da mulher. Eles caíram como se tivessem desmaiando ou isso era o que meu cérebro queria que eu acreditasse para me proteger, porque era óbvio que eles estavam tão mortos quanto minha tataravó. É chocante e desesperador a frieza com que matam, parecem programados, simplesmente enfiam facas no corpo das pessoas para tirar a vida delas como se fosse algo cotidiano. Tem tanto sangue por aqui, mas para eles deve parecer água, pois voltam para onde estavam como se nada tivesse acontecido.

— Obrigada por quase me matar também.

Me assusto ao ouvir a voz novamente e saio dos meus pensamentos. A indignação por causa da acusação falou mais alto e concluo que a voz é de uma garota, então acabo abrindo a boca também.

— Primeiro, eu não sabia que a princesa tava aqui. – falo enfatizando o "princesa"– segundo, "também"??! Eu nunca matei ninguém.

— Aqueles não eram seus pais?

— Ah, claro. Porque eu estaria aqui conversando com você se aqueles fossem meus pais, não é mesmo?! – A garota bufou.

— Desculpa, senhorita ironia.

Senhorita ironia? Sério? Ela se levantou um pouco, procurou por alguém na rua e saiu correndo. Eu não quero ir atrás dela, mas ficar sozinha não deve ser uma boa opção quando o mundo está instável. Começo a correr atrás dela, já que me bate o medo de a perder de vista. O que vou falar para ela? "Ah, oi, será que eu poderia ficar com você até o mundo colocar a cabeça no lugar?" –  dou uma risada de deboche com meu pensamento – vai ser ótimo levar um fora.

— Ei – grito, mas não tão alto. Primeiro porque não consigo, segundo não quero chamar atenção de alguém com alguma faca ou arma.

— O que você quer?

— Desculpa, eu deveria ter falado de uma forma melhor, eu não sou assim. Olha, o mundo está instável e eu também, mas ficar soz.. – Ela me corta.

— Ficar sozinha não é boa opção, eu sei. Parece que alguém tá precisando da princesa aqui, não é mesmo?!

Fico sem resposta para ousadia dela.

— Vamos. Uma ideia pior ainda é ficar parada aqui. Bella.

Por um momento penso que ela foi irônica de novo e está tentando me chamar de feia, até perceber que quis diz seu nome.

— Marjorie – digo o meu nome na mesma entonação que ela.

Correndo pelas ruas de um mundo em guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora