Capitulo 9 - εννέα

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"Sou como um barco na água
Você é todos os raios e ondas
que acalmam a minha mente"

Alguns meses antes

Taehyung desenhava as estruturas do museu do Louvre de longe, enquanto tomava um café horrível de uma lanchonete qualquer. Havia se acostumado com aquele líquido escuro e amargo. Suas calças de couro apenas faziam-o sofrer sob o sol da França, mas ele não se importava, pois apenas gostaria de distrair sua mente com o lápis que segurava sobre o papel. E todas as vezes que traçava linhas finas ou grossas com o grafite, sentia tristeza por ter largado a Universidade de Artes de Paris. Pensando sobre a Europa, sentia falta de casa, de Daegu e de sua mãe.

Sentia falta de sua mãe mais do que qualquer outra coisa.

A ponta do lápis quebrou devido à força que o tatuado aplicava. Estava com raiva. Droga, ele havia acordado cedo naquela manhã para tomar um sol, um café, desenhar qualquer coisa à fim de não sentir exatamente esta raiva e frustração. Cansado, deixou um trocado sobre mesa para o garçom, fechou seu caderno e foi fazer o que mais amava: uma tatuagem.

Ele se lembrava da primeira tatuagem que havia feito, ela tinha um grande significado e era de uma memória que ele não gostaria de esquecer. Contava uma história. No entanto, depois de sentir prazer na dor que a agulha lhe causava na pele, como se o castigasse de todos os pecados, pegou o gosto por escolher desenhos que apenas gostava. O sangue não o incomodava mais do que todas as outras coisas que fizera sob as ordens seu pai.

- Senhor Kim, achei que não viria mais - disse um homem branco e barbudo. Ele tinha tatuagens até o seu rosto, o que tornava-o bem autêntico.

- Eu sempre venho, Edgar - Taehyung cumprimentou o tatuador e sorriu minimamente. Não queria denunciar seu mal humor à pessoas aleatórias.

- E o que vai ser dessa vez? Um dragão?

- Não, um dragão não... - disse enquanto pesquisava algumas fotos em seu celular. - Eu estava pensando aqui e gostaria de flores no meu pescoço. Rosas, para ser exato.

- Parece excêntrico. Vamos começar? Não tenho horário marcado agora.

Taehyung estava feliz com sua decisão, simpatizava com a ideia de ter flores em seu pescoço. Era uma parte de seu corpo que ele se sentia confiante, apesar de ter conhecimento sobre sua beleza física. Mas o pescoço... Era grande, forte e moreno. Ele apenas gostava de imaginar alguém lhe mordendo e lhe beijando no local depois que estivesse com a tatuagem cicatrizada.

- Vamos.

Enquanto Kim se acomodava na cadeira em uma posição extremamente desconfortável e a agulha penetrava sua derme, ele pensava se tudo aquilo que estava fazendo para seu pai iria acabar. Se a sua mãe ficaria bem e se o plano de Hades sucederia. Ele torcia para que nada daquela merda desse certo, mesmo que todos os seus crimes tenham sido em vão.

Foram duas horas com o pescoço virado e perdendo sangue até que o desenho terminasse. Estralou seus ossos depois que foi aplicado plástico na região, para enfim pagar a arte que agora estava cravada em seu corpo, para sempre.

O loiro caminhou com preguiça de volta para o museu do Louvre, onde encontraria seu odiado pai e quando pegou os ingresso da entrada, seguiu o caminho que tanto conhecia para o quadro 'A Barca de Dante'*, por Eugène Delacroix. Era uma arte linda – mesmo que mórbida – e rica em detalhes. Pena que era uma porta de passagem adimensional para o submundo.

Taehyung, então, tirou de seu bolso um frasco de névoa* e soltou-a no ar, para que enganasse olhos humanos do que ele estava prestes a fazer. Depois de ficar espessa o suficiente, Kim, esticou sua mão áurea para a tela pintada e sentiu quando o quadro começou a engolir seu corpo aos poucos, fazendo-o fechar os olhos e impulsionar seu corpo para dentro daquele portal maldito. Quando voltou a usar sua visão, já estava no cais de Caronte, o barqueiro do submundo.

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