Álcool

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Vitória pov

Olhei para o relógio mais uma vez.
Só tinham passados três minutos da última vez que tinha olhado.
Já faziam quase doze horas que Ana Clara tinha sumido sem dar explicações. Tudo bem, sei que ela é uma mulher livre, maior de idade, e já sabe se cuidar. Mas Ana não era disso. Fiquei repassando a noite toda a nossa última conversa.
Flashback on

- Vitória? - Ouvi a voz de Ninha do outro lado, quase que um sussurro comparado ao barulho de música ao fundo. - Vitória tá me ouvindo?

-Sim mulher. To ouvindo. Ninha, onde tu tá?
Estamos...- olhei pro visor do celular enquanto escovava os dentes- há quinze minutos de nos atrasar. Tu vai direto pro estúdio?"

Pela ligação era possível ouvir um som muito alto, parecia um pop ou algo do tipo.
-Vi então...espera Mari, tô falando com a Vitória. - Ana falou a segunda frase nitidamente tentando ao máximo fazer com que eu não escutasse. - Então. Não vou conseguir passar o som hoje. Houve um imprevisto.

Franzi o cenho mesmo que Ana não pudesse ver. Ela estava com Mariana, sinal de que provavelmente iria curtir uma noitada com muito álcool, eu só ainda não entendia o motivo.
Ri sem graça. O tipo de coisa que Ana chama de imprevisto. Nada responsável sabendo que tinhamos uma nova turnê para ensaiar.
- Eu sei que tu tá pensando, que tenho que estar preparada.... Pro novo estilo de show. Mas juro que amanhã passo aí no seu apê e...
-Eai o que Ana? - Indaguei
- Vi amanhã a gente se fala tá? Beijo, bei...
Mal consegui ouvir as últimas palavras de Ana por conta da música que estava muito alta.

Olhei pro relógio e decidi ligar pro Felipe, não gostava nada da idéia de passar pano para Ana Clara.

No terceiro toque ele atendeu. Inventei uma desculpa de que Ana estava com uma dor na barriga, fruto de algo que ela comeu no almoço e ele pareceu acreditar. Claro que ficou com um pé atrás quando disse que ela já estava dormindo, afinal iam dar apenas oito horas. Mas se falando de Ana Clara, com certeza ele aceitaria a desculpa de que ela comeu e passou mal. Ninha come tudo que tem direito.

Flashback off.

Tomei um gole do meu chá. E olhei em direção a sala. Para fora do sofá estava o pé de André. Avisei a ele que tinha cancelado a passagem de som e com isso ele decidiu vir pra cá. Não contestei por vários motivos.
Um: Todo mundo sabia que tinha um clima entre nós, e de fato tinha.
Dois: Eu realmente gostava da companhia dele. Gostava de sentir seu beijo doce e ver seus olhos apaixonados sobre mim.

Mas depois que decidi na noite anterior que não queria jantar pois não tinha apetite, ele decidiu ver se eu não estaria com outro tipo de apetite.
Em vão.

Eu era acostumada a ver Ana saindo com seus amigos para beber, ou qualquer outra coisa. Recentemente fez uma viagem com Mariana, Mike e outro amigo deles para a Disney. Fiquei muito feliz por vê-la feliz. Mesmo não gostando muito de suas companhias. E ficar pensando no que havia acontecido para Ana desmarcar a passagem de som em cima da hora me tirou toda vontade de comer.

Fui tirada de meus pensamentos quando vi Deco se esticando no sofá, ainda com a cara amassada. A minha não devia estar diferente, nós dois dividindo o sofá não iria resultar em algo diferente, por mais que seu sono tenha sido muito mais profundo que o meu.
Olhou em volta, provavelmente me procurando e quando seu olhar encontrou com o meu, abriu um sorriso. Cheguei perto retribuindo e fazendo um carinho em sua barba que crescia.
-Bom dia minha flor. - Disse, com a voz carregada de sono, me puxando pra sentar ao seu lado.
Deixei  um beijo rápido em seus lábios.
-Bom dia - lhe sorri. - Quer chá? Ou tomar café?
Ele manteve o sorriso enquanto balançava a cabeça - Não da Vi ... Cê desistiu da tua passagem ontem. Mas combinei com os caras hoje cedo. Sem contar que tenho que passar em casa pra tomar um banho e trocar de roupa.
-Tudo bem... - Disse me levantando. Olhei para o relógio mais uma vez enquanto Deco procurava um par do tênis. Ele pareceu perceber minha inquietude.

-Ei, o que houve? - Disse terminando de calçar o tênis e se aproximando.

- Não é nada .... Só queria saber por onde Ana está.

André soltou uma risada alta e rouca, ainda embargada pelo sono. Chegou mais perto de mim e me abraçou.
- Calma minha flor, Ana sabe se cuidar. Se não... Aquela amiga sapatona cuida por ela.
Bati no ombro dele. Não queria pensar que Ana e Mariana estavam juntas, até por que Ana estava com Mike agora. Balancei a cabeça afastando esses pensamentos.
Enquanto isso Deco ainda ria e me puxava pelo braço em direção a porta. Girou a chave na maçaneta abriu a porta, depois se virou pra mim.
- Se hoje não tiver ocupada, quer jantar mais tarde? A gente pode comer fora ou pedir algo pra comer lá em casa mesmo...
Lhe sorri, gostava de ver o esforço de Deco para me agradar.
- Eu respondo logo que sim, mas tu não esqueça que devo uma passagem de som pro Fê.
Ele me puxou para um beijo rápido,em seguida se separou de mim, juntando as mãos na frente do corpo e fechando os olhos.
- Tomara que Ana decida dar o cano hoje de novo.
Bati em seu braço de novo - Toma jeito menino - disse sorrindo e mandando um beijo pra ele. Que o agarrou no ar e se virou com cara de apaixonado rumo ao elevador.
Fechei a porta - menino besta.

Claro que Ana Clara não estaria com Mariana. Não do jeito que ele disse.
Mas decidi não me ater muito a isso.

A casa não estava bagunçada, mas como única alternativa para não pensar muito, separei alguns produtos de limpeza e decidi que faria uma faxina.

Comecei pela cozinha, foi até rápido. Tanto que só notei que faltava algo quando olhei para o som encostado na parede, desligado.
Bati na testa e andei em direção a ele, já pegando meu celular para conectar à playlist. Mas antes que eu pudesse  apertar o Power, a campainha tocou.

Corri para a porta, e nem me dei ao trabalho de olhar pelo olho mágico.
Quando abri a porta dei de cara com uma Ana Clara com uma expressão confusa.

-Oi. - Ela deu um sorriso turvo, com os olhos pretos marejados e avançou em minha direção, meio abraçando meio se escorando em mim.
-Ana!? O que houve mulher?. - Inspirei fundo para manter o equilíbrio e quase que imediatamente minhas narinas queimaram com o cheiro de álcool. A soltei e a encarei de frente.
-NaClara, onde pelo amor da Deusa tu tava?

As Coisas Tão Mais LindasOnde histórias criam vida. Descubra agora