Jundiaí

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14/02/2019

Vitória pov

Ana dormia tranquilamente com a cabeça recostada na janela do carro enquanto lá fora a tarde calma estava a virar noite. Felipe ia na frente ao lado do motorista, atrás dele ia Iza mexendo em alguma coisa com o notebook no colo. Estávamos chegando um dia antes para fazer o show em Jundiaí.
Depois de algumas opiniões dadas pelo pessoal da banda, e até mesmo o próprio Felipe, havíamos acertado o repertório. Teríamos quase 15 minutos de integração direta com o público, então eu tinha certeza que seria tudo perfeito.

Ainda faltava uma hora para chegarmos de fato a cidade, e mais meia hora para chegarmos no centro onde Isa tinha escolhido o hotel.
Eu tentei dormir durante o caminho, mas não consegui, então decidi abrir o Spotify e ouvir alguma música. Abri o sorriso quando entrei primeiro na página do duo, nossas reproduções estavam indo muito bem e isso me encheu de orgulho
Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de ouvir a própria música, mas mesmo assim, meus gostos meio que dançavam entre estilo o que nós produziamos e algumas coisas parecidas.

-Que foi Vi? Tô só vendo você agoniada aí, vira pra cá e pra lá. - Isa desviou os olhos do notebook.

Tirei um dos fones por mais que estivesse ouvindo tudo que ela falava, já que não consegui escolher uma música.

-Mulher, eu só quero chegar logo. Eu tô agoniada por que queria fazer alguma coisa e dentro da van não dá pra fazer nada.

Isa deu uma risada, mas foi Felipe que falou:

- Você sabe que é o contrário né? A maioria das pessoas vai esgotando a energia, chega essa hora quer mais é recuperar mesmo.

Realmente, mas eu estava estranhamente inquieta, me passou pela cabeça tomar um remédio, mas já não gostava de tomar com precisão, imagina sem.

- Será que existe algum tipo de jet lag de uma cidade pra outra? Perguntei.

-Provavelmente não Vi. Mas se acalma aí, já já a gente chega.

Acenei e voltei a por o fone. Após uma hora de silêncio total, eu estava de olhos fechados mas senti Ana se mexendo do meu lado. Mantive meu olhos fechados para tentar relaxar, mas não consegui.
Abri os olhos e reparei  em Ana com o celular apontado para mim

Dei risada em silêncio.

- Tá fazendo o que, Ana?- Falei olhando para ela, não para a câmera.

-Tô mostrando pra Jundiaí que chegamo, mas tu abriu os olhos.  - Ela olhou pela janela - Tá me dando fome sabia, será que no hotel já tão servindo janta?

-Devem tá, tem gente que come cedo né. E tem quem não para de comer também.

- Eu mesma.

- Tu mesma - completei.

Depois de algum tempo, graças ao bom Deus, chegamos no hotel. E não era só Ana quem estava com fome, eu estava faminta e pedindo a todas as forças do universo para que tenha algo vegetariano no cardápio do restaurante do hotel, já que sempre ficava sem graça de pedir para alterarem algum prato. E na maioria das vezes ainda vinha errado.
Felipe chamou o garçom e ficamos esperando. Quando chegou, ele foi anotando os pedidos até chegar minha vez.
Logo de cara eu vi que não teria outra opção a não ser comer o básico.

- Moço, me vê arroz branquinho, com feijão e a salada cozida com milho.
Ele assentiu.
-O bife você vai querer ao ponto? - Ele perguntou mas não tirou os olhos de Ana, que mexia no celular.
- Não moço, eu não vou querer o bife de jeito nenhum, vissê.

Se forçou a olhar pra mim. - Bebidas?

Nos olhamos e entramos de acordo.
- Suco natural por favor. Dois laranja, dois acerola. - Disse Felipe. O garçom assentiu, e antes de sair deu mais uma olhada em Ana.

Aquilo de fato me irritou, quanta falta de profissionalismo.

Depois de pouco tempo ele se aproximou com o prato de Ana e Felipe, e logo voltou com outros dois pratos. O de Isa e o meu. Ele serviu ela primeiro, depois serviu o meu e se retirou.
Arregalei os olhos para o pedaço enorme de carne que estava no prato. Meu estômago fez um bolo. Ana percebeu e olhou pro meu prato também.

-Ah não acredito! - Exclamou chamando atenção de Isa e Felipe. - Oh moço! Volta aqui.

O garçom que já chegava no balcão olhou pra trás imediatamente quando viu que era Ana quem estava chamando. Ela repetiu o movimento com a mão, o chamando para perto.
O descarado veio o caminho todo exibindo o melhor dos sorrisos para ela.

-Sim, linda?

Ana abriu a boca mas quem respondeu fui eu.

- Eu fiz o pedido, sem a carne.

- Sério? - Ele me olhou com desdém, e olhou a comanda. - Por que na comanda está 'ao ponto'.

Ana revirou os olhos

- Na verdade, eu tenho certeza que ouvi ela dizer que não queria a carne no pedido. Acho que tu deveria prestar um pouquinho mais de atenção ao seu trabalho.

O garçom ficou primeiro amarelo. Depois roxo.

- Desculpem por favor. Eu vou trazer outro prato.

- Não precisa. - Eu disse. Já havia sido uma viagem longa, eu estava cansada e nem fome eu estava sentindo mais. - Só embala a salada que vou subir para o quarto.

Felipe deu um olhar de desaprovação para o garçom que retirou o prato e saiu da mesa.

- Foda que é sempre assim né Vi?- Ouvi a voz de Ninha. Balancei a cabeça, que já estava dando uma pequena dor

- Por que você não quis outro prato? - Felipe perguntou.

- Ah, Fe, eu só não quero confusão, tem umas coisa que não precisa.
Se vocês me dão licença - fui levantando -  eu vou indo pro quarto tomar um banho.

- E tua salada? - Ouvi Ana perguntar.

- Tu leva quando subir.

Ela balançou a cabeça e me virei.


...

Depois de um bom banho finalmente relaxei na cama. Não era tão tarde, na verdade tinha acabado de dar oito horas.
Fiquei deitada trocando mensagens com Deco.

Após umas mensagens trocadas, minha mente começou a vagar pra longe.
Pra longe não, pra perto até.
O olhar daquele garçom pra cima de Ana me incomodou de verdade e a bichinha parecia nem se tocar dos olhos dele nela.

Fui tirada de meus próprios pensamentos quando a própria Ana abriu a porta do quarto, ainda mastigando alguma coisa na boca e na mão trazia um pequeno pote de esopor.


As Coisas Tão Mais LindasOnde histórias criam vida. Descubra agora