As Coisas Tão Mais Lindas

Tarde

Vitória pov.

Depois de quase me matar do coração, Ana foi tomar seu banho. Ela havia pensado que eu estaria saindo, como se eu fosse lá pessoa de deixar Ana sozinha diante uma situação daquelas!

Balancei a cabeça para mim mesma enquanto pegava os pratos para servir a mesa. Fiquei bem feliz que Ana gostou do caldo de legumes que fiz. Ela não curtia coisas vegetarianas, mas pareceu genuinamente gostar do caldo.

Coloquei uma quantidade generosa para mim e o mesmo para ela. O caldo ainda estava bem quente, então daria tempo de Ana terminar seu banho e ele ainda estaria numa temperatura boa. Peguei copos e coloquei na mesa junto com a jarra de suco e sentei para esperar ela.

Só quando sentei, reparei que não havia pegado no celular desde a hora que Ana chegou, então fui até a sala e o peguei.
Nada de novo, tinha uma mensagem da minha mãe, um vídeo de Sabra e duas de André avisando que já tinha saído do ensaio e que iria para casa. Respondi as mensagens e quando bloqueei o celular o jogando de novo no sofá, Ana apareceu pela porta com os cabelos molhados.

-Bora comer? - Ela parecia melhor, mesmo eu vendo que seus olhinhos ainda estavam um pouco inchados e vermelhos.

- Bora? Respondi levantando do sofá.

- Então bora.

Ana realmente pareceu gostar do caldo pois comeu tudo o que eu tinha colocado e ainda algumas fatias de pão que coloquei para ela comer junto.
Quando estávamos quase acabando, o interfone tocou e fui até lá para atendê-lo.

- Dona Vitória? - A voz do porteiro Manoel soou do outro lado da linha.

- Oi Seu Manoel, tudo bem com o sinhô?

- Estou sim, ahn.. chegou um pedido de comida aqui em baixo com o seu nome, mas como você não avisou eu decidi ligar pra perguntar se pode subir.

Nesse momento, bati a mão na testa, e Ana me olhou confusa. Fiquei tão empolgada com Ana gostando do caldo que esqueçi  que havia pedido lasanha pra ela.

- Dona Vitória? - Ele perguntou devido meu silêncio por um tempo.
- Sim sim, Seu Manoel, pode mandar subir.. é que demorou tanto que eu mesma acabei esquecendo.

-Tudo bem, vou mandar, tenha um bom dia.

Respondi Seu Manoel e desliguei. Voltei para a cozinha com uma cara que sabia que me entregaria.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa?

Cruzei as mãos em cima da mesa antes de responder.

- Então, é que tu aceitou o caldo tão bem, que eu até esqueci de dizer que pedi lasanha pra ti. Na verdade demorou tanto que esqueci até que tinha pedido.

Vi os olhos de Ana brilharem quando eu disse a palavra "lasanha".

A campainha tocou e antes que ela respondesse eu fui até lá pegar o pedido.

Abri a porta.

- Boa noite, pedido 7485, Vitória Fernandes?

-Sim sou eu merma. Mas moço que demora foi essa? Eu e minha amiga já almoçamos, imagina se tivéssemos esperando isso?

Ele ficou sem graça e quanto falava um "Me desculpa" quase inaudível. Peguei o pedido, agradeci a ele e entrei de volta.

Ana me acompanhou com os olhos até que eu me sentei e coloquei o pedido dela em sua frente.

- É tudo pra mim Vi? - Falou sorrindo enquanto eu ria junto.

- A lá vonté.

Ana abriu o pacote e seus olhinhos pequenos brilharam ainda mais quando viu que era uma lasanha quatro queijos.
Eu não imaginei que ela fosse comer tudo, mas para minha surpresa ela comeu.

...

Ana decidiu que limparia a pia sozinha mas como eu não iria ficar sem fazer nada, comecei a guardar a louça e rapidinho terminamos.
Já eram quase duas da tarde, e nossa passagem de som estava combinada as 17h.

Eu e Ana ficamos conversando sobre coisas aleatórias, mas depois de um tempo cada uma ficou só na rolagem do feed do Instagram, hora ou outra uma mostrava algum meme. Ana entrou numa página de memes nosso, e minha nossinhora, como o povo é criativo. Rimos de vários mas depois também enjoamos de ver o Instagram.

Ficamos tanto tempo em silêncio na sala, que pensei que Ana tivesse dormido.

-Ana? A chamei. - Tá dormido?

-Tô não Vi.  Por que?

-Sabe o que eu tava cantando ontem mesmo, e reparei que nunca mais havíamos cantado?

Ela respondeu com um som nasal, e se virou pra mim já que estava deitada no tapete da sala e eu no sofá.

Respondi cantando o trecho da música que havia lembrado ontem.

"Se aponto pra estrela e o dedo cai,
como é que eu conto
quantas tem lá no céu?
Por quê, como é que eu vou saber?"

Ninha me olhou e deu risada mas em seguida levantou fazendo sinal de espera e foi em direção ao quarto. Quando voltou, trazia meu ukulele nas mãos.
Observei enquanto ela parecia conferir se as cordas estavam afinadas, mas logo depois sentou no tapete ao meu lado de novo e continuou, dessa vez acompanhando com as notas no instrumento.
Que mesmo sendo diferente, a entonação continuou linda.

Pro mundo ser o mundo meu de cá,
o que é que teve de se acontecer? Não sei.
Não tem quem diz saber.

Juntei minha voz rouca a sua suave.

Quem é que fez o tempo
ter lugar lá dentro do relógio,
dá pra poder calcular, talvez;

Quanto deve demorar,
Pra depois de amanhã chegar
Quantos dias pra acordar  ahhh aaah.

Pra tentar de responder,
vem vou te dizer,
Liberdade é não saber.

Graça é se perguntar,
Como é bom sonhar,

E a verdade ninguém vê, que a felicidade é ....
Mistério.

Passamos o resto da tarde cantando músicas dos nossos EPs de Carnaval e dia das Crianças, depois Ana decidiu que iria pra casa colocar uma roupa dela e que nos encontraríamos no estúdio.