As Coisas Tão Mais Lindas

Banho - Decisão

- Misericórdia Ninha, eu quase tive um treco!

Vitória arregalou os olhos e por um segundo eu sorri. Vi sempre se assustou com pouco, até mesmo com meus gritinhos no meio de alguns stories do Instagram em diversas ocasiões.

Flashback on:

- Tá Vi, tu abre no teu celular o insta do duo, e a gente grava.
Falei pra ela dentro do carro enquanto buscava no fundo da mala o cabo USB do meu celular.

- Pronto Ana, venha cá.

Dei uma leve arrumada no cabelo e sorri para a câmera.

- Olá...- Antes que Vitória terminasse a palavra eu também falei, porém muito mais alto perto dela.
-OI!

Vitória claramente levou um susto, que passou rápido e em seguida mostrou uma leve irritação.
- Ah não Ana! Assim eu não vou fazer mais.

Eu sabia apenas rir com ela brava.

Flashback off.

-Desculpa Vi, eu só queria ir no banheiro, assim que levantei tu chegou.
Vitória se recuperou do susto. Eu não a culpo, eu acordei de supetão mesmo.

Olhei para suas mãos e reparei que ela carregava uma toalha e uma muda de roupas. Talvez fosse sair. E daí uma culpa se instalou em mim. Vitória era minha melhor amiga, mas também tinha sua vida. Ultimamente andava muito com André, então, provavelmente iria sair pra almoçar com ele. Tentei esconder a tristeza em minha voz, mas desde que li as últimas mensagens de Maicon, aquele pareceu ser meu único tom de voz,.

-Vai sair? Eu vou só jogar uma água no rosto e vou embora Vi, vou atrás de algo pra comer antes.

Vitória me olhou incrédula, mas quase que em seguida seu olhar mudou para o de espanto.

-Puta que pariu, Ana Clara.

Ela passou que nem um foguete por mim e largou a roupa no sofá.
Fiquei parada meio sem entender, mas decidi ir atrás dela.
Atravessei a sala, e quando cheguei no batente da porta da cozinha senti meu estômago pular de alegria quando meu nariz sentiu cheiro de comida. Mesmo que fossem as gororobas de Vi.

Ela parecia aliviada em ver que o que tinha na panela não havia queimado. Pegou um pouco e assoprou para esfriar. Depois experimentou e pareceu gostar.

-Quer provar Ninha? Ela lavou a colher, pegou mais um pouco do conteúdo da panela e colocou em minha direção.

Claro que fiquei receosa, a maioria das comidas da Vi eram tudo mato. Mas eu nem precisei responder, meu estômago fez um barulho vergonhosamente alto, o que fez Vitória exibir um sorriso de quem venceu.

Peguei a colher e comi. Me surpreendi por que o gosto era incrivelmente bom. Tinha relances de pimenta bem leves, mas o gosto de legumes era predominante.

Olhei surpresa pra ela.
-Meu Deus Vitória. Tu é o próprio Edu Guedes vegano.

Nós rimos. Meu humor não estava dos melhores, mas Vitória tinha essa capacidade de me fazer esquecer pelo menos por um momento os meus problemas.

Mas mesmo assim, acabei lembrando que Vitória estava se arrumando pra sair ou até para receber alguém e eu provavelmente estaria atrasando ela.

- Então Vi, eu vou deixar tu fazer suas coisas e aí vou pra casa. Só preciso lavar meu rosto antes de.....

-  Oxe, para de ser surtada NaClara, eu tava pegando roupa pra tu tomar um banho, não eu. Eu não vou deixar tu ir pra casa sozinha desse jeito.

Olhei com cara de quem não acreditava só para ela ver minha surpresa, mesmo que eu acreditasse pois esse seria o tipo de coisa que Vitória faria. Olhei para a roupa que ela jogou no sofá quando passou por ele para chegar a cozinha, e de fato, era minha calça azul.

- Tu não é mais o Edu Guedes, tu é um anjo em forma de gente.

Disse abraçando ela de lado enquanto ela ria.

Ela inspirou fundo e se afastou.

-Ninha eu amo tu, tu sabe. Mas tu tá com um cheiro de álcool tão forte que eu merma fiquei bebinha só de te cheirar.

Senti meu rosto esquentar, enquanto Vitória me olhava com a cara serena e brincalhona.

- Desculpa Vi.- Disse olhando pro chão.

Vitória deu um tapinha do meu braço- Que desculpa mulher, só vai tomar um banho pra gente almoçar. Ontem tu escapou da passagem de som, mas hoje temos dívida com o Felipe.

Falei um "Tá bom" enquanto me dirigia pro banheiro, parando no sofá para pegar as coisas que Vi havia separado para mim.
Entrei no meu antigo quarto - era meu antes de eu financiar um apê e morar sozinha.  - Agora ele não parecia mais o meu quarto, de fato. Parecia mais um super closet.  Tudo bem que não era um cômodo enorme, mas como levei minhas coisas, havia ficado um bom espaço. A parede onde ficava meu guarda roupa agora continha diversas prateleiras abertas, como se fossem um guarda-roupa sem portas.
Nas partes de cima, eram separados entre blusas e o que pareciam calças.
Na parte mais baixa todos os sapatos de Vitória decoravam as prateleiras junto com pequenas luzes de natal. Sorri em surpresa, Vitória nunca foi a mais organizada, mas estava se saindo muito bem.
No centro próximo a parede onde ficava minha cama ela colocou um enorme pufe e em cima seu ukulele descansava. No chão ao lado o notebook dela estava aberto em alguma página aleatória.

Atravessei o quarto e fui ao banheiro, o único lugar que parecia do mesmo jeito. Coloquei as roupas em cima da pia e me despi.
Vitória não estava errada, minha jaqueta estava com cheiro de vodka na altura do ombro. Me indaguei, pois não lembrava onde ou quem teria derramado vodka em mim, já que eu e Mari só bebemos cerveja.
Mas decidi deixar pra lá, já que ficar pensando em sair com a Mari me remetia ao motivo de tal.
Então entrei no box, liguei o chuveiro e deixei a água fria bater nas minhas costas. Pouco a pouco  a água foi esquentando.
Claro que foi inevitável não lembrar de Mike. Algumas lágrimas escaparam enquanto eu esfregava o sabonete na minha pele.
- Aquele filho de uma puta. - Sussurrei pra mim mesma.
Por mais que de um tempo pra cá nosso relacionamento não estivesse na melhor, ele não tinha o direito de me trair enquanto olhava pra mim e me jurava amor e me chamava de única.
Eu me entreguei completamente pra ele, me entreguei até a estagnação que nosso romance tinha virado...

Chega Ana Clara.

Desliguei o chuveiro e me sequei.
Não ia deixar Mike abalar minha vida desse jeito.

Me vesti e fui encontrar Vitória.