Cimetière du Père-Lachaise

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Quando Newt era pequeno, seu irmão o levara, durante a noite, até o cemitério da vila trouxa perto da qual moravam. Talvez fosse por ainda não entender exatamente o que era a morte e não ter plena noção do que havia enterrado debaixo das lápides e estátuas de pedra que descansavam no terreno atrás da igreja, mas o magizoologista não se lembrava de ter ficado com medo. Na verdade, se lembrava da animação que sentira, a sensação de estar saindo em uma aventura no meio da noite, escondido dos pais e guiado por Theseus, que conhecia todos os bosques e riachos e crianças que gostavam de brincar por tais lugares.

No fim das contas, o irmão queria lhe mostrar as pequenas luzinhas azuladas que surgiam aqui e ali no meio das lápides. Elas apareciam do nada, como se alguém tivesse acendido uma vela, e logo sumiam. Newt havia ficado encantado e havia implorado para que Theseus o levasse até mais perto das sepulturas, mas este lhe disse que eles estavam ali só para olhar, que deviam respeitar as pessoas que estavam enterradas no cemitério. Naquela noite, Scamander sonhou com chamas azuladas dançando sobre as lápides e com os corpos que dormiam debaixo destas.

O cemitério Père-Lachaise era bem diferente do pequeno cemitério atrás da igreja da vila trouxa. Os túmulos eram grandiosos e o lugar parecia uma cidade silenciosa. Andar entre os mausoléus e lápides no meio da noite fez com que Newt se sentisse um intruso: aquele terreno pertencia aos mortos e eles deviam, como Theseus recomendara há anos, respeitá-los. Pensar que Grindelwald estava organizando uma reunião com seus seguidores naquele lugar fazia o magizoologista sentir um arrepio atravessar o seu corpo. Quantos daqueles mortos estariam perturbados pela invasão naquela noite?

Leta os guiou através das ruas escuras e tortuosas do cemitério até pararem em frente a um mausoléu com uma escultura de um corvo logo acima da porta. O animal estava na mesma posição que a estampa no feitiço de chamado de Grindelwald.

"Lembrando que os aurores do Ministério muito provavelmente vão aparecer por aqui," Tina falou, apanhando a varinha enquanto se preparava para entrar. "Tomem cuidado e aparatem assim que alguma coisa parecer errada." Ela se virou para Jacob, que havia perdido o sorriso costumeiro e observava tudo com uma expressão séria no rosto. Naquele momento, Newt quase podia ver o Jacob Kowalski que lutara na mesma guerra que ele e o irmão. "Tem certeza que não prefere esperar aqui fora?"

"Queenie só veio parar aqui porque discutimos," o trouxa falou, engolindo em seco. "Preciso falar com ela."

"Queenie não vai estar ai dentro." Goldstein soltou um muxoxo.

"Quanto a esses aurores, precisamos tomar cuidado com eles ou com a bagunça que podem causar?" perguntou Jacob, olhando de Tina para Newt.

"Com as duas coisas," Leta respondeu, mantendo a cabeça erguida enquanto observava a estátua do corvo sobre a porta. "Nem todo auror é como Theseus, que tem uma cabeça do meio."

Scamander mordeu o lábio inferior para se impedir de sorrir, sentindo o olhar incrédulo de Goldstein sobre si.

Uma vez que todos estavam com as varinhas em mãos, Tina empurrou a porta e entrou no mausoléu. O lugar era escuro, mas as silhuetas das tumbas e das estátuas se destacavam na pouca luz que entrava pela janelinha no alto da parede: formas de mármore branco tão imponentes quanto as estátuas do hall do Ministério da Magia. Leta, a última a entrar, hesitou na porta, respirando fundo várias vezes antes de entrar, só dando o passo quando Jacob se virou e esticou uma mão para ela, a qual ela aceitou com um sorriso pequeno no rosto.

"Lumus," Scamander sussurrou.

A luz pálida do feitiço deu um ar ainda mais fantasmagórico ao mausoléu. No centro do aposento, havia uma tumba mais elevada cuja tampa era composta pela estátua de um homem seminu deitado, a cabeça pendendo para trás e uma mão escorregando para fora da pedra. Todas as paredes ao redor deles eram compostas por aberturas retangulares dentro das quais era possível ver mais tumbas de pedra.

Les Crimes de GrindelwaldOnde histórias criam vida. Descubra agora