Confissões de uma Sasaeng

Eu nem sempre fui assim

EU NÃO CONSEGUIRIA dizer exatamente como esse sentimento começou. Quando eu percebi o quanto estava cega, era tarde demais. Na época em que conheci o BTS, ouvir apenas as músicas era o suficiente. Aquilo me fazia bem. Então eu consegui ir ao meu primeiro show e parecia que tudo era um sonho. Eles eram pessoas reais, não estavam só nos meus sonhos bestas de garota. "Choi, não seja estúpida, eles nunca olhariam para você". Eu pensava.

O meu maior problema é que eu só consigo funcionar de duas maneiras: muito obcecada ou completamente desinteressada. Nunca fui uma garota rica, que podia estar em todos os aviões, em todos os shows, em todos os lugares. Eu tinha uma vida, um emprego, amigos antes disso. Mas tudo desmoronou muito rápido.

Se você está esperando por um romance sobre como eu conheci aqueles homens, você veio ao lugar errado. Essa é a história sobre como eu enlouqueci por causa do meu amor, de como eu fiz coisas inimagináveis para conseguir ser parte de pelo menos um pedacinho da vida deles. O grande conto de como eu descobri informações que vocês que vocês nunca imaginavam, de como eu encontrei explicações para coisas que vocês sempre acharam estranhas. Não importa o quão doloroso seja, eu vou contar tudo. Não importa se vocês vão ler coisas que não queriam saber.

Não me julgue antes de conhecer toda a minha história. Ninguém está imune a cair nos encantos de se tornar uma Sasaeng. Você já parou pra pensar em como as fãs descobrem em que aeroportos e em quais horários eles vão desembarcar? Você já deve ter visto vídeos de aeroportos lotados, não é mesmo? Depois que eles fizeram sucesso global isso se tornou bem comum. Então, antes de me chamar de nojenta ou suja, saiba que quem passa essas informações pras fãs somos nós. Isso mesmo, vocês não são muito diferentes de mim. No fundo, eu sei que vocês me entendem.

Ou vocês acharam que eles realmente queriam que vocês estivessem lá gritando na cabeça deles quando eles desembarcam cansados em algum país?

Para que vocês consigam entender do que eu estou falando e ligar todos os pontos, eu preciso contar a história desde o começo.

Talvez ninguém que está lendo acredite nisso, mas a primeira vez não foi intencional. Eu apenas estava no lugar certo e na hora certa. Naquela época eles não eram tão famosos assim. No final de 2014 o BTS ainda lutava para conseguir seu reconhecimento. Fazia uma semana que eu tinha perdido meu emprego, minha mãe me mandou passagens para que eu fosse visitá-la. Eu estava um pouco triste. Me deixe explicar, eu morava em Seul, mas mamãe é de uma pequena cidade do interior.

No dia que voltei o aeroporto estava particularmente estranho. Alguns seguranças pareciam aflitos, ficavam olhando para todos os lados. Eu podia sentir que algo estava prestes a acontecer e foi nesse momento que eu comecei a ouvir gritos. Garotas passavam por mim correndo. Quando olhei na direção que elas iam, lá estavam eles. Bangtan Sonyeondan em carne e osso. Admito, eu também corri, mas quanto mais perto deles chegava, mais eu achava que não era isso que eu deveria fazer. Eles não eram mundialmente famosos, então não eram tantas garotas assim, mas vocês sabem como a Coreia trata seus ídolos. As meninas estavam histéricas.

Queria uma chance de conversar com eles, tirar foto junto, ser reconhecida. Não podia ser mais uma fã maluca que ficava gritando nos ouvidos deles. Eu queria ser diferente. Foi então que percebi, os seguranças estavam tão ocupados tentando deter as garotas, que eles não prestaram atenção em mim. Nessas horas é bom ser invisível.

Esse era o meu carma, as pessoas não me notavam.

Vi Jungkook ir em direção ao banheiro. Hoje quando eu me lembro desse momento fico indecisa em dizer se foi sorte ou azar. Eu sei que ele é um dos preferidos das garotas, mas naquele dia, o BTS tinha dançarinos por perto, então acho que eles acabaram se misturando. Gosto de pensar que aquele foi um momento especial meu, que eu fui a única a perceber que ele havia se afastado do grupo. Então eu o segui. Ninguém me viu, estranhamente.

Não tinha pensado no que faria quando o visse. Entrei no banheiro e o local estava vazio. Apenas uma das cabines estava fechada, provavelmente Jungkook estava nela. Eu queria uma foto com ele, uma foto dele, uma conversa. Fui aos shows, gritei com eles, dancei com eles, eu merecia aquilo. Me aproximei de onde ele estava e esperei.

Quando ele saiu, eu não consegui conter minha empolgação. Peguei o celular e comecei a tirar várias fotos.

— Sem fotos, por favor. — Ele ficava dizendo enquanto lavava as mãos.

— Jungkookie eu te amo tanto! — Era tudo o que eu conseguia falar. Tentei chegar perto, abraçá-lo, mas ele se afastou.

Quando eu lembro desse dia, o rostinho assustado dele é a primeira coisa que me vem a cabeça. Ele fica tão fofo quando está assustado.

Não sei dizer quanto tempo se passou entre o momento em que eu o vi e o momento em que varias pessoas entraram e começaram a me puxar para longe. Eu só conseguia olhar pra ele ali, indefeso, tentando ser gentil e ao mesmo tempo com medo. Não sei porque ainda acho isso engraçado. Me expulsaram do aeroporto, mas tudo bem, eu já estava indo pra casa mesmo. No caminho, postei em todas as minhas redes sociais a foto que tirei dele.

No dia seguinte eu precisava voltar a minha vida normal. Não podia ficar sem um emprego enquanto morava sozinha em Seul. Minha mãe não poderia me ajudar por muito tempo. Lembro de ter passado o dia inteiro entregando currículos. Sabe, na época eu tinha 21 anos. Me formei no ensino médio e não fiz faculdade. Não tinha dinheiro pra isso, minha família sempre foi pobre. Teria sorte se conseguisse um emprego de garçonete em alguma cafeteria qualquer. Eu tinha o sonho de morar e Seul, por isso deixei minha cidade. Acho que não pensei muito bem no que faria depois que chegasse lá.

Quando cheguei em casa e o meu wifi se conectou no celular, ele não parava de vibrar. Eu sei o que vocês estão pensando: Que tipo de pessoa não tem internet no celular? Eu respondo: Pessoas sem emprego e precisando economizar. Tinha recebido várias mensagens no Instagram. Os perfis eram estranhos, alguns tinham fotos do BTS e outros eram contas totalmente em branco.

Você tem mais fotos do Jungkook no banheiro? Estaria interessada em uma troca?
A primeira mensagem dizia. Naquele momento lembro de pensar "trocar pelo que?".

Qual banheiro ele estava? Qual cabine? Você sabe de mais alguma coisa? Tem mais fotos? Se não quiser me passar, eu compro.
"Por que essa garota queria uma foto insignificante dessas?" Também pensei.

Eu estava lá também, mas os seguranças me pegaram. Como você conseguiu passar? Estaria interessada em uma troca? Eu tenho um material que você vai achar interessante.
Um perfil sinistro me perguntava.

Você mora em Seul? Será que não consegue mais coisas não? Eu posso te ajudar. Eu pago.
Outra mensagem, outra pessoa.

Descobriu algo escandaloso? Tem mais fotos?
Tinha acabado de chegar. E não parava.

Não sei como eu fiquei tão popular de uma hora pra outra. Não sei como, de repente, tinham tantas garotas interessadas em fotos tão comuns. Eu sabia o que eram as sasaengs, do que elas eram capazes, o que elas faziam, mas eu nunca tinha parado para pensar em como o mundo delas funcionava. Eu estava prestes a descobrir tudo.

Troca? Como assim? Eu tenho algumas outras fotos. Respondi uma.

Por enquanto esperava uma resposta, eu comecei a olhar os perfis que haviam me enviado mensagens. Eles tinham fotos que anunciavam informações. Uma delas dizia "Informações de contrato do BTS", outra "Personalidades verdadeiras dos membros do BTS", "Skype do Jimin", "Instagram privado do Jungkook", "Status de relacionamento dos membros do BTS", "Foto rara do Taehyung". As fotos eram, a maioria, textos embaçados. Se você quisesse ver o conteúdo, tinha que comprar ou então oferecer algo em troca. Vendo aquilo tudo, eu fiquei curiosa. Eu amava o BTS, mas nenhuma empresa que queira ter alguma chance de sucesso revela esse tipo de informação ao público. Sabe, as regras para os idols aqui na Coreia são bem rígidas, mas eu falarei disso depois.

O barulho de notificação do meu celular interrompeu meus pensamentos. Era ela, me respondendo.

— / / —
Notas: Estilo diferente de fic, de escrita, de construção dos capítulos. O que vocês acharam?