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Desisto. Eu definitivamente desisto de tentar falar com a minha mãe. Ela não atende a droga do celular e só retornava no fim do dia, o que era quase uma eternidade. Frustada, coço a cabeça, soltando outro palavrão, enquanto caminho com passos largos dentre os jardins que enfeitavam as residências do meu setor.

Ao menos, eu já estava perto de casa.

Respiro fundo e olho para cima, deixando o sol bater em meu rosto por alguns instantes. Era cansativo demais pedir atenção. Principalmente para quem deveria me oferecer tamanha e incondicional.

Guardo o aparelho celular no bolso lateral da mochila um pouco antes de avistar a entrada de casa, sentindo minhas esperanças serem renovadas, quando...

Quem deixou isso aqui? — me questiono, em voz alta, destravando o portão lateral sem tirar o olho da pequena caixa de sapato bem na minha frente — Será que...

Me inclino para golpeá-la de leve, apenas para ter certeza se ela estava realmente vazia por dentro, imaginando encontrar um par de sapatos usados ou até mesmo seminovos abandonados e esquecidos durante uma entrega dos correios, quando... ouço algo gemer.

Oh, Deus! Não pode ser o que eu estou pensand...

Sem pensar duas vezes, levantei a tampa da caixa com a ponta do dedo do pé esquerdo, sentindo meu coração pular feito escola de samba em pleno carnaval, e... 

Eu não acredito!

— Não acredito que alguém teve a coragem de lhe abandonar assim... tão... pequenininho. — me agacho para pegá-lo no segundo seguinte, enquanto o pequeno buldogue (ainda filhotinho) tenta se enfiar ainda mais dentro da caixinha, completamente assustado com essa minha aproximação. — Calma! Eu não vou machucar você. — e ele parece me compreender, já que desiste de se esconder e avança uma pegada em minha direção.

Enquanto segurava o filhote cuidadosamente em minhas mãos, observei em volta para ter certeza de que "isso", o que quer que seja, não passasse de uma daquelas pegadinhas de tevê. Ou, talvez, que o verdadeiro "dono" poderia está vagando por ali, escondido em algum arbusto, analisando minha reação. Voltei a encarar o pequeno filhote em minhas mãos e, juro por tudo que já li na biblioteca da escola, que algo mágico aconteceu.

— Cuidarei de você! — assegurei, sem controle algum dos meus lábios, enquanto levantava — Eu prometo.

Estou literalmente sem palavras. Não sei como descrever o quanto fiquei contente em encontrá-lo e, ao mesmo tempo, frustada com tamanha atrocidade humana e falta de sensibilidade. E, sem pensar em mais nada, decido levá-lo para casa. 

* * *

Mas, mãe, eu só... [COMPLETO]Where stories live. Discover now