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Era difícil para Nora mexer nas coisas de Alura, mas precisava organizar e guardar tudo já que Lena e Kara não pareciam dispostas aquilo. Começou pelas roupas que estavam no armário, organizou as camisas, calças e blusas em cima da cama que dividiam, encarou a pilha de roupas por vários minutos sem saber se de fato iria fazer aquilo ou não.

Sentiu as lagrimas tomarem seus olhos e desistiu, guardando as roupas novamente no lugar, não parecia certo fazer aquilo, se livrar das lembranças e tudo que remetia a Alura, não sentia como se ela tivesse partido e sim como se tivesse ido dar um passeio e retornaria a qualquer momento.

Era doloroso, sentia seu coração dilacerar sempre que uma lembrança feliz vinha até sua memoria, o sorriso caloroso dela que sempre a envolvia como um abraço, a textura macia e quente de seus braços ao seu redor, seu cheiro que a inebriava, o tom de sua voz que parecia a mais belas das canções de amor, sentiu sua alma partir ao se dar conta que não teria mais isso, todo esse amor lhe sendo dado e Nora se sentiu vazia, drenada de qualquer sentimento que não fosse a dor.

Respirar parecia difícil e até existir parecia a coisa mais difícil que já fez, se levantou e foi até o computador que estava desligado desde a última vez que sua Lula havia usado. Ligou e ao acender o monitor viu a foto de tela de fundo, eram elas, Nora olhava para câmera com um sorriso, mas Alura olhava para ela com encanto, como se fosse a coisa mais linda já feita.

Suspirou e mexeu nos arquivos, eram projetos inacabados, esboços de equipamentos, cálculos e códigos, aquele computador era o mais Alura possível, refletia bem o que sua esposa era e o que o mundo havia perdido. Achou uma pasta com vários arquivos com fotos, os momentos mais felizes da sua amada estavam ali, suas mães, sua tia Alex, suas avós, seus amigos, as duas, havia também um arquivo de vídeo e tinha o nome de Nora, a garota clicou e o vídeo abriu.

A primeira coisa que Nora viu foi a si mesma dormindo serenamente na cama que dividiram no apartamento de Lena, a câmera tremia provavelmente por que era Alura filmando, então ouviu o barulho da câmera sendo colocada em algo e Alura se sentou aparecendo na imagem. Nora suspirou ao ver aqueles olhos verdes tão brilhantes e o sorriso caloroso em seus lábios.

- Meu amor, se você esta vendo isso é por que meu tempo acabou. – Havia um ar de tristeza nos olhos de Alura. – E eu sinto muito pela dor que esta sentindo, por muitas vezes eu me peguei pensando em acabar tudo entre nos para que você não passasse por isso, por que você não merece essa dor, não quando me fez tão feliz. – Percebeu que ela iria chorar. – Mas eu fui egoísta, ter você ao meu lado era a melhor coisa do mundo e eu percebi que era assim que queria passar os meus últimos momentos.

Nora pausou um pouco o vídeo para tentar respirar e assimilar aquilo, sua amada havia feito um vídeo de despedida para ela e não sabia como processar aquilo, respirou fundo e voltou a assistir.

- Eu amei você desde a primeira vez que te vi com um ser ciente. – Admitiu. – E eu me lembro com perfeição desse momento, nos tínhamos dois anos, você estava com um vestido amarelo florido que claramente você odiou por que ficava mexendo  nele o tempo todo, seus cabelos estavam presos em rabo de cavalo e havia um laço nele. – Sorriu nostálgica. – Me lembro de pensar com a minha cabeça infantil que eu estava vendo uma princesa, igual as dos contos de fadas que mamãe Kara lia para mim a noite, eu não conseguia entender como alguém tão lindo poderia existir.

Nora não se lembrava disso obviamente, Alura sempre teve uma memória excepcional devido a sua inteligente absurda e sempre se surpreendia com as coisas que ela era capaz de recordar, coisas que Nora sequer lembrava como a cor do arranjo de flores da mesa do restaurante em que a pediu em namoro, ou da estação de rádio que tocou a primeira musica que cantaram no carro juntas quando tinham seis anos.

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