Pais e Filhos

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Lena observava a filha com o olhar perdido sentada na banheira no banheiro de seu quarto. Kara ajudou trazê-la depois da luta, a loira estava agora na enfermaria se recuperando da luta de Purity e coube a Lena ficar de guarda para ter certeza de que ela ficaria bem.

Era a primeira vez que a morena via a filha tão frágil, nem mesmo nos piores dias de câncer ela parecia prestes a se partir, era como se Alura tivesse perdido completamente a vontade de viver, como se a qualquer momento ela fosse simplesmente se deitar na banheira e esperar o fim

Aquilo era angustiante, o brilho e o sorriso que Lena amava não estava ali, apenas uma casca restava de sua menina e seu coração de mãe não podia suportar. Alura estava abraçando os joelhos e a água em volta apenas ia perdendo o calor, a morena então seguiu até ela, desistiu de qualquer desejo de lhe dar espaço, a filha precisava de apoio agora.

Havia algo aconchegante em lavar os cabelos de alguém, era isso que Lena fazia, percebeu que talvez essa fosse a única atitude que poderia tomar naquele momento, a morena amava os cabelos da filha, eram de um tom loiro claro e sedosos. Massageou o couro cabeludo com delicadeza, Alura apenas ficou queira e calada enquanto deixava a mãe seguir com a tarefa.

A mulher estava ajoelhada no chão frio do banheiro, suas roupas caras recebiam água e espuma, mas isso não era problema. Enquanto se empenhava naquele momento Lena pode perceber as cicatrizes pelo corpo de Alura, elas não estavam lá da última vez que viu a filha em pouca roupa, seu físico assim como sua mente estavam castigados, havia uma forte tensão nos ombros dela como se o peso do mundo caísse ali, o que não deixava de ser verdade.

Enxaguou os cabelos de Alura e passou o condicionador, uma nova massagem foi feita e agora a mais nova fechou os olhos, Lena percebeu que desciam lágrimas, mas nada disse, deixou que ela chorasse pois era evidente que precisava disso. Passou os dedos pelos cabelos embaraçados, para tirar alguns nos que se formavam, a loira abraçou o ainda mais forte os joelhos como se segurasse para não se partir.

E então enxaguou o condicionador, era hora de tirar Alura da banheiras, Lena então pegou um roupão de Kara e segurou perto da banheira, a moça entendeu o recado e se levantou, sem vontade e parecia prestes a cair, mas vestiu o roupão, não olhava nos olhos da mãe, sua cabeça estava baixa e seu rosto vermelho devido ao choro.

Depois de devidamente embrulhada, Lena a conduziu até o quarto e fez com que se sentasse na cama, a morena foi até a penteadeira e buscou uma escova para pentear os cabelos da filha. Havia delicadeza no ato, Lena queria confortar a filha e por isso seus gestos eram leves, Lilian nunca fez aquilo, pentear os cabelos de Lena, a mulher nunca estava em casa ou quanto estava julgava seus atos com ares de desgosto, então demonstração de afeto estavam fora do cardápio de ações maternas.

Um suspiro saiu dos lábios de Alura, logo seus ombros começaram a tremer e o choro que até então era silencioso ficou alto e parecia incontrolável, Lena parou o que estava fazendo e a puxou para seus braços. Então a garota pareceu chorar ainda mais, a mulher a segurou firme em seu colo e sentiu a dor da filha.

- Eu sinto muito mamãe. – Alura disse com a voz embargada e vacilante. – Por tudo, me desculpe por tudo que eu fiz, eu me tornei um monstro mamãe, uma criatura desprezível.

- Meu amor! – Lena sentiu as próprias lágrimas caírem agora, era doloroso ouvir aquelas palavras saírem dos lábios de sua filha. – Você não é um monstro, o que fazemos para sobreviver e o que somos são coisas diferentes.

- Eu queria ser uma heroína, mas acabei me tornando aquilo que os heróis combatem. – Desabafou ainda mais chorosa.

- Alura, embora descorde de várias de suas atitudes, eu entendo o porquê que de tê-las tomado, em uma guerra por mais que tenhamos boas intenções, iremos causar destruição, dor e sofrimento. – Lena acariciava os cabelos da filha. – Muito foi exigido de você querida, mais do que foi pedido de qualquer um de nós.

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