Muros Azuis

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     Muros azuis o cercaram. O sol evitava entrar pela janela. Havia vida do outro lado, havia movimento, havia músicas que os pensamentos o proibiam de escutar e dançar. Mexia apenas os olhos para ver se era dia ou se era noite.

     "Eu fiz alguma coisa? Eu fiz, naturalmente. É por isso. Eu me perdi novamente.", ele pensava segurando a caneta, escrevendo como se fossem últimas palavras de um livro de infinitas páginas, onde algumas sairam voando entre espaços pequenos do telhado.

     As costas curvadas para frente, os braços apoiados nos joelhos, o cabelo sobre o rosto, os olhos presos numa imagem no chão, que não existia nem mesmo em pensamentos atropelados e confusos. Um pingo de lágrima cai no chão como se fosse tudo que pudesse fazer. Olha para a janela, para os muros que ele deixou crescer em volta de si, olha para o martelo, pensa nas pessoas felizes e volta para a mesma posição de antes. Deixa cair duas lágrimas mas já não importa. Deixe-as no chão. Ele fecha o caderno, joga a caneta e deita-se na cama e espera novamente a próxima vez para escrever. Dá uma olhada sofrida para a janela. Já é noite.

Poemas Cuspidos entre Dentes SujosOnde histórias criam vida. Descubra agora