era em demasiada
intensidade
que aqueles
olhos
me devoravam.
por um momento, senti-me
um escritor consagrado.
e por dois, senti-me
um maldito peixe
cercado por gatos da rua,
famintos em ver-me falhar.
os gritos que eu ouvia
enquanto eu estava sentado
na cadeira de plástico
esperando
minha vez
soavam horrorosos.
atrás de mim,
podia
sentir o
inferno.
pessoas vazias,
mortas,
horrorizadas pela busca
de uma qualidade de vida
melhor,
quando na verdade não sabemos o que é
vida.
na minha frente se concentrava o altar,
onde aqueles que cuspiam palavras entre dentes sujos
deviam recitar.
não cabia em mim seriedade alguma,
eu estava nervoso como um cachorro atravessando uma avenida,
ou como um imbecil que encara um gato enquanto tenta engravidar sua esposa.
- é sua vez de recitar. dirija-se ao altar, verme.
levantei-me desajeitado.
peguei o cifre do diabo,
e corrigi um erro que fizeram
no título. e me pus a ler e emprestar minha morte
às pobres palavras. Ouço risos baixinhos, como naqueles stand-ups sem graça.
após terminar, ouvi aplausos, não pude identificar se eram aplausos automáticos.
virei-me para devolver o microfone e pude ouvir alguém sussurar:
"foi muito bom. muito bom. parabéns".
não consigo ver quem foi porque tem
um pouco de vontade de sumir empatando
minha visão.
mas poderia afirmar que me senti Deus por pouco tempo.
algo poderia me parar.
eu estava com as palavras.
o microfone na mão.
um público faminto por qualquer coisa que ousasse se mover.
mas eu não seria devorado.
eu estava dominando meu território, despercebido.
com meu
hino e
protesto.
sinceramente, não foi algo importante.
eu vi cada olho, cada boca, cada filho da mãe
que estava lá.
ignorei todos no meu caminho de volta
ao meu inferno paralelo
abracei o amor
e me abriguei ali mesmo de
toda aquela guerra que
estava acontecendo
e das
que estavam
por
vir
.
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Poemas Cuspidos entre Dentes Sujos
PoesíaPalavras desgraçadas. O tempo pinga ácido. 5 nascem. 10 morrem. O peso de uma carne morta retirada das costas. Poemas de dentes amarelados sorriem para uma parede azul, que sorri de volta. Bestificada. As janelas são perigosas e você é comida de gat...