C a p í t u l o IX - Despedidas efêmeras

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Hoje é minha última noite ao seu lado, sempre é difícil, e nunca se torna costume. Hoje é a última noite que adormeço em meio aos seus braços, onde acordamos juntos na mesma cama e damos nosso beijo de bom dia, mas nunca é o fim, porque eu sei que daqui uns dias faremos tudo isso pela primeira vez novamente. Mas é difícil se despedir quando não se quer ir embora, se quer ficar, porque sinto que é ali, ao seu lado, o meu lugar. Hoje é a última noite, então, me ama como se amanhã o sol não fosse nascer no horizonte, me enlaça em meio aos seus braços como se por súbito até um sopro fosse capaz de nos separar, me beija com ardência e urgência, me olha nos olhos como se pudesse ler com destreza o que escondo por detrás de minhas lentes verdes - minha vontade de permanecer. Mas então, o despertador toca, anunciando que são 5:30 da manhã e o ônibus me espera para meu trágico destino. Os últimos momentos ao seu lado são doloridos, é quando finalmente o coração capta a mensagem de que tenho que ir, mesmo que ele não aceite, mesmo que ele saiba que é apenas uma despedida temporária e que logo haverá o encontro de nossos corações entorpecidos de amor. O tempo passa corrido, tudo vira uma contagem regressiva para o adeus. Até que o momento oficial de seguir em frente chega. Olho para seus olhos mar e minha vontade é a de não ir embora, peço em silêncio que, por favor, não deixe as ondas altas e densas me levarem para longe de você, tu és o meu abrigo e eu preciso de refúgio. Sei que é em vão, é dado a hora. Tu sela nossos lábios em um beijo rápido, mas intenso, carregado de dor e palavras não ditas. Juro que se tu me pedir "fica", eu fico. Sem pensar duas vezes rasgaria a passagem de ônibus comprada e mudaria a rota de nosso destino, apenas porque você pediu, apenas porque sinto algo diferente de tudo o que já senti quando estou com você. Mas, apenas entreabro a boca para dizer que te amo, naquele sussurro carregado de melancolia onde o coração se fecha em forma de punho e pulsa fortemente, carregando aquela sensação de abandono, vazio. Faz parecer que o hóspede que mora no lado esquerdo do meu peito, entrou de férias. Então, embarco no ônibus e sento-me na janela, enquanto aos poucos, os quilômetros fazem questão de nos separar, mesmo que nossos corações sempre estejam ligados. Nos afastamos cada vez mais e posso sentir que deixei a melhor parte de mim contigo, tudo o que me resta são as lembranças dos dias bons, a saudade já acumulada, uma menina perdida e vazia. Mas não é o fim, é apenas uma despedida temporária, sei que logo estarei vendo esse rostinho lindo, com seu melhor sorriso a me ver chegar, pronto para me receber e entregar todo seu amor e carinho. É apenas uma despedida efêmera, jamais te direi adeus, meu amor.

Na Órbita de Nós DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora