S E T E

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Kai - 5 anos atrás

Era meu aniversário de dezoito anos e eu nem se quer estava participando da minha festa, o celeiro parecia bem mais confortável naquele momento, sem pessoas chatas ou cheiro de bebidas. Eu não podia negar que era chato estar sentado há horas em um banco de madeira baixo de mais para a minha altura, minhas costas doíam.

Minha família toda estava naquela casa, não sei quem inventou de os convidar para uma festa de adolescentes. Se eu me importasse de verdade teria pedido ao meu pai e a Tereza para terem saído essa noite e não ter convidado ninguém com mais de vinte anos, mas era melhor assim, o pessoal da escola se perguntaria porque tinha pessoas "velhas" ali envés de se perguntarem onde o aniversariante estava. Será que eles pelo menos sabem que é meu aniversário?

Ultimamente eu não andava me importando com muitas coisas, se meus planos derem certo esse será meu último verão aqui, no próximo mês eu estaria em outro estado longe e livre de todos eles. Olhei para minhas mãos cheias de calos e cortes devido ao trabalho que eu estava fazendo para ter dinheiro suficiente para ir embora. Fazer cercas para os vizinhos não era um trabalho ruim, eu me mantinha ocupado e longe de qualquer confusão. A fazenda já não era mais tão útil ou produtiva a anos, e provavelmente meu pai iria a falência pelas altas dívidas no banco, o melhor a se fazer era dar o fora dali.

Respirei fundo criando coragem para levantar dali e enfrentar aquela festa idiota, quando levantei a cabeça notei que não estava sozinho, uma pessoa se aproximava, pela falta de iluminação eu não podia ver quem era. Me levantei e e fui até a saída do celeiro para reconhecer quem estava ali. Era Luzia. Me encostei no portal e esperei ela chegar até mim. A luz amarela e fraca do celeiro iluminou Luzia e eu a observei enquanto ela se movia com dificuldade em meio ao capim. Provavelmente os matinhos do chão estavam machucando suas pernas nuas, seu vestido vermelho não chegava nem nos joelhos. Luzia era diferente das outras garotas de sua idade, ela não se importava por estar em uma festa sem maquiagem, ou de morar em uma fazenda afastada e ter de ajudar nas plantações e colheitas. Ela estava usando a mesma bota velha de sempre e a jaqueta jeans que ela diz ser sua preferida, sem dúvidas a garota mais simples da festa.

Ela levantou as sobrancelhas e sorriu ao parar na minha frente, depois levou a mão ao rosto e afastou uma mecha de cabelo que caia sobre os olhos.

- Se escondendo Malachai?

- Eu não usaria esse termo. - ela suspirou e se sentou no banco que eu estava.

- Eu não esperava tantos convidados.

- É difícil prever, cada convidado convida mais alguém.

- Típico dos adolescentes daqui. A festa não está tão ruim assim, porque você está aqui?

Eu a olhei pensando em que resposta eu a daria. Bem, haviam várias opções mas se eu dissesse uma sequer ela saberia de tudo que eu escondo de todo o mundo.

- Porque você está aqui?

- Você é o aniversariante, o motivo de todos aqueles carros no nosso quintal, eu vim buscar você.

- E como você tinha tanta certeza de onde eu estaria?

- É aqui que você sempre se esconde, Kai.

Como ela poderia saber?

- Você perdeu seu tempo, eu ia voltar mas perdi a vontade.

- Tudo bem, vou ficar aqui com você então.

- Eu não quero que você fique aqui.

- Mas qual o problema?

- Quero ficar sozinho.

- Não prefere a minha companhia?

- Eu já disse Luzia, não quero ninguém aqui.

- Eu não teria vindo se não tivesse sentindo que você precisava de alguém agora.

- De onde você tira essas coisas?

- Seu olhar tá tão vazio e perdido.

- Quem você pensa que é?

- Eu me importo com você.

- Eu não quero que você se importe.

- Você não pode escolher isso.

- Mas é claro que eu posso! Sai daqui garota.

- Eu não vou sair.

- Vai embora! - gritei.

Eu a olhei novamente e seus olhos estavam vermelhos, porque ela tinha que ser tão frágil e sentimental? Eu só queria que ela desaparecesse da minha frente para sempre.

- Você não precisa ser assim comigo, eu só quero te ajudar.

- Luzia, entenda uma coisa, eu não quero a sua ajuda, nem a de ninguém.  Qual o seu problema? É tão difícil assim entender que eu quero que você suma?

- Quel é o seu problema Kai? Eu não quero que você se destrua, estou tentando te ajudar, te fazendo companhia já que aparentemente eu sou a única pessoa que percebeu que você havia sumido, e é assim que você reage? Você é um idiota. - ela disse e se levantou para ir embora.

- Espera! - gritei - Porque você se importa tanto Luzia?

- Somos irmãos, não somos? É isso que irmãos fazem. - ela disse com calma.

- Não sua louca, nós não somos absolutamente nada.

Luzia veio até mim e sorriu. Mas ela não sorriu ironicamente, foi verdadeiro.

- Eu entendo a sua dor, e você pode dividir ela comigo se quiser.

Os pequenos olhos negros de Luzia brilhavam mesmo na escuridão de uma noite sem lua, eu queria desviar o olhar e gritar com ela novamente, mas era impossível não me sentir acolhido naquele momento. Ela segurou minhas mãos, em seguida ficou na ponta dos pés e me abraçou. Eu odiava Luzia, e eu a odiava porque eu nunca poderia ama-lá da forma que eu queria.



Oi meus bonbonzinhos, tudo bem com vocês? E aí, o que acharam? Deixe seu voto e comentário, espero que tenham gostado! Beijinhos, amo vocês S2

Doce tentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora