O I T O

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Enquanto a chuva cai.


Luzia

Apesar das nuvens tampando o céu e da chuva deixando tudo embaraçoso eu podia ver a lua. Crescente. Provavelmente no primeiro dia do ciclo.  Fina como uma fatia de pão e brilhante como ouro branco.

Deitei a cabeça sobre o volante do carro tentando ignorar Kai do lado de fora. Ele estava esmurrando o vidro e gritando meu nome.

O céu estava sombrio apesar de toda a beleza, raios caiam perto de nós fazendo barulho suficiente para despertar uma pessoa.

Se eu fingir que ele não está aqui uma hora ele desaparece de verdade.

Não. Ele não desistiria fácil assim.

Kai estava completamente molhado, a água da chuva caia sobre seu cabelo e escorria pelo rosto, os fios grandes traçavam um trajeto de curvas para as gotas que acabava bem sobre seu queixo. A jaqueta de couro não protegia muita coisa, e nem poderia, as chuvas do outono sempre foram fortes e frias.

Abri a porta do lado do carona e ele entrou, não se importou em molhar todo meu carro, e eu também não me importei. Ele sorriu e balançou a cabeça espalhando gotas por tudo o carro. Agora ele parecia mais confortável, mas eu não.

- Fala logo o que você quer. - eu disse.

- Poxa que sentimental.

- Anda Kai.

- Eu tô morrendo de frio.

- Eu não lembro de ter obrigado você a vir atrás de mim.

- Você é realmente incrível Luzia.

- Eu obriguei?

- Como você consegue?

- Fala logo o que você quer.

- Eu não vou deixar você ir embora dirigindo.

- E de onde você tirou que eu vou obedecer você?

- Você vai.

- Não vou.

- Vai.

- Sai do meu carro.

- Não.

- Agora, Kai.

- Não Luzia, eu não vou deixar você dirigir nesse estado.

- Que caralho! Que estado Kai? Pelo amor de Deus eu não sou uma criança.

- Mas age como se fosse uma, admita que você não consegue nem tirar a porra desse carro dessa vaga.

- Kai eu não quero ter que repetir outra vez. Por favor.

- Não posso. - ele levou a mão até a direção do carro e pegou as chaves - Tá vendo só Luzia, não vai dirigir assim.

Kai abriu a porta do carro e saiu em direção a caminhonete antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Eu tinha duas opções, ficar ali e não ir embora ou correr atrás dele, me molhar toda e pegar minha chave. Optei pela segunda e corri para alcança-lo.

- Kai seu filho da mãe! Devolve agora. - gritei.

- Vem pegar. - ele disse e entrou na caminhonete.

- Você só pode estar de brincadeira!

- Entra aí.

Sem opções abri a porta e sentei no banco de couro já pensando em como Michael ficaria bravo quando descobrisse que molhamos toda a caminhonete por dentro.

Doce tentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora