D O I S

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Luzia

Quando eu acordei não sabia como eu havia chegado no meu quarto, eu tinha leves e distantes lembranças do que aconteceu na noite passada, mas não me lembrava como tinha vindo parar aqui. Levantei da cama com dificuldade, minha cabeça parecia que ia explodir. Em três anos de faculdade aquela tinha sido a primeira vez que eu ficava bêbada de verdade, parece que misturar coquetéis cor de rosa com drinks não era dava muito certo. Peguei o celular e haviam quatro ligações perdidas, uma de Kai, duas de Melanie e uma de minha mãe. Acho que eu nunca tinha dormido tanto na minha vida, já que era uma hora da tarde. Na verdade provavelmente eu tinha dormido o tanto normal de todos os dias, só que eu tinha ido dormir muito tarde. Mas tarde que horas? Fui até a sala com dificuldade sentindo todo o meu corpo doer e encontrei Kai sentado no sofá super concentrado no Xbox.

- Bom dia. - ele disse sem olhar para mim.

- Bom dia. - ele olhou para mim e fez uma careta.

- Quer um remédio?

- Não precisa, eu sei me virar.

- Se soubesse não estaria de ressaca.

- Que? Quem está de ressaca? Você? Só pode ser, porquê eu estou ótima!

Ele foi até a cozinha e voltou com um copo de água e um comprimido, depois de me entregar ele sorriu debochado. Resolvi não discutir, bebi o remédio e me sentei ao lado dele.

- Kai.

- Luz.

- A gente precisa conversar.

- Sobre o que?

- Sobre você.

- Fala.

- Você não pode mais jogar essa porcaria, tira essa merda da minha TV que eu quero ver minhas séries. - ele me olhou e riu, ri junto, não consegui ficar séria.

- Sério? - ele perguntou.

- Mas é claro.

- Seu desejo é uma ordem. - ele disse mas não se moveu.

- Na verdade eu queria falar sobre outra coisa. - ele me olhou e eu continuei - Devíamos parar de brigar, de competir, você é um irmão para mim Kai. Eu sinceramente não quero passar todo o meu tempo vivendo essa guerra, e você ainda vai ficar aqui por mais um ano.

- Você sabe que ter essa conversa outra vez não vai mudar muita coisa, não sabe? Mas eu vou tentar ao máximo diminuir isso, irmãos brigam mesmo, é normal.

- Kai, nós não somos mais crianças, para de ser ridículo.

- Tudo bem, você tem razão. Em paz?

- Em paz. Agora vai, tira isso.

- Você não deveria me obrigar a tirar, você vomitou no meu carro, se lembra?

- Foi você quem me trouxe?

- E quem seria? A Melanie estava mais bêbada que você, mas pelo menos ela não vomitou no meu carro.

- Então você trouxe nós duas?

- Sim, ela tá lá no meu quarto. Dormi no sofá, acredita?

- Fico até orgulhosa.

- Você me deve uma. Ah, meu pai ligou, querem saber se vamos pra lá esse final de semana?

- Você não ia pra casa da sua... Da Jéssica?

- Você tá doida?

- Você disse isso ontem.

- Eu mudei de ideia. O que eu falo pra ele?

- Eu não vou, meu carro tá na oficina.

- Se for este o problema eu te dou uma carona.

- Você enlouqueceu de vez. Primeiro que eu não aguentaria ficar três horas no mesmo local que você, e segundo, olha a hora que é, não quero gastar dinheiro indo pra lá e voltar em menos de 24 horas.

- Se você não vai eu também não vou.

- Tá grudado em mim, Kai?

- Fala sério, seria um tédio.

- Aposto que a Camilla adoraria tirar você do tédio.

- Ah, não obrigado, ela meio que já perdeu a graça para mim.

- Que pena, pensei que iria ficar com o apartamento só para mim.

- Não vai ser desta vez. O que houve com aquela lata velha que você chama de carro?

- Problemas no freio, e não vem falar mal do meu carro não, tá bom?

- Mas é uma lata velha mesmo, quer que eu minta?

- Quer que eu arranque seus dentes?

- Eu gosto dos meus dentes. E a propósito, o que o Théo fez com você ontem?

- Nada de mais.

- O que aquele desgraçado fez, Luzia?

- Cadê o nosso combinado, nada de você se metendo na minha vida. O Théo é problema meu.

- Eu não combinei nada disso.

- Não importa, eu não quero você achando que manda em mim.

- Se você não me contar eu juro que vou agora mesmo atrás dele, e eu vou bater nele até ele me contar o que falou pra você ontem.

- Menos Kai, ele só não queria sair da minha frente.

- Eu não acho que tenha sido só isso, você deveria se afastar dele.

- Eu já me afastei, e eu sei me defender.

- É, eu vi. Ele tem quase três vezes o seu tamanho e foi parar no chão só com um esbarrado.

- Imagina o que eu não faço com você, então, não se meta na minha vida.

- Eu só não gosto de pensar na ideia dele infernizando sua vida outra vez.

- Obrigada por se preocupar, mas eu realmente sei me defender.

- Você tá com fome?

- O que você acha?

- Panqueca ou torrada?

- Os dois. Vou acordar a Melanie.

Théo é o meu pesadelo real, a pessoa que eu mais odeio e que se morresse não faria falta nenhuma. Tínhamos um passado sombrio, Kai sabia de pouquíssimas coisas, mas isso era o suficiente para dividirmos o ódio por ele.

Fui até o quarto e encontrei Melanie dormindo, abri as cortinas para clarear o quarto e me joguei na cama ignorando qualquer tipo de dor que eu estava sentindo. Isso fez com que eu tivesse uma dor insuportável na cabeça, gemi de dor, o que fez Melanie acordar.

- Eu não acredito que você me acordou. - ela disse com dificuldade, provavelmente estava bem pior que eu.

- Bom dia, Melanie.

- Caralho Luzia é sério?

- O que?

- Me deixa dormir.

- Melanie você tá no quarto do meu irmao, você precisa levantar, já que quer dormir vai lá pro meu quarto.

- Sua cama não tem o cheiro dele.

- Ainda bem.

- Ah Luzia para de se fazer de difícil, assume que ele é uma graça.

- Você ainda tá tonta, só pode ser. Levanta daí.

- Tá bom, chata!

Logo depois de tomar café da manhã Melanie foi embora, tirei a tarde para organizar meu armário e meus livros.





Doce tentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora