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Sabe aquela sensação de controle? É assim que eu me sinto agora. Respiro fundo, observando aquele mar de gente se alongando e sorrio.

Foram longos dias de um treinamento exaustivo, onde tive que reaprender a respirar, pisar no chão e principalmente ter condicionamento físico para encarar o desafio.

Renan está se aquecendo um pouco longe de onde estou, e algumas garotas se aproximam dele. Segundo uma amiga nossa, o fim da puberdade lhe fez bem. Eu não consigo enxergá-lo assim. Nos seus um metro e oitenta, cabelos castanhos curtos, grandes olhos pretos e pele clara. O Renan não passa de um garoto estabanado e cheio de vida, que me coloca nas piores roubadas do mundo.

Ele é meu melhor amigo, cúmplice, somos inseparáveis. É difícil descrever em palavras, o quanto eu o amo e o quanto ele é importante para mim. Eu sabia, desde o dia em que ele me defendeu de alguns garotos no playground do prédio em que morávamos, que ele se tornaria muito mais do que um amigo.

- Está pensando em desistir, Clarinha? - ele se aproxima.

- Eu não, você está?

Renan nega com a cabeça e aponta para as pessoas na nossa frente.

- Você está fazendo aquela cara - ele diz.

- Qual delas? - tento fazer cara de nada.

- Se perguntando de quem foi a ideia - me provoca com um sorriso

Riu, ele tem razão, mas dou de ombros, como se não me importasse, mesmo sabendo que a ideia foi dele.

- Eu realmente não sei de quem foi a ideia - Raquel, irmã do Renan, se aproxima - Mas não estou a fim de ficar no sol enquanto os bonitos correm. Depois que derem a partida, vou ficar na biblioteca da cidade.

- Nerd! - ele provoca a irmã.

- Calado, Renan.

Raquel tem vinte dois anos, é cinco anos mais velha que o Renan e eu, e a nossa motorista oficial, desde que o que quer que façamos seja no fim de semana. Normalmente o namorado dela, Daniel, nos acompanha, mas ele está viajando a trabalho.

- Clarinha, se ganhar dele, te dou aquele livro que você quer - Raquel pisca para mim - Boa sorte.

Vamos para os nossos lugares, observo o Re, orgulhosa por nós dois.

Seguimos para onde foi nos indicado, faltando pouco tempo para começar a meia maratona. Era uma preparação, acima de tudo, mas treinamos muito para tentar chegar pelo menos entre os 50 primeiros.

Durante os treinos nunca ganhei ou cheguei perto de ficar na frente do Renan, a menos é claro que ele deixasse e isso raramente acontecia. Ele é extremamente competitivo e acha que me deixar ganhar não é motivo para me orgulhar. Diz que não há glória na trapaça. As vezes eu concordo, as vezes não.
- "Há uma magia em tentar superar os próprios limites..." - Renan sorri para mim.
- "É a sensação de arriscar tudo por um sonho". Fácil. Menina de ouro. Te vejo na linha de chegada.

- "Siga o coelho branco, Alice."
- Você é o coelho branco? Porque essa é uma péssima analogia. A pior.
Renan ri e faz sinal para eu prestar atenção na largada. Assim que começamos a correr, já sou deixada para trás, acelero o ritmo para não perdê-lo de vista. Sabia que em algum momento isso aconteceria, mas eu tinha algo a provar.

Noto o Renan desacelerando, estranho, mas talvez seja ele com pena de mim.

- Não vale me deixar ganhar, coelho - passo por ele com um sorriso no rosto, mas Renan não diz nada e nem está sorrindo.

Olho para trás rapidamente e vejo que ele deixou de correr e passou a andar. Paro a alguns metros de distancia sem entender o que está acontecendo.

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