Os planos de acordar cedo foram para o ralo, minha cama está tão confortável, que eu decido correr mais tarde. Bem, isso se a campainha parar de tocar.
– Juliana, tenho certeza que é para você! – grito do quarto – Mãe!
Sem resposta. Levanto e passo no quarto dela, ela já saiu. Ou será que nem voltou?
Corro para a porta e dou de cara com meu pai.
MERDA!
Meu pai, é a pessoa mais amedrontadora que eu conheço. Ele é um ótimo pai, mas convenhamos, mas seus quase dois metros de altura assustam.
– Pai – sorrio – O que faz aqui?
– Bom dia, Ana Clara – ele não sorri de volta, novidade – Cadê a sua mãe?
– Foi... – olho em volta procurando uma desculpa e vejo meus tênis atrás da porta – Foi correr – engulo seco, ciente de que ele não vai cair nessa.
– Sua mãe?
– Estou tentando colocar hábitos saudáveis na vida daquela mulher – dou de ombros – Quer entrar?
Então, quando ele entra eu a vejo. A mondrasta. Meu pai trouxe a nova mulher, na casa da ex e da filha. Se superou, hein pai!
– Oi, Clara – ela diz sem jeito.
– Só meus pais me chamam assim – tento não parecer má educada. #Fail.
– Claro, me desculpa.
– Pai – dou as costas para a mondrasta irritada – minha mãe não está, é só com ela a conversa?
– Com vocês duas na verdade. – ele está distraído olhando ao redor. Não conhecia a casa nova.
Depois que eles se separaram, minha mãe não achou necessidade em morar em um apartamento tão grande, então nos mudamos para uma casa, ela nunca gostou de apês. Mamãe queria voltar para a casa da vovó, mas é longe demais do Renan e eu surtei com a ideia.
Meu celular toca e eu faço sinal para eles esperarem. É a minha mãe.
– Oi, Jessi – sorrio para meu pai que me encara.
– Esse carro estacionado na frente de casa por um acaso é...
– Sim!
– Aaaah não! – ela geme.
– Pois é, minha mãe foi correr.
– Fala sério, Clara! Seu pai acreditou nisso?
– Acho que não. Você está tão encrencada! – eu não consigo parar de rir – Por que não vai tomar café da manhã e então eu ligo para você quando minha mãe voltar? Tenho que pedir antes de sair.
– Está se divertindo muito as minhas custas, né?
– Aham! Bom dia Jéssica – desligo o telefone.
– Achei que não fosse desligar – meu pai resmunga.
– Você conhece a Jéssica. – dou de ombros.
– Sua mãe me falou do Renan, como ele está?
– Você e minha mãe ainda conversam?
– Somos civilizados Ana Clara.
Ele está impaciente. Uma característica do meu pai. A mondrasta está olhando para as mãos, enquanto meu pai fica batendo o pé e olhando no celular. Aí está o motivo da minha mãe odiar barulhos irritantes e celulares.
– O Renan está bem e minha mãe vai demorar a voltar. – a impaciência dele está me atingindo – Por que não voltam outro dia, com horário marcado, para sermos uma grande família civilizada?
– Eu estou grávida! – a mondrasta dispara e me encara para ver minha reação.
– Ah – levo alguns minutos para processa a informação – Era isso que vocês vieram fazer aqui? Esfregar na cara da gente que vocês estão muito felizes, obrigada?
– Não, Ana.
– Corta essa pai! Minha mãe não precisa disso.
– Nós queríamos que soubessem por nós dois. A Pâmela faz questão que você esteja presente na vida do seu irmão.
– A Pâmela faz questão? A Pâmela? – eu estou tão nervosa que poderia gritar – Já deu seu recado pai. Pode ir embora agora.
– Não pense que só porque está irritada tem o direito de falar comigo assim! Cade a sua mãe?! – não sou capaz de dizer quem está mais bravo.
– Ela não está aqui! Sorte a dela! – estou gritando – Pai, eu vou encontrar a Jéssica agora, tem mais algum recado que queira me dar?
– Peça para sua mãe me ligar e arrume suas malas. Fim de semana que vem você vai para minha casa.
– Eu não vou – digo pausadamente para que ele entenda.
– Isso nós vamos ver.
Mondrasta Pâmela deixa a casa primeiro, meu pai fica, com certeza vai gritar comigo agora que a querida saiu.
– Clara, eu sinto muito – ele se aproxima – Sinto muito que não tenha dado certo com a sua mãe, sinto muito que as coisas pareçam estranhas agora, mas eu espero que possamos...
– Ser civilizados? – estou controlando minha vontade de chorar, mas assim que meu pai dá dois passos em minha direção e me abraça, as lágrimas saem com uma velocidade espantosa.
– Peça para Juliana me ligar – ele beija o topo da minha cabeça antes de sair.
Mando uma mensagem para minha mãe dizendo que o caminho está livre. Ela devia estar próximo, pois cinco minutos depois entra em casa e me encontra no sofá, abraçando minhas pernas.
– O que seu pai queria dessa vez? – pergunta ao ver minha expressão – Ana?
– Ela está grávida, mãe.
– Pâmela?
Minha mãe se senta ao meu lado e só precisa me abraçar para a choradeira voltar. Eu não queria agir assim. Eu sei que eles nunca mais voltariam, mas ele não vai ser só o meu pai agora. Vai ser pai de outra criança, que talvez ele ame mais que a mim. Afinal, ele nos abandonou.
– Clara, seu pai não te abandonou. – Só quando minha mãe diz isso, eu noto que disse em voz alta – Ele te ama e você sempre vai ser a garotinha dele.
– Eu odeio a Pâmela.
– Está a chamando pelo nome. Já é alguma coisa! – ela dá tapinhas no meu ombro, numa tentativa de me consolar.
– Você é péssima nisso – me endireito no sofá, secando o rosto com as mãos – Agora me conta. Quão bom foi seu encontro?
– Quem disse que foi bom?
– Mãe, olha o horário que você chegou. – reviro os olhos – Ele te levou para jantar, então vocês decidiram que só o jantar não era suficiente e decidiram tomar café da manhã juntos?
– Não vou discutir isso com você! – ela se levanta.
– Hoje tem uma festa na casa da Jéssica. Posso dormir lá? – Decido arriscar, já que ela está de bom humor.
– É claro que não. Você pode ir, mas te quero em casa meia-noite.
– Muito cedo.
– Uma e meia e não se fala mais nisso. Se precisar, pode pegar dinheiro para o táxi.
Pego meu celular e noto que recebi uma mensagem de um número desconhecido.
Número Desconhecido: "Tudo bem por aí?
Desculpe entregá-la tão tarde."
EU: "Tarde? Você quer dizer cedo?"
Salvo o número do Rafael no meu telefone.
Rafael: "Quero dizer que sinto muito"
EU: Tem sorte por eu gostar de você!
Rafael: Isso é bom. Fico te devendo uma.
EU: Tá me devendo um pouco mais que isso! Rs
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Fiksi RemajaAmigos desde que se lembram, dois adolescentes passam por toda a transformação da fase. Problemas, festas, amizade, ciúmes e uma doença que não estava nos planos. Do primeiro amor a superação . É tudo o que esses amigos vão experimentar nessa jornad...