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Encontro com o Flávio depois da escola. Ele sugere que vamos ao shopping comer e é a primeira vez que não vamos comprar o lanche e comer no carro. Não que eu não goste dele querer ser visto por aí comigo, mas tinha alguma coisa emocionante no escondido.

– Vai no show desse fim de semana?

– Farei o possível.

Flávio entrelaça os dedos nos meus e eu sinto um frio percorrer a minha espinha. Tento controlar minha vontade de sorrir e sair dançando. Estamos saindo a quase duas semanas e ele não me pediu em namoro, então não sei o que somos, mas a sensação de andar de mãos dadas é bem legal.

– Está mais quieta que o normal.

– Briguei com o Renan hoje mais cedo – dou de ombros, sem querer fazer disso grande coisa, mas odeio brigar com ele.

– Quando eu perguntei a primeira vez, você disse que eram só amigos. O Renan sabe que são só amigos?

– O que é isso, ciúmes? – paro de andar e fico de frente para ele.

– Talvez seja, você sempre fala das coisas que fazem juntos e... não entendo essa amizade.
– Somos amigos há muito tempo, não tem que se preocupar com isso.

Paramos na fila para fazer o pedido.

– Ana Clara Cândido, o que você está fazendo aqui?

Assim que ouço a voz da minha mãe, sinto minhas pernas bambearem. São três segundos antes de me virar em sua direção, mas eu já estou me crucificando por ter sido tão distraída. Minha mãe sempre almoça no shopping com os clientes da agência. Eu sabia dos riscos que corria e ignorei.

– Oi, Juliana – Flávio sorri para minha mãe, mas ela não tira os olhos de mim.

– Mãe.

– Se despede do Flávio, que eu vou deixá-la no curso.

– Eu posso deixá-la...

– Flávio, não! – é tudo o que ela diz.

– Mãe! – digo entre mortificada e envergonhada.

– Você tem cinco minutos para me encontrar ali – aponta para uma mesa, em uma parte vazia da praça de alimentação, onde tem um homem sentado.

Assim que ela se afasta eu me viro para o Flávio. A primeira vez em que começamos uma conversa de verdade e tudo é arruinado. Obrigada, mãe!

– Eu vou falar com ela.

Flávio não diz nada e sinto que meu coração não vai aguentar se ele me der um fora agora. Ele enfia as mãos no bolso da calça, olhando para os lados.

– Te ligo mais tarde para saber como foi – ele pisca antes de se afastar.

Mantenho uma distancia da minha mãe e o que acho ser um cliente, mas ele sorri e se levanta quando me vê.

– Você deve ser a Ana Clara. – estende a mão para mim – Sou o Rafael.

Ele é alto e magro, os cabelos são pretos com alguns fios grisalhos. Fico me perguntando se são dele ou foi pintado para lhe dar esse ar de responsável, que acompanhados por olhos verdes que devem fazer um estrago na vida das mulheres por aí. Seu terno parece ter sido costurado no corpo de tão bem que ficavam nele. Noto tudo isso enquanto apertamos as mãos.

– Prazer. Você é cliente da agência?

– Sou sim – diz seguro. – Por que não se senta e almoça conosco?

– Estou atrasada para o curso, não é mãe?

Minha mãe me encara sem dizer nada.

– Me desculpa mais uma vez Rafael – ela pega a bolsa – Prometo que de amanhã não passa, já estou atrasada com a campanha e isso não tem desculpa.

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